Washington, Estados Unidos, 8/1/2013 (IPS/EurasiaNet) – A China está cada vez mais ativa na Ásia central, construindo gasodutos e lançando grandes projetos de infraestrutura, bem como expandindo sua presença diplomática e cultural. Ao mesmo tempo, Pequim incrementa seu controle sobre a província de Xinjiang, fronteiriça com as antigas repúblicas soviéticas, criando também ambiciosos projetos de desenvolvimento, promovendo o assentamento do maior grupo étnico chinês, os han, e contendo agressivamente todas as expressões de nacionalismo do povo uigur.
Entretanto, parece difícil definir a principal motivação por trás destas políticas. Analistas que estudam a atividade chinesa na Ásia central diferem sobre qual é o maior interesse de Pequim na região. Uns afirmam que seus esforços para pacificar Xinjiang têm o objetivo de convertê-la em uma plataforma segura a partir da qual expandir-se economicamente. Outros afirmam o contrário, que Pequim, na realidade, procurar criar laços para atrair para Xinjiang o resto da China e dessa forma fortalecer o país para o interior.
Os projetos chineses mais notáveis na Ásia central são gasodutos, especialmente o que liga o país com o Turcomenistão. A China também trabalha para melhorar as redes de transporte na região, construindo novas estradas e túneis, por exemplo no Tajiquistão. Além disso, concedeu empréstimos a juros baixos para países da Ásia central por conta da última crise financeira internacional, ao mesmo tempo em que fortaleceu os laços educacionais e culturais.
No entanto, a meta de Pequim com estes projetos continua sendo nebulosa. Até agora, a Ásia central era uma baixa prioridade para o governo chinês, e sua política para a região era pragmática, baseada em acordos entre companhias ou órgãos governamentais, disse Alexandros Petersen, analista do Centro Woodrow Wilson. “Não existe uma grande estratégia para a Ásia central por parte de Pequim. O que existe é uma confluência de todas as atividades desses atores variados. Isto faz com que a China se converta no ator mais consequente da região”, afirmou.
Em certa medida, os vínculos da China com a Ásia central se assemelham aos que constrói com a África e a América Latina, com forte ênfase na extração de recursos. A política de Pequim em relação à Ásia central “pode ser um reflexo da mais ampla estratégia chinesa para o mundo exterior, que implica a obtenção de recursos naturais e muito comércio”, opinou, por sua vez, Sean Roberts, professor da Universidade de Washington. E a Ásia central é perfeita para esse objetivo, acrescentou, considerando que é rica em recursos e representa o primeiro passo na rota que a China construir para comercializar com o Ocidente.
Entretanto, outros analistas sustentam que o interesse na extração de recursos é secundário, e que Pequim, na verdade, é movida pela necessidade de pacificar Xinjiang. Para Kilic Kanat, especialista político da Universidade da Pennsylvania, “naturalmente a instabilidade do Turquistão Oriental (Xinjiang) é o mais importante, tanto para atrair investimentos estrangeiros diretos para a região como para proporcionar um terreno seguro para o comércio e as interações econômicas”. Segundo Kanat, “a estabilidade da região também contribuirá para a estratégia econômica mundial da China, mas, eles entendem que primeiro devem colocar a casa em ordem”.
Kanat afirma que os esforços para pacificar Xinjiang, e dissipar todo movimento separatista ali, têm por objetivo promover o desenvolvimento econômico. Porém, não funciona de acordo com o previsto por Pequim em razão de as demandas dos uigures terem a ver com direitos culturais e políticos, mais do que econômicos. Além disso, em todo caso, o desenvolvimento econômico somente ampliou a brecha de riqueza entre os uigures e os han, acrescentou o especialista.
Kanat, Peterson e Roberts participaram no dia 13 de dezembro do encontro “A China na Ásia meridional, central e sudeste”, realizado na Universidade de Washington, na capital norte-americana. Envolverde/IPS
* Joshua Kucera é escritor radicado em Washington especializado em temas de segurança na Ásia central, no Cáucaso e no Oriente Médio. É editor do blog The Bug Pit, da EurasiaNet, onde este artigo foi publicado originalmente.
(IPS)