O Sol resgata área rural de Camarões

sol O Sol resgata área rural de Camarões
Numfor Jude instala paineis solares na aldeia de Sabongari, em Camarões. Foto: Monde Kingsley Nfor/IPS
Bamenda, Camarões, 13/11/2012 – Na pequena aldeia agrícola de Sabongari, noroeste de Camarões, o querosene para alimentar lampiões e a gasolina para fazer funcionar geradores elétricos foram substituídos por algo muito mais barato e limpo: a luz do Sol. Em uma parte da aldeia, de dois mil habitantes e a 700 quilômetros de Yaundé, grandes painéis solares se inclinam para o Sol. Formam uma minicentral de energia solar que abastece a rede elétrica da localidade, oferecendo um panorama incomum para a área rural de Camarões.
A rede fornece eletricidade 24 horas por dia a 30 residências, entre elas a de Ndzi Samuel, uma professora primária, bem como para três pequenos comércios e um hotel. “Agora meus filhos podem ler com boa luz, e eu posso usar o telefone celular sem problemas, embora também tenhamos uma baixa cobertura da rede”, contou Ndzi à IPS.
Antes da instalação dos painéis, em 2011, esta aldeia dependia de três geradores elétricos, propriedade de empresários. Isto permitia às poucas pessoas com telefone celular recarregá-los, mas os geradores elétricos não eram confiáveis e costumavam causar curto-circuito. “Perdi três celulares devido às sobrecargas elétricas de um gerador. Mas com os painéis solares posso carregar facilmente meu telefone e permanecer conectado”, explicou um aldeão.
Embora seja possível que esta nação da África central tenha a segunda maior produção hidrelétrica na região subsaariana (atualmente 103 terawatts/hora ao ano), apenas 30% de seu potencial é explorado, segundo a Associação para a Energia Renovável e a Eficiência Energética. Além disso, o acesso a eletricidade nas áreas rurais é baixo.
Segundo o Banco Mundial, dos estimados 20 milhões de habitantes do país, cerca de 8,1 milhões vivem em áreas rurais, e apenas 14% deles têm acesso a eletricidade. É uma enorme disparidade se comparado com o acesso a esse serviço em áreas urbanas, onde atende entre 65% e 88% da população. O governo incentiva o uso de painéis solares para gerar eletricidade. Em 2011, foi aprovada uma lei que exonera os importadores de equipamentos do imposto sobre valor agregado (IVA) no ano financeiro 2012.
“A energia solar é uma boa oportunidade para todos na África, cuja localização no nível do Equador torna este continente o mais ensolarado do mundo”, afirmou Asanji Nelson, engenheiro especialista em energia renovável do Ministério de Minas, Energia e Recursos Hídricos (Minee).
Entretanto, chegar às áreas rurais com esta fonte de energia ainda é um desafio, porque os custos dos painéis solares continuam inacessíveis para os pobres dessas zonas, que dependem da agricultura de subsistência. Uma olhada nos preços do mercado mostram que os painéis domésticos custam entre US$ 400 e US$ 10 mil. “O custo final de um painel solar ainda é um impedimento importante para os aldeões. Em Camarões, as empresas não têm como objetivo os pobres das áreas rurais, pois estes não podem pagar seus preços”, explicou Nelson à IPS.
Dados do Minee indicam que no país há mais de 25 empresas registradas que vendem painéis solares, mas a maioria delas tem foco em empresas e moradores das cidades. A Companhia de Energia Solar de Camarões também fornece energia sustentável à população, mas abastece principalmente uma clientela urbana que adquire painéis solares como suporte, caso haja um apagão geral. Em sua maior parte, tomam por objetivo outras empresas que utilizam painéis solares para operações de negócios, disse à IPS o diretor gerente, Tebo Vincent.
A Energie Cameroun é outra firma do ramo com sede em Yaoundé. Vende equipamentos solares e também instala lâmpadas solares nas ruas de comunidades rurais. “Temos nossa sede na cidade porque ali contamos com melhores clientes do que nas aldeias. Mas também trabalhamos em aldeias quando nos contratam para instalar os painéis. Entretanto, nossos clientes confiáveis são moradores de cidades”, disse à IPS o diretor comercial da empresa, Haman Sani.
“As comunidades rurais precisam de nossos produtos, mas os custos de toda a cadeia são altos: importação, impostos, transporte e instalação determinam o valor final de nossos produtos. Para cobri-los e ter lucro tratamos principalmente com empresas e missionários que possam pagá-los para escolas e hospitais comunitários”, explicou Sani.
A Renewable Energy Innovators (REI) conseguiu instalar painéis em Sabongari e outras dez aldeias rurais, graças a financiamento internacional. Numfor Jude, presidente e cofundador da REI, informou que a Wireless Light & Power, uma organização canadense que trabalha para melhorar as vida dos habitantes de zonas rurais, os apoia fornecendo material e recursos financeiros para que a empresa se desloque até as aldeias rurais e importe os painéis solares. “Vamos a comunidades distantes, apresentando a fonte de energia solar aos aldeões, praticamente sem custo”, destacou Jude à IPS.
Em Sabongari, os custos de instalação da minicentral solar foram mínimos. “Os aldeões estão unidos por seu problema comum de falta de eletricidade. Mostraram interesse no projeto conseguindo o dinheiro que cobre o custo parcial da instalação. Cada família contribuiu com US$ 25, e as empresas pagaram US$ 100. Espera-se que cada um pague sua cota mensal de US$ 1, a título de manutenção”, acrescentou Jude. Um morador de Sabongari disse à IPS que “é como ser resgatado de uma escuridão sem fim. Podemos carregar nossos celulares e fazer ligações para outros lugares a qualquer momento”.
Weriwu Godfred, diretor de um programa governamental de iluminação solar em vias públicas, implantado há cinco anos em Yaoundé, afirmou à IPS que “o equipamento solar continua sendo apenas para os ricos e está além do alcance do camaronês comum, apesar de atualmente o IVA não ser cobrado”. A ele preocupa que a maioria das comunidades tenha rádios rurais mas que as audiências não contem com energia para alimentar os aparelhos receptores. “É ainda mais sustentável administrar rádios rurais e comunitárias com energia solar, que representa menor risco para os humanos e os equipamentos”, ressaltou.
Enquanto isso, os camaroneses estão cada vez mais preocupados pela escassez de eletricidade e pelos cortes de luz, o que tornou a energia um assunto político e econômico de crescente importância. O aumento do preço do petróleo, o maior consumo mundial de energia e a preocupação com o meio ambiente intensificam o interesse pelas fontes renováveis. Os objetivos de desenvolvimento de Camarões no contexto do programa Visão 2035 preveem investimentos significativos no setor. “Camarões depende de aproximadamente 30 envelhecidas centrais a diesel como apoio para sua rede hidrelétrica, o que significa que nossa fonte hidrelétrica não é totalmente limpa”, destacou Nelson. Envolverde/IPS
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