Infância: Teatro ajuda a enfrentar conseqüências da violência

Japão, 24/08/2007(IPS) - O teatro pode ajudar meninos e meninas a enfrentar as conseqüências da violência sofrida em ambientes de conflito, afirmam diretores, especialistas e ativistas reunidos nesta cidade japonesa.  

Vários especialistas que trabalham em zonas de conflito se reuniram em Okinawa por ocasião da Kijimuna Festa, festival internacional de teatro de duas semanas, para compartilhar experiências sobre assistência a vítimas de abuso infantil. Desde especialistas palestinos até psicólogos que tratam casos de abuso infantil no Japão concordaram que a arte, em geral, e o teatro, em particular, aliviam o sofrimento das crianças.

"Ao assistirem obras ou atuarem nelas e narrar histórias, as crianças revivem a tragédia sofrida", disse Marina Barham, responsável da companhia teatral palestina Alharah. "O teatro lhes proporciona um contexto onde imaginar uma solução para seus problemas e a oportunidade de enfrentar e aliviar seu trauma". Esta companhia de teatro de 12 integrantes trabalha com pessoas que vivem condições de opressão. As crianças sofrem a violência diária por causa do conflito com Israel, da pobreza e do escasso desenvolvimento. Okinawa, onde aconteceu a Kijimuna Festa, realizada desde 2003, oferece um ambiente propício para essa mensagem de paz.

Esta ilha, com 1,22 milhões de habitantes, sofreu no final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) a morte de um em cada cinco de seus habitantes, quando seu território concentrou a batalha entre os exércitos japonês e norte-americano. As conseqüências desse episódio ainda persistem em Okinawa e em todo o arquipélago de mesmo nome, onde a presença contínua de militares dos Estados Unidos implica desde então enfrentamentos permanentes com a população civil. Kijimuna Festa se dedicou este ano a analisar o papel da arte e do teatro com ferramenta para que as crianças enfrentem suas tragédias, devido à crescente insegurança mundial, explicou o diretor do festival, Hisahi Shiroyama. Kijimuna é o nome de um duende mítico de Okinawa que simboliza a paz.

"O problema não se limita a países em guerra. As crianças são vítimas de agressão de adultos em diversas formas. A crescente delinqüência infantil também poderia ser considerada conseqüência da violência social que elas sofrem", explicou Shiroyama à IPS. O abuso infantil disparou no Japão até atingir 37.343 casos no ano passado, número sem precedentes. A delinqüência de menores de idade também aumentou, com mais de 113 mil detenções por ano, o que incentivou a aprovação de uma nova lei pela qual meninos e meninas de apenas 12 anos podem ser colocados em um reformatório.

Psicólogos explicaram no seminário como a atuação ajudou crianças traumatizadas a quebrarem a camada de dor que os imobilizava. "Tomamos o problema da violência dos pais como argumento central de uma obra. Ao apresentar o drama, a vítima toma consciência do que ocorre ao seu redor", contou Naoko Nomura, especialista em crianças com problemas. "Ao final nos damos conta de que na medida em que a criança compreende as razões por trás do abuso se torna mais segura e encontra formas de lidar com isso", acrescentou. Os especialistas também advertiram para o uso excessivo da estética em questões sociais porque, segundo Nicola Zceineh, da Croácia, pode combater o objetivo do teatro. "Embora a educação seja o grande objetivo do teatro, o meio não deve esquecer o fim original: criar um ambiente para que os menores possam imaginar e descobrir seus próprios sonhos. Os artistas não são terapeutas", acrescentou.

A especialista japonesa em educação dramática Toyoko Nishida afirmou, por sua vez, que o teatro para crianças do Japão pretende projetar um mundo fantástico e não lidar com a realidade, que as impede de utilizar emocionalmente sua imaginação para enfrentar uma crise social, explicou Nishida. "O ensino artístico para crianças tende a estar vinculado com relatos tradicionais e bons costumes, derivados de valores históricos japoneses, segundo os quais os menores não são pessoas com direitos propriedade de seus pais", disse a especialista. Nishida lidera um movimento que pretende convencer os país a não apoiarem os elencos que levam problemas sociais ao teatro infantil e permitem que as crianças se envolvam.

A Convenção dos Direitos da Criança, aprovada pela Organização das Nações Unidas, ratificada pelo Japão, defende o direito de expressão das crianças, o qual constitui um fator-chave para o movimento. Um informe da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) sobre o futuro dos meios de comunicação e da educação também descreve a importância de incluir a educação estética nos programas escolares. Nishida concentra seu trabalho em pressionar por um aumento nas horas dedicadas à educação artística nas escolas com esses argumentos, contra a tendência atual de impor programas de ensino rígidos.

Em um contexto de guerra, Barham, da Palestina, relatou sua experiência em teatro infantil e disse que a representação de uma obra contribui para que meninos e meninas valorizem conceitos como humanidade e paz, apesar de viverem em um contexto violento. A obra "Nostalgia do mar" mostra um grupo de crianças na Palestina que sonham em ir ao litoral apesar da ocupação israelense. A representação, com canções e danças, lhes permitiu converter esse sonho em realidade. "O teatro proporciona uma oportunidade para que as crianças oprimidas deixem sua imaginação voar e sentirem que controlam suas vidas, o que lhes permite pensar e desenvolver um pensamento político próprio", explicou Barham à IPS. (IPS/Envolverde)

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