Observada friamente, a iniciativa é como tantas outras que organizam institutos binacionais, agências de notícias e outros órgãos de propaganda cultural, para fazer publicidade de seu país de origem, apresentando materiais audivisuais, livros, pinturas, etc., que sejam de interesse dos cidadãos do país hospedeiro.
É uma parte habitual da diplomacia agradar a pessoas de sua diáspora e ao mesmo tempo, interessar os nacionais (neste caso, os brasileiros) com coisas "lindas" de sua terra (neste caso, a Itália).
Um fato interessante é que o parlamentar Fabio Porta, que representa os ítalo-latino-americanos, aprovou a escolhas das fotos porque disse que "mostram as coisas boas e as ruins".
Isso parece muito razoável. Chama-se: objetividade, imparcialidade, neutralidade... e têm alguns outros nomes nobres.
O problema é, entretanto, a que o parlamentar chama "bom" e "ruim". Se ambas as coisas são apresentadas como a mesma ênfase, deveria ser o público que coloque o rótulo moral à cada foto. Se não, perde-se a neutralidade.
Neste sentido, chama a atenção a ênfase que se coloca em fotos que mostram atos de protesto, críticas e outras exibições de barbárie, em relação com o caso Battisti.
Nessas fotos, há várias formas de agressão contra o estado brasileiro, dos quais, se supõe, os apresentadores estão recebendo hospitalidade.
Por exemplo, a micropasseata que protesta junto à embaixada brasileira em Roma, com um bando de facínoras reclamando contra o direito do Brasil de recusar a extradição de Battisti, deveria estar compensada por outras fotos que sem dúvida, a Ansa possui entre aqueles milhões que menciona.
Uma sugestão para a próxima: poderiam colocarar a foto de dois italianos que se confrontam com aquela ralé fanática e lhes dizem: "Vocês acham que o Brasil é uma colonia nossa? Estão enganados, é um país soberano como o nosso".
Goleiros abraçados no Mundial 1994: esta
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Claro que esta afirmação se escuta no filme e não na foto, mas, a mesma imagem fixa dos dois italianos questionadores seria interessante.
Aliás, em várias partes do país houve passeatas, bem maiores, em favor de Battisti. Exemplificando as "coisas ruins" que sem dúvida o digno parlamentar não deve gostar, poderiam ter colocado umadelas (a que tivesse menos pessoas, por exemplo), nem que fosse para simular imparcialidade.
Tampouco as fotos das "vítimas" parecem tão importantes, a ponto de serem incluídas num conjunto de apenas 250 fotos.
Se a mostra é tão pequena, seria bom não desperdiçar espaço com um assunto já encerrado. Talvez o curador pudesse ter escolhido fotos mais expressivas, como o corpo do adolescente Fredrerico Androvandi, barbarmente torturado pela polícia italiana, o massacre de Gênova durante a reunião dos G20, ou as barracas de ciganos, africanos e muçulmanos incendiadas por vândalos apoiados pela polícia e o exército italianos.
Por que não, signori, uma foto do parlamentar de Lega Nord, Mario Borghezio? Ele não é bonito, mas parece muito inteligente. Após o atentado de Breivik em Oslo ele disse que as idéias do matador massivo eram ótimas, e era uma resposta a provocação gerada pela mistura racial.
Transcorrido um ano e 20 dias desde o DEFINITIVO ENCERRAMENTO DO CASO BATTISTI, as provocações parecem coisas ingênuas, como de quem não quer aceitar a derrota. Também, podem ser maneiras de propaganda mais sutil, para tentarem manter vivo o ódio e o rancor das máfias peninsulares.
Por sinal, todas as línguas têm uma palavra própria para "vingança" (revenge, venganza, etc.), mas em quase todas elas se utiliza a palavra italiana VENDETTA. Por que será?
Se a sede de vingança da plutocracia peninsular e seus alcoviteiros não sossega nem durante os atos culturais, pode ser necessário sugerir que não devem iludir-se. Provocações podem ser ignoradas, ou comentadas como neste caso. Agressões reais (caso sejam cogitadas) podem produzir desfechos desagradáveis para todos.
*Carlos Lungarzo é professor titular da Universidade Estadual de Campinas