Brasil e China se tornam – cada vez mais – importantes parceiros comerciais.
Dois fatos ocorridos na mesma semana. Um em Brasília e outro na China. Do outro lado do planeta, o país que mais cresce no mundo tornou-se mais urbano que rural. Na capital federal, o Comitê de Política Monetária do Banco Central baixou para 10,5% a taxa de juros em sua primeira reunião do ano. Por mais estranho e incrível que possa parecer, o acontecimento mais distante fará mais diferença em nossas vidas do que o ocorrido no umbigo do país.
A queda de meio ponto percentual, a rigor, muda pouco o rumo de nossas dívidas pessoais. As mensalidades com juros ao mês pagas pela utilização de R$ 1 mil no crédito rotativo do cartão, por exemplo, caem de R$ 106,90 para R$ 106,50. Mas levar a Selic para a casa de um dígito seria um feito extraordinário para o governo Dilma, fato ocorrido pela última vez no governo Lula, em abril de 2010, quando atingiu 9,5%. Este percentual, segundo analistas, seria atingido – se chegarmos aos 10% na reunião do Copom de 7 de março – na sessão de 18 de abril. Até lá, ainda estaremos no topo do ranking de maior taxa de juros do planeta, deixando a Hungria no segundo lugar, segundo o IBGE.
A China, que já ocupa 100% de seu território agriculturável, precisa importar alimentos para saciar aquele povo todo. São mais de 1,347 bilhão de consumidores. Como somos uma potência agrícola – mesmo ocupando somente 15% de nossas terras produtivas –, os chineses se tornam grandes compradores, principalmente a partir destes dias em que se anuncia que lá as populações das cidades já concentram mais pessoas do que no campo. As melhores oportunidades de trabalho e salário nas grandes cidades mudaram o perfil daquele país.
Uma janela de oportunidades
Mesmo que os salários das grandes cidades de lá ainda não se comparem com os das outras metrópoles do mundo, é certo que a remuneração no campo é bem inferior. Daí o êxodo. Com mão de obra barata, os chineses conseguem exportar seus produtos a preços competitivos, mas continuarão dependentes de suas importações. É aí que o Brasil entra na história. Competidores ferrenhos no mercado internacional, Brasil e China se tornam – cada vez mais – importantes parceiros comerciais. Nossas exportações para este destino crescem a cada ano.
Em 2010, a China absorveu 15,2% das exportações brasileiras. Eram 2% em 2000. Os Estados Unidos caíram para o segundo posto no ranking de nossos maiores mercados. Dados do Banco Central mostram nosso saldo positivo na balança comercial com os chineses: o superávit é da ordem de US$ 5,2 bilhões. Na nossa pauta de exportações, as grandes estrelas são a soja, óleo de soja, minério de ferro e produtos siderúrgicos.
O caso da soja tem relevância. O item representou 27,19% de nossas exportações. O grão e seu óleo estão entre os alimentos mais apreciados naquele país e são usados na fabricação do shoyu, do óleo de cozinha e do tofu. No momento em que a Europa exibe um cenário sombrio e recessivo, cabe ao Brasil abrir esta janela de oportunidade num mercado que não para de crescer e surpreender.
Ao longo desta década foram muitos os economistas que anunciaram, aos quatro ventos, que a China ia quebrar. Estão caladinhos, comprando ações na Bovespa das empresas brasileiras que investem seu capital numa terra bem longe daqui.
* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.
(Opinião e Notícia)