Antecedentes: Zheng Fengtian, professor da Escola de Economia Agrária da Universidade Renmin, na China (Global Times, 13/4/11), fustiga “o monopólio dos cereais que o Ocidente exerce” e a “manipulação deliberada dos preços pelos especuladores internacionais” graças à desregulação de que gozam em Wall Street e na City, assim como nos paraísos fiscais (nomeadamente a Suíça): “não podemos depender apenas dos Estados Unidos (EUA) para resolver a crise alimentar global” nem das “quatro (sic) gigantes (sic) transnacionais”.
Não especifica quais, mas os leitores podem consultar os meus artigos sobre o “cartel anglo-saxão da guerra alimentar” e o seu “meganegócio” (Radar Geopolítico, Contralínea, 30/1/11). Fengtian adota a velha tese do Bajo la Lupa sobre a “guerra alimentar” que trava Washington para submeter o mundo: “no passado (sic), os EUA aproveitaram as vantagens do seu papel dominante no mercado global de alimentos para adotá-los como arma (¡supersic!) política”.
Atos: O mundo anglo-saxão cacareja vaziamente sobre a transparência e a prestação de contas, enquanto oculta simultaneamente as suas “dez gigantes (sic) transnacionais secretas (¡supersic!)” que “controlam a comercialização dos hidrocarbonetos e das matérias-primas”, segundo The Daily Telegraph (15/4/11). Como se não bastassem as depredadoras transnacionais (BP, Tepco, Schlumberger/Transocean, etc.) que estabelecem suas cotações desapiedadamente na bolsa!
Para além dos tenebrosos grupos da plutocracia – como o grupo texano Carlyle (ligado ao nepotismo dos Bush) e o inimputável Blackstone Group (controlado por Peter G. Petersen e Stephen A. Schwarzman, cujas façanhas remontam ao macabro recebimento dos seguros das Torres Gêmeas do 11/9) – The Daily Telegraph revela a identidade oculta das “principais dez transacionadoras globais de petróleo e matérias-primas”:
- Vitol Group: sede em Genebra e Roterdan, com resultados de US$ 195 bilhões na comercialização de hidrocarbonetos; a primeira petrolífera a exportar com pontualidade da região controlada pelos rebeldes na Líbia.
- Glencore Intl.: sede em Baar (Suíça), com resultados de US$ 145 bilhões em metais, minerais, produtos agrícolas e de energia; fundada pelo israelo-belga-espanhol Marc Rich; acusada pela CIA (¡supersic!) de subornar governantes; controla 34% da mineradora global suíço-britânica Xstrata; apostou na subida do trigo durante a seca russa (The Financial Times, 24/4/11); o banqueiro Nat Rothschild “recomendou” o seu polêmico novo diretor Simon Murray (The Daily Telegraph, 23/4/11); destaca a circularidade financeira do binômio Rotshchild-Rich.
- Cargill: sede em Minneapolis, Minnesota, com resultados de US$ 108 bilhões em agronegócios, carnes, biocombustíveis, aço e sal; severamente criticada pelo desmatamento, contaminação de todo o gênero (incluindo a alimentar) e abusos contra os direitos humanos.
- Koch Industries: sede em Wichita, Kansas, com resultados de US$ 100 bilhões em refinação e transporte de petróleo, petroquímicos, papel, etc.; empresa familiar (a segunda mais importante nos EUA depois da Cargill) manejada pelos irmãos ultraconservadores David e Charles Koch, que financiam o Tea Party.
- Trafigura: sede em Genebra, com resultados de US$ 79,2 bilhões em petróleo cru, comercialização de metais; depredadora tóxica na África; provém da separação de várias empresas do israelo-belga-espanhol Marc Rich.
- Gunvor Intl.: sede em Amsterdã e Genebra, com resultados de US$ 65 bilhões em petróleo, eletricidade e carvão.
- Archer Daniels Midland Co.: sede em Decatur, Illinois, com resultados de US$ 62 bilhões em milho, trigo, cacau; listada na Bolsa de Nova York; atuação escandalosa e processada por contaminação reiterada; se beneficiou com os subsídios agrícolas do governo dos EUA.
- Noble Group: sede em Hong Kong, com resultados de US$ 56,7 bilhões em açúcar brasileiro e carvão australiano; sólidos laços com o HSBC e a polêmica empresa contabilística Pricewaterhouse Coopers; cotada no Índice Strait Times (Cingapura).
- Mercuria Energy Group: sede em Genebra, com resultados de US$ 46 bilhões em petróleo e gás.
- 10. Bunge: sede em White Plains, Nova York, com resultados de US$ 45,7 bilhões em cereais, soja, açúcar, etanol e fertilizantes; multada nos EUA por emissões contaminantes.
The Daily Telegraph adiciona surpreendentemente como “menção especial” a Phibro, hoje subsidiária da Occidental Petroleum Corporation (Oxy): sede em Westport (Connecticut), com 10% dos resultados do banco Citigroup em 2007, em petróleo, gás, metais e cereais, onde iniciou a sua “aprendizagem” o israelo-belga-espanhol Marc Rich.
Das 11 transnacionais piratas, cinco pertencem aos EUA, três à Suíça (notável paraíso fiscal bancário), duas são suíço-holandesas e uma é de Hong Kong (ligada à Grã-Bretanha). Se as 11 fossem cotadas na Bolsa, colocar-se-iam da posição sete até a 156 na classificação da Fortune Global 500. Sem penetrar na genealogia dos seus testa-de-ferro e verdadeiros donos, destaca-se a nefasta sombra do israelo-belga-espanhol Marc Rich em três empresas piratas: Glencore Intl., Trafigura e Phibro.
O israelo-belga-espanhol Marc Rich merece uma menção honrosa e, com uma biografia mafiosa, revela quiçá uma das razões do hermetismo das “gigantes” transnacionais que não estão cotadas nas Bolsas e que movimentam nocivamente verdadeiras fortunas sem o menor escrutínio governamental ou cidadão. Será mera casualidade que Rich apareça em três das “secretas” 11 empresas “gigantes” que especulam na penumbra com os preços dos alimentos, hidrocarbonetos e metais?
Marc Rich, perseguido por evasão fiscal nos EUA (logo perdoado, polemicamente, por Clinton), foi denunciado como “espião da Mossad israelense” (Niles Latham, New York Post, 5/2/01) e “lavador de dinheiro” das máfias (The Washington Times, 21/6/02).
O investigador William Engdahl expôs, há 15 anos, “a rede financeira secreta (¡supersic!)” por trás dos banqueiros escravagistas Rothschild, o megaespeculador “filantropo” George Soros e Marc Rich. Cada vez se afirma mais o papel determinante de Israel na lavagem de dinheiro global (ver Bajo la Lupa, 20/4/11).
Conclusão: como pode uma transnacional “gigante” passar sem ser detectada na época da antiterrorista “segurança interna”? Será possível que no Século 21 ainda existam empresas “secretas” e/ou piratas, que se dão ao luxo de não se cotar nas Bolsas, mas que gozam de todas as vantagens do “livre mercado”, incluindo operações suspeitas em paraísos fiscais?
São “gigantes secretos” e/ou “clandestinos” tolerados pelo sistema anglo-saxão e seus mafiosos paraísos fiscais? Pode manter-se “secreta” a atividade dessas transnacionais “gigantes” que controlam os alimentos e a energia, usados como “armas de destruição maciça” contra a maioria do gênero humano?
* Tradução: Paula Sequeiros.
** Publicado originalmente no Esquerda.net e retirado do site Agência Carta Maior.
(Carta Maior)