A agência de notícias japonesa Kyoto, citando fontes da empresa que opera a usina, a Tokyo Electric Power Co. (Tepco), informou que as barras de combustível no reator ficaram completamente expostas e começavam a derreter depois que acabou o combustível da bomba contra incêndios com a qual se lançava água do mar para refrigerar a instalação. Se as barras não forem resfriadas pode haver outra explosão, segundo especialistas.
As estruturas da central foram severamente afetadas pelo tsunami do dia 11, desencadeado por um terremoto que afetou as áreas do Nordeste do Japão. A cidade de Fukushima está 240 quilômetros ao Norte de Tóquio. O complexo atômico é formado pelas usinas Fukushima 1, com seis reatores, e Fukushima 2, com quatro reatores. Especialistas dizem que a decisão da Tepco de usar água marinha era uma medida desesperada para impedir um grave derretimento das instalações. Este recurso tornará as centrais inoperantes no futuro, o que demonstra os graves problemas da empresa para adotar medidas de emergência.
Mapai Boto, ex-projetista nuclear da empresa Tosida e hoje integrante do Centro Cidadão sobre Informação Atômica, considerou a situação “extremamente delicada”, e não descartou a possibilidade do pior cenário: uma propagação de plutônio se o reator número dois explodir. “O combustível MOX tem um ponto de derretimento mais baixo, o que deixa a atual situação mais propensa a um aumento da pressão. Rezo e espero que os trabalhadores evitem este desastre”, afirmou.
Este especialista acrescentou que não se pode ignorar a possibilidade de acidentes em outros reatores. Os problemas no número três tiveram origem no número dois, uma cadeia que pode se propagar. O chefe de gabinete do governo japonês, Yukio Edano, reconheceu o derretimento parcial do segundo reator de Fukushima 1, mas garantiu que não havia perigo de uma catástrofe porque a instalação de proteção interna estava intacta. Também assegurou que o governo e a Tepco tinham a situação controlada.
Estas explosões foram as primeiras ocorridas em centrais japonesas. As usinas atômicas, mesmo registrando acidentes, continuam operando e fornecem 30% da eletricidade usada pelo país. A Agência Internacional de Energia Atômica colocou no nível quatro de seus registros o acidente no complexo de Fukushima, logo abaixo do ocorrido em 1979 na central norte-americana de Tree Mile Island, quando as varas de combustível derreteram formando uma grande massa de material radioativo. O Japão confirmou que 22 pessoas sofreram radiação e quase mil foram evacuadas para evitar a exposição. Onze trabalhadores da central de Fukushima ficaram feridos.
O desastre que os japoneses rezam para que não ocorra, segundo especialistas, é um claro exemplo do motivo de a tecnologia nuclear não ser a resposta para as necessidades energéticas do Japão. Este país é a terceira economia do mundo, mas depende em grande parte de recursos energéticos. Na última década, Tóquio destinou milhões de dólares para seu desenvolvimento atômico como forma de atender a grande demanda interna de energia e se afastar dos combustíveis fósseis contaminantes.
Entretanto, o efeito dominó deste acidente, com impacto na economia, riscos para a saúde pública e grandes perdas pelo fechamento das usinas mostra o lado escuro dessa tecnologia, disse o especialista em energia nuclear Masako Sawai.
Além disso, a bolsa de valores do Japão caiu mais de 6% ontem. A evacuação de moradores e a queda no fornecimento elétrico para conservar energia também terão impacto na economia nacional. “Esperamos que o público japonês finalmente desperte para a realidade do muito propalado progresso da tecnologia atômica. É um acidente terrível que não deve acontecer de novo, e isso só será possível colocando a segurança acima de tudo”, afirmou Masako. Envolverde/IPS
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Crédito: Alexandre G. Vilas Boas - Para conhecer o trabalho do artista acesse - http://www.frestaverde.blogspot.com/.
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