Benvindo a uma nova era geológica: o Antropoceno

 

Sem perceber, nós mudamos de era geológica. Deixamos os 10 mil anos do Holoceno que, por causa de seu clima quente e estável, viu nascerem a agricultura e a indústria, após a última grande glaciação do Pleistoceno. E entramos no Antropoceno - do grego Antropos, o ser humano - uma era em que o homem tornou-se a principal força geofísica do planeta, capaz de modificar seu ambiente. Essa é a tese exposta no livro "Viagem ao Antropoceno", de Claude Lorius, lançado na semana passada pelas Edições Actes Sud. O glaciologista francês, membro da Academia de Ciências e Prêmio Planeta Azul em 2008, em co-autoria com o jornalista Laurent Carpentier descreve as conseqüências das emissões intensivas de gases de efeito-estufa: toda a Terra é modificada pelo homem com isso. Eis a entrevista.

Quando entramos nesta nova era?

Claude Lorius: Estamos no Antropoceno, isto é, uma época em que o homem assume o controle do meio ambiente do planeta em 1784, quando James Watt patenteou a máquina vapor. O termo foi criado pelo Prêmio Nobel de Química Paul Crutzen, em 2000. Hoje ele é usado por grande parte da comunidade científica e pode ser oficialmente adicionado à tabela das eras geológicas, no próximo congresso internacional de Brisbane, na Austrália, em 2012.

Em que o homem alterou as características geológicas do planeta?

Claude Lorius: Primeiro, ele alterou a atmosfera da Terra por causa das emissões de gases de efeito-estufa, destacando em primeiro plano, o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4). Então ele corre para a hidrosfera: a água do planeta está cada vez mais ácida por causa do dióxido de carbono e se percebe o aumento de seu nível por causa da fusão das geleiras. Ele também ataca a litosfera, a casca rígida do planeta, produzindo a erosão do solo, ao escavar minas ou esgotar os recursos naturais. Finalmente, ele perturba a biosfera, os organismos vivos que habitam a Terra, muitas espécies estão ameaçadas de extinção.

Como o senhor demonstrou o impacto das emissões de gases de efeito-estufa sobre o aumento da temperatura terrestre?

Claude Lorius: Com a minha equipe de cientistas, demonstramos em 1987 na revista Nature, a correlação entre os gases de efeito-estufa e as temperaturas, graças a experimentos com o gelo na Antártida, na Estação Vostok. Esta área é perfeita para medir a evolução do planeta, porque é distante de qualquer continente e não está, portanto, poluída por poeiras, por exemplo.
O gelo contém dois indicadores. Em primeiro lugar, a sua constituição nos permitiu reconstruir as variações climáticas durante 400 000 anos. Ao medir a concentração de deutério no gelo, você pode saber o que era o clima em um determinado momento porque a proporção desse isótopo de hidrogênio diminui com o aumento da temperatura do local. E quanto mais perfuramos no gelo, mais voltamos no tempo. Ademais, o gelo contém bolhas de ar para que nelas seja feita a medição o teor de dióxido de carbono na atmosfera no momento em que foram aprisionadas.

Em última análise, estes arquivos do gelo nos permitiram observar um aumento da concentração de CO2 e um aumento acentuado das temperaturas desde o início do século XIX (dados não são reproduzidos no diagrama). Outra correlação que tem alarmado: a curva do nível do mar deduzida a partir do estudo de sedimentos marinhos também segue um caminho paralelo ao das temperaturas.

Como afirmar que este aquecimento climático é de origem humana e não o resultado de um período climático mais quente, especialmente em consequência das mudanças na radiação solar, como afirmam alguns cientistas climatocéticos?

Claude Lorius: O CO2 é o melhor marcador da atividade humana: você queima uma floresta, você inicia a operação de uma fábrica, dirige um carro; em tudo está envolvido o dióxido de carbono. Hoje, todos os climatologistas, bem como a Academia de Ciências, reconhece: as mudanças climáticas tem origem antropogênica. Os fenômenos naturais, tais como mudanças na atividade solar ou erupções vulcânicas, têm algum impacto sobre as alterações climáticas, mas seu efeito é mínimo em comparação com os efeitos do aumento da concentração de CO2.
Os dados do GIEC (Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas) também confirmam que o aquecimento climático observado atualmente está muito próximo de modelos que levam em consideração fenômenos naturais, mas, sobretudo, daqueles que consideram o aumento das concentrações de gases de efeito-estufa na atmosfera.

A situação é irreversível, como afirmaram, em um estudo recente, publicado na revista Nature, pesquisadores canadenses?

Claude Lorius: É verdade que se a humanidade decidir parar completamente, hoje, as suas emissões, a concentração de CO2 na atmosfera será reduzida em um ritmo muito lento. Vamos levar séculos para reverter o aquecimento climático. Mas a situação será pior se nada for feito. Pessoalmente, entretanto, eu estou pessimista sobre a evolução do planeta nos próximos anos: eu não creio que o homem seja capaz de parar o desenvolvimento e colocar o interesse do planeta à frente do seu e dos estados. Então, definitivamente estamos caminhando para o pior cenário do GIEC (que prevê um aumento de 6 graus Celsius até o final do século). Ainda assim, os jovens estão mais sensíveis à questão ambiental. Então, eu gosto de pensar que estamos no limiar do crepúsculo, anunciando em por ou um nascer do sol.

Tradução: Argemiro Pertence

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