MADRI (AFP) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao venezuelano Hugo Chávez que “baixasse o tom contra os Estados Unidos”, publicou nesta quarta-feira o jornal espanhol El País, citando documentos do departamento de Estado americano divulgados pelo site Wikileaks.
O presidente brasileiro enviou seu ex-ministro José Dirceu a Caracas para advertir Chávez e dizer a ele que não “brincasse com fogo”.
“A incendiária retórica de Hugo Chávez desde seu primeiro mandato presidencial não incomodava apenas os Estados Unidos, principal destinatário das declarações, mas também o Brasil, cujo presidente Lula da Silva quis aplacar a virulência do discurso bolivariano com mensagens privadas que pediam contenção”, destaca o El País.
Dirceu revelou sua conversa com Chávez ao embaixador americano em Brasília, John Danilovich, segundo os documentos do Wikileaks.
Ao que parece, a recomendação de Lula não teve efeito sobre o presidente venezuelano, que “continuou atacando os Estados Unidos em todas as frentes”.
Por sua vez, o chefe da delegação diplomática americana explicou a Dirceu que a política de Washington “neste sentido era não responder a Chávez para não dar motivos a ele, para que se afogue ele mesmo”, escreveu o El País.
Dirceu “prometeu comunicar a Chávez que não apenas o governo dos Estados Unidos era hostil a ele, mas também as elites americanas, e mesmo o homem comum começavam a enxergar a Venezuela como um problema, e que esta tensa situação com a sociedade americana não beneficiava nem a ele, nem ao país”.
Naquela reunião, os dois também discutiram a posição cubana a respeito do tema. Na opinião de Dirceu, apesar das excelentes relações entre Caracas e Havana, o aumento das tensões na região não interessa a Cuba.
Por outro lado, a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 “reforçou a liderança regional do Brasil e a figura do presidente Lula da Silva”, afirmou o jornal, de acordo com a documentação do Wikileaks.
“O governo do Brasil está percebendo que enfrenta desafios fundamentais como a preparação dos Jogos, e mostrou muito mais abertura em áreas como cooperação e a troca de informações com os Estados Unidos, a ponto de admitir a possibilidade de ameaças terroristas”, escreveu a encarregada de negócios, Lisa Kubiske, em dezembro de 2009, três meses depois do anúncio de que o Rio sediaria as Olimpíadas.