A ciberguerra em torno do Wikileaks, como todas as guerras, está produzindo velozmente uma série de violentas contradições. A mais recente relaciona-se com a represália do grupo de ciberativistas denominado Anonymous contra as empresas que participam do cerco econômico ao site de Julian Assange, entre elas os cartões de crédito Visa e Mastercard.
Como reagirão os cinco jornalões globais associados ao Wikileaks (na verdade, quatro diários e um semanário, Der Spiegel) diante das represálias destes ativistas que durante algumas horas na quarta-feira (8/12) prejudicaram milhares de usuários dos cartões que nada têm a ver com a história? Estes veículos serão solidários com uma ação ilegal, claramente ciberterrorista?
Mistura perigosa
A reação na quinta-feira (9) dos dois jornais brasileiros que pagaram carona no trem do Wikileaks – Folha de S. Paulo e O Globo –, denominando os ativistas pró-Julian Assenge de hackers, dá uma idéia do potencial de litígios e incoerências contidos nesta questão. O hacker é um ciberpirata, mas os defensores de Assange são cidadãos que defendem intransigentemente a liberdade de expressão tal como todos os veículos que participam da rede do Wikileaks.
No entanto, a própria façanha de Assange não teria alguma semelhança com as técnicas dos hackers? Seria ele um hacker do bem?
Este novelo de contradições também coloca em situação extremamente desconfortável as feministas impedidas de defender o novo paladino da liberdade de expressão que, ao mesmo tempo, está sendo acusado de abuso sexual na Suécia. Mas não apenas elas: o anarquismo de Assange – como já aconteceu outras vezes desde meados do século 19, quando Proudhon, Bakunin e Kropotkin puseram-se a questionar o conceito de Estado – colocou tudo de pernas para o ar. Inclusive o formidável avanço propiciado pela internet, agora comprometido pelo perigoso coquetel composto de voluntarismo, narcisismo e oportunismo.
Documentos embargados
O presidente Lula conclamou seus assessores a se manifestarem contra a prisão de Julian Assange no Blog do Planalto. Não precisa ir tão longe: basta liberar os documentos secretos do governo sobre os desaparecidos durante o regime militar.
- Por Alberto Dines, do Observatório da Imprensa