CHINA PÓS MAO: Abusos de privilegiados alargam a brecha social

Pequim, China, 15/12/2010 – “Se atrevam a me prender. Meu pai é Li Gang!”, gritou o jovem chinês para os guardas de segurança da Universidade de Hebei que o interceptaram quando tentava fugir após atropelar dois estudantes e deixá-los inconscientes em meio a um banho de sangue.

O motorista que se negou a descer do carro após ser parado pelos guardas é Li Qiming, filho do subchefe de polícia do distrito. Uma das vítimas desse episódio ocorrido em outubro morreu. Tratava-se de Chen Xiaofeng, filha de fazendeiros pobres.

Alarmadas, as autoridades do Partido Comunista trataram de impedir que a imprensa oficial cobrisse o caso, mas numerosos, e furiosos, internautas transformaram o fato em um debate nacional sobre o abuso de privilégios. “Meu pai é Li Gang” tornou-se um slogan para expressar a vontade de fugir a uma responsabilidade e passou a simbolizar a brecha crescente entre as pessoas com poder e as mais pobres.

Em numerosos blogs chineses se faz referência aos “ricos de segunda geração”, à “segunda geração de funcionários” e à “segunda geração pobre”. Também se denúncia que os filhos e filhas de quadros do Partido Comunista e de ricos empresários têm privilégios injustos.

A brecha entre ricos e pobres se amplia e pode gera instabilidade social, alertam especialistas chineses. A diferença social é um dos assuntos que mais preocupam os pais, concluíram duas diferentes pesquisas feitas este ano pelo oficialista Diário do Povo através da Internet.

O enorme crescimento econômico da China significou apenas melhorias em sua vida cotidiana, disseram os que responderam o questionário. Quarenta e quatro por cento dos que responderam disseram que a ampliação da brecha de renda e a “divisão social em classes” exige mais atenção do governo. “A China deveria ser rica. Mas após a crise financeira os ricos são mais ricos e os pobres mais pobres apenas os ricos são felizes, os pobres não são”, escreveu um blogueiro.

O coeficiente Gini, índice que mede a desigualdade social, fica em 0,47%, informou o Diário do Povo, muito próximo da marca de 0,5 que He considerado risco de instabilidade. As décadas de crescimento econômico aprofundaram a brecha entre a renda dos ricos e a dos pobres e entre o campo e a cidade. Em 2009, 10% dos mais ricos concentravam 45% da riqueza, e 10% dos mais pobres apenas 1,4% da riqueza nacional.

Muitos jovens não têm possibilidade de ascensão social. Já as pessoas ricas e com influência podem mandar seus filhos para melhores escolas e, ainda, recorrer às ligações e relações de seus pais para conseguir os melhores trabalhos, afirmam vários especialistas.

“Consolida-se a concentração de poder na educação, no emprego e em vários outros setores e as classes mais baixas costumam perder seus direitos. O endurecimento da hierarquia está diante de nossos olhos. Cada dia é mais estreito o canal de ascensão social para os mais pobres”, escreveu Daí Zhiyong, colunista do jornal Southern Weekend.

Numerosos internautas que se autodefinem como pertencentes à “segunda geração de pobres” dizem que não querem que seus filhos sofram o mesmo destino que herdaram e preferem não ter descendentes, segundo a imprensa estatal. “Sou da segunda geração pobre e não quero criar a terceira geração”, disse Wang Xiaolei, editor web de 28 anos, ao jornal China Youth Daily. E o governo central observa a situação com preocupação.

Há alguns meses, as autoridades ordenaram às redes de televisão que começassem a promover valores tradicionais depois que a participante de um programa ao vivo disse preferir “chorar dentro de uma BMW do que sorrir em uma bicicleta, segurando nas costas de seu noivo”. Muitas pessoas consideram que essa afirmação representa o crescimento do materialismo e expressam isso na blogosfera.

O governo propôs medidas para frear a ampliação da brecha social, como implementar mecanismos para aumentar a renda, melhorar o salário mínimo e garantir que os pagamentos sejam feitos em tempo e corretamente, além de melhorar a seguridade social nas cidades e no campo.

Em março, o primeiro-ministro, Wen Jiabao, se referiu ao assunto em um discurso no Grande Salão do Povo, sede do parlamento, dizendo que os benefícios do rápido crescimento econômico deveriam ser distribuídos com mais justiça. “Não só faremos o bolo crescer apenas desenvolvendo a economia, mas a distribuindo bem. Reverteremos com firmeza a brecha da renda”, afirmou Wen.

A “solução fundamental” para melhorar a difícil situação dos pobres é permitir que os trabalhadores se organizem e formem sindicatos “para decidir o que precisam”, disse Hu Xingdou, professor de economia do Instituto de Tecnologia de Pequim.

Os cidadãos chineses recorrem cada vez mais à Internet como ferramenta para controlar o comportamento de altos funcionários, disse Shao Jian, professor da Faculdade de Humanidade da Universidade de Xiaozhuang, na cidade de Nanjing.

No caso de Li Gang, a pressão dos internautas obrigou pai e filho a pedirem desculpas em um canal de televisão estatal. A imprensa oficialista informou em seguida que Li Qiming estava detido. “Sem Internet não saberíamos de nada”, disse Shao. Envolverde/IPS


(IPS/Envolverde)

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