Washington, Estados Unidos, 13/10/2010 – O mundo não está “nem perto” de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da Organização das Nações Unidas, segundo o último Índice Global de Fome (IGH), apresentado no dia 11. O estudo pede que sejam redobrados os esforços contra a desnutrição infantil.
Atingir o primeiro dos ODM – reduzir pela metade até 2015 a proporção de pessoas que sofrem fome, em relação aos níveis de 1990 – é algo improvável, indica o estudo. Embora a proporção de desnutridos tenha caído de 20% no período 1990-1992 para 16% em 2004-2006, os últimos acontecimentos mundiais reverteram esse avanço.
A propagada recessão econômica e os efeitos persistentes da crise mundial de alimentos entre 2007 e 2008 fizeram com que o número de pessoas sem alimentação básica superasse um bilhão no ano passado. O IGH, medição multidimensional da fome no mundo, é publicado de forma conjunta pelo Instituto Internacional de Pesquisa de Políticas de Alimentação (IFPRI), com sede em Washington, pela organização beneficente irlandesa Concern Worldwide, e pelo grupo não governamental alemão Welthungerhilfe.
O índice combina três indicadores para avaliar a fome: a proporção de desnutridos na população, a prevalência de menores de cinco anos com deficiência de peso, e a taxa de mortalidade entre estes. Com base nesses números, é elaborada uma pontuação. Dos três componentes da atual pontuação mundial, de 15,1, a deficiência de peso na infância contribui com quase a metade (7,4 pontos). A desnutrição crônica, com atraso de crescimento, afeta cerca de 195 milhões de meninos e meninas com menos de cinco anos no Sul em desenvolvimento, isto é, cerca de um em cada três crianças. Quase um em cada quatro (129 milhões) tem deficiência de peso, e um em cada dez apresenta severa deficiência de peso.
“Para melhorar suas pontuações, muitos países devem acelerar seus progressos na redução da má nutrição infantil”, disse Marie Ruel, diretora da Divisão de Pobreza Social e Nutrição do IFPRI e coautora do informe. Os esforços para combater a desnutrição não tiveram êxitos contundentes. Em 20 anos, a proporção de crianças com deficiência de peso na África subsaariana caiu apenas de 27,2% para 23,6%. As políticas e os programas agora são destinados a meninos e meninas com menos de cinco anos, mas a última evidência no IGH indica que as intervenções mais efetivas exigem maior precisão.
O momento crucial para melhorar a nutrição de uma pessoa situa-se nos mil dias que vão desde sua concepção até completar dois anos. Depois, os efeitos da má nutrição são praticamente irreversíveis, podendo causar danos para toda a vida, como um limitado desenvolvimentos físico e cognitivo. “A saúde das mulheres, especialmente das mães, é fundamental para reduzir a desnutrição infantil. As mães que foram mal nutridas quando crianças tendem a dar à luz bebês com deficiência de peso, perpetuando o ciclo de desnutrição”, disse o presidente do Welthungerhilfe, Bärbel Dieckmann. “As intervenções devem estar dirigidas às meninas e às mulheres, especialmente na adolescência, antes de engravidarem”, afirmou.
O informe também recomenda atender as raízes da desnutrição, como pobreza, desigualdade de gênero e conflitos bélicos. A pontuação mundial caiu de 19,8 em 1990 para 15,1 neste ano, mas o panorama varia notavelmente em cada país e região. Vinte e nove nações ainda apresentam níveis de fome “extremamente alarmantes” ou “alarmantes”. Todas as nações com níveis de fome “extremamente alarmantes” são da África subsaariana: Burundi, Chade, Eritreia e República Democrática do Congo (RDC). As regiões mais afetadas são Ásia meridional e África subsaariana, com pontuações de 22,9 e 21,7, respectivamente.
Na Ásia meridional, o baixo nível nutricional, educacional e social das mães é um dos principais fatores da alta prevalência de crianças menores de cinco anos com deficiência de peso. A ineficácia dos governos, os conflitos bélicos, a instabilidade política e as altas taxas de aids são os principais fatores da alta mortalidade e desnutrição na África subsaariana, diz o estudo. Entretanto, todas as regiões apresentaram melhorias desde 1990. As pontuações dos últimos 20 anos caíram 14% na África subsaariana, cerca de 25% na Ásia meridional e 33% no Oriente Médio e na África do Norte.
Parece haver uma relação entre o desempenho econômico e os níveis de fome. “Países com altos níveis de produto interno bruto por habitante (importante medida de desempenho econômico) tendem a apresentar baixas pontuações de IGH”, diz o informe. “E países com baixos níveis de PIB/habitante tendem a apresentar altas pontuações de IGH”. Entretanto, a relação nem sempre é clara, já que os conflitos bélicos, as doenças, a desigualdade, a má governança e a discriminação de gênero podem afetar negativamente os benefícios.
Alguns países conseguiram grandes avanços em suas notas, reduzindo-as 13 pontos ou mais, como Angola, Etiópia, Gana, Moçambique, Nicarágua e Vietnã. Contudo, nove países, todos subsaarianos exceto a Coréia do Norte, aumentaram sua pontuação. O caso mais preocupante é da RDC. O IGH desta nação, açoitada por conflitos e instabilidade política, aumentou 65% desde 1990. Três quartos da população estão desnutridos. Em situação semelhante encontram-se Burundi, Comoras, Guiné-Bissau e Libéria, que também aumentaram suas pontuações. Envolverde/IPS
(IPS/Envolverde)