O comércio entre Israel e o Irã

Para justificar o comércio, mesmo que indireto, com o Irã, Danny Catarivas, chefe da divisão de comércio internacional da Associação das Indústrias Israelenses explica que um país dependente do comércio internacional tem de separar o econômico do político e não entrar em um boicote econômico.


As declarações incendiárias do presidente Ahmadinejad contra Israel ou as proclamações dos dirigentes israelenses de que o Irã representa uma ameaça iminente e existencial poderiam nos fazer esquecer que as relações entre os dois países foram muitas vezes ambíguas, ao longo da história recente, mesmo após a revolução islâmica de 1979. Sabemos que, durante a ditadura do xá, Irã e Israel mantiveram relações estratégicas fundadas na luta contra o mundo árabe; essa aliança incluía também a Etiópia do negus e a Turquia, ou seja, os três países não-árabes da região. A revolução de 1979 conduziu à ruptura das relações diplomáticas entre os dois países, mas isso não significa que os contatos entre eles tenham desaparecido.

O episódio mais célebre foi o do Irã-gate (que explodiu em 1986) e a venda ao Irã de material militar, transação que envolveu a administração Reagan, o governo israelense e diversos traficantes de armas (ler Alastair Crooke, “Quand Israël et l’Iran s’alliaient discrètement” [Quando Israel e Irã aliaram-se discretamente], Le Monde Diplomatique Brasil, fevereiro de 2009.) Na época, durante a guerra Iraque-Irã, Israel considerava que a ameaça representada por Saddam Hussein era a mais grave, portanto era necessário ajudar os iranianos a qualquer preço... Tal política foi, por um curto momento, apoiada pela administração Reagan; mas esta não tardou a virar a casaca e ajudar massivamente o governo de Bagdá, fechando os olhos para a utilização de armas químicas pelo Iraque, principalmente contra os Curdos em Halabja. Na época, “nosso amigo Saddam” tinha boa fama, tanto em Paris como em Washington.

Hoje, ao lermos as declarações belicistas dos dirigentes israelenses, pode parecer que tudo isso é história antiga. Mas não tem nada de história antiga. No site Lobelog.com, Eli Clifton revela que Israel mantém relações comerciais com seu inimigo existencial (“Israel Still Trades With Its ‘Existential Threat’” [Israel ainda faz comércio com seu “inimigo existencial”], 30 de agosto de 2010). Ele destaca um artigo do jornal Maariv, que tem tradução para o inglês. O negócio é simples: mármore é retirado de pedreiras iranianas e enviado para a Turquia, para que aí seja tratado e em seguida exportado para Israel. Esse comércio vai de encontro à lei israelense que proíbe relações com os países inimigos, ou seja, a Síria, o Líbano e o Irã. No ano passado, informações revelaram que toneladas de pistache, dos quais os israelenses são grandes consumidores, vinham também do Irã, sempre pela Turquia.

O mais estranho é a justificativa dada ao jornalista do Maariv por Danny Catarivas, chefe da divisão de comércio internacional da Associação das Indústrias Israelenses: “Os norte-americanos podem fazer coisas que outros não podem.” E explica que um pequeno país dependente de seu comércio internacional, como Israel, tem de separar o econômico do político, e não entrar em uma lógica de boicote econômico. “Do mesmo modo como ficamos indignados com as tentativas de boicote contra nós, também somos os últimos a apoiar qualquer tipo de boicote.”

Outro aspecto por assim dizer saboroso desse assunto é que não apenas essas importações israelenses de mármore aumentaram claramente nos últimos anos, como também as pedreiras são propriedade do governo iraniano, o mesmo que se denuncia querer destruir Israel.

Outra informação concernente ao Irã: por ocasião da publicação de suas memórias, o ex-primeiro-ministro Tony Blair, um dos principais responsáveis pela guerra criminosa contra o Iraque, pronunciou-se a favor de uma ação militar contra o Irã: “Não é aceitável que o Irã disponha de capacidades nucleares militares. Creio que devemos nos preparar para enfrentá-los, militarmente se necessário.” Notemos que ele fala em “capacidades”, e não em posse da bomba. (Tim Shipman, “How Blair was seconds from ordering RAF to shoot down passenger plane over London after 9/11” [Como Blair esteve a segundos de ordenar que a Força Aérea derrubasse avião de passageiros em Londres após 11 de setembro], The Daily Mail, 2 de setembro).

*Alain Gresh é jornalista, do coletivo de redação de Le Monde Diplomatique (edição francesa).


(Envolverde/Le Monde Diplomatique Brasil)

publicidade
publicidade
Crochelandia

Blogs dos Colunistas

-
Ana
Kaye
Rio de Janeiro
-
Andrei
Bastos
Rio de Janeiro - RJ
-
Carolina
Faria
São Paulo - SP
-
Celso
Lungaretti
São Paulo - SP
-
Cristiane
Visentin

Nova Iorque - USA
-
Daniele
Rodrigues

Macaé - RJ
-
Denise
Dalmacchio
Vila Velha - ES
-
Doroty
Dimolitsas
Sena Madureira - AC
-
Eduardo
Ritter

Porto Alegre - RS
.
Elisio
Peixoto

São Caetano do Sul - SP
.
Francisco
Castro

Barueri - SP
.
Jaqueline
Serávia

Rio das Ostras - RJ
.
Jorge
Hori
São Paulo - SP
.
Jorge
Hessen
Brasília - DF
.
José
Milbs
Macaé - RJ
.
Lourdes
Limeira

João Pessoa - PB
.
Luiz Zatar
Tabajara

Niterói - RJ
.
Marcelo
Sguassabia

Campinas - SP
.
Marta
Peres

Minas Gerais
.
Miriam
Zelikowski

São Paulo - SP
.
Monica
Braga

Macaé - RJ
roney
Roney
Moraes

Cachoeiro - ES
roney
Sandra
Almeida

Cacoal - RO
roney
Soninha
Porto

Cruz Alta - RS