Terminou à meia-noite de domingo o congelamento das construções dos assentamentos judaicos nos territórios ocupados por palestinos, na Cisjordânia, mas o impasse continua. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tem ignorado as pressões do governo americano e da comunidade internacional que pedem o fim das construções dos assentamentos ilegais nos territórios palestinos.
Assentamento na Cisjordânia (Foto: Adriana Mabilia)
A manutenção e o aumento das colônias foi promessa de campanha de Netanyahu e ele dá sinais de que pretende cumpri-la. O primeiro-ministro israelense pediu ao presidente da Autoridade Palestina que não abandone as negociações de paz. Mahmoud Abbas já havia dito na semana passada que Israel teria de escolher entre os assentamentos e a paz. Para Mustafa Barghouthi não há negociação sem o fim dos assentamentos.
Mustafa Barghouthi é médico por formação e líder de um movimento de resistência pacífica à ocupação israelense. Ele tem 56 anos, é secretário-geral do partido Al-Mubadara. O partido que é definido como Iniciativa Nacional Palestina foi fundado há 8 anos, com a participação de Edward Said um dos intelectuais palestinos mais importantes, e é reconhecido pela população como alternativa ao Fatah, desgastado pela corrupção, e ao Hamas, partido fundamentalista islâmico.
Barghouthi também é fundador e presidente de uma organização não-governamental que presta assistência médica gratuita na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
Em 2005, com um terço dos votos, perdeu as eleições para o atual presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. De lá para cá, a adesão ao movimento de resistência pacífica à ocupação, liderado por Barghouthi, é cada vez maior. Barghouthi não acredita no fim da ocupação sem a intervenção da comunidade internacional.
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http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2010/09/entre-israelenses-e-palestinos-os-assentamentos-ou-paz.html
O que significa para os Palestinos negociar sem o congelamento dos assentamentos?
Eu acho que o governo palestino está cometendo um grande erro em continuar nas negociações já que os assentamentos continuam. Porque os assentamentos destroem a possibilidade de um estado palestino.
As negociações com Israel, enquanto continuarem os assentamentos, significam tomar as nossas terras todos os dias, controlar a água palestina, proibir o livre comércio e a economia.
As negociações são encobertas pelas políticas israelenses e pelas ações de Israel nos territórios ocupados, por isso a maioria dos palestinos dentro e fora da palestina e a maioria das forças políticas são todas contra as negociações com Israel. E eles consideram as negociações, da maneira como estão acontecendo agora, benéficas só para Israel.
O que é pior é que, como as construções dos assentamentos não são congeladas e não há data para isso, essas conversas vão fracassar. E esse fracasso será muito duro desta vez, porque vai significar a perda da última oportunidade de solução de paz com dois estados.
Muro de Israel em Belém (Foto: Adriana Mabilia)
O que mudou na negociação atual em relação às anteriores?
Há o amor da população e o amor das pessoas do mundo. Nós estamos numa situação muito melhor, porque o mundo entende melhor a causa palestina, especialmente depois da guerra em Gaza e depois do caso da Flotilha. Há uma crescente pressão por sanções contra Israel.
Mas o nível governamental está pior. A união europeia está completamente paralisada e totalmente excluída do processo, porque Israel não quer a união europeia no processo. O nosso governo é fraco e não é capaz de lidar com a pressão americana. E os estados unidos estão completamente favoráveis a Israel.
Existe alguma possibilidade de o presidente da Autoridade Palestina fechar algum acordo com Israel sem que as construções dos assentamentos sejam congeladas?
Há um limite. Ele concordou em não negociar sem que os assentamentos sejam congelados. Ele prometeu que não faria isso.