Desconfiança com o governo prejudica ajuda

Karachi, Paquistão, 23/8/2010 – Os pedidos de ajuda para as vítimas das piores inundações sofridas pelo Paquistão em décadas acontecem de todas as formas e meios de comunicação. Porém, é difícil saber com qual colaborar devido à falta de confiança nas instituições e nas organizações do país. “Não sei como começar a ajudar essa gente que perdeu quase tudo, casa, terra, animais, e alguns até a família”, disse Ambreen Siddiqui, de 35 anos, com dois filhos.

Os pedidos de ajuda indicam como e a quem entregar as doações, mas Ambreen não sabe em quem confiar. Contudo, está certa de que não contribuirá com o fundo criado pelo primeiro-ministro, Yusuf Raza Gilani. Muita gente no Paquistão pensa o mesmo, o que reflete a profunda desconfiança e irritação em relação ao governo. O sentimento foi exacerbado pela visita do presidente, Asif Ali Zardari, à França e Grã-Bretanha no começo deste mês, quando as inundações causaram a maior parte da destruição.

“Não ouvi nem uma vez o rádio informar a ajuda dos ricos. Como o governo espera que eu colabore?”, perguntou, irritada, Salma Ahmad, de 75 anos. “O governo não é honesto, isso é o que ouvimos o tempo todo nos meios de comunicação”, afirmou, por sua vez, Azra Ahsan, obstetra de Karachi. “Eles não respondem, então deve ser verdade. A mensagem que nos chega é a de que eles não se importam”, acrescentou.

“Inclusive, ouvi o chanceler dizer aos paquistaneses dos Estados Unidos para colaborarem generosamente”, prosseguiu Azra. “Disse que se não confiassem no governo que doassem às organizações nas quais confiam. É de rir ver as autoridades reconhecerem isso”, declarou. “A resposta do governo na primeira semana do desastre foi lenta. Demorou para ser organizada”, disse Hassan Askari Rizvi, analista da cidade de Lahore.

Por outro lado, o Exército foi elogiado por suas operações. “Possui capacidade de organização e está treinado para lidar com situações difíceis como resgatar pessoas, conduzir operações humanitárias, construir pontes e restaurar as comunicações”, explicou o analista. As inundações mataram 1.600 pessoas e afetaram quase outros 20 milhões. Um quinto do território nacional ficou sob a água.

Muitas pessoas organizaram suas próprias doações. Salim Tabani, de 49 anos e dono de uma fábrica em Karachi, levou quatro caminhões com alimentos, reunidos entre seus amigos, aos distritos de Khaipur e Kashmore, na província de Sindh. “Agora já sei o que precisam e voltarei na próxima semana com mais doações”, afirmou.

Um grupo de mulheres jovens também arrecadou roupas nesta cidade. Estudantes de desenho têxtil arrecadam camisetas velhas e confeccionam lençois, colchões e redes. Uma galeria de arte organizou um “leilão silencioso” de quadros de 88 artistas e conseguiu US$ 140 mil. Outro grupo de mulheres juntou garrafas plásticas para enchê-las com água potável.

Em Peshawar, na Província de Khyber Pakhtunkhwa, Najiullah Kattak, de 32 anos, já arrecadou US$ 250 mil com um grupo que criou no dia 2 na rede social Facebook. “Com alguns amigos, decidimos juntar dinheiro e dar a uma organização”, informou Najiullah à IPS por telefone. No âmbito internacional, a Organização das Nações Unidas (ONU) registrou acentuado aumento das doações. A ONU pediu US$ 460 milhões e já recebeu US$ 227,8 milhões.

O desastre é tão grande que nenhum governo, corrupto ou não, pode lidar sozinho com ele, disse Najiullah. As organizações humanitárias vinculadas a grupos extremistas também estão trabalhando na entrega de alimentos quentes e recebendo contribuições. Preocupado pelos possíveis avanços que essas organizações possam fazer, o ministro do Interior, Rehman Malik, disse que as “proscritas” não podem visitar as áreas inundadas.

“As forças negativas podem querer explorar a situação”, disse esta semana Zardari em entrevista coletiva junto com o senador norte-americnao John Kerry, em visita ao país. Uma dessas organizações é a Fundação Falah-e-Insaniyat, ligada ao Jammat-du-Dawa, acusada de cometer os atentados de 2008 na cidade indiana de Mumbai.

Nos 43 acampamentos que têm em Khyber Pakhtunkhwa, Sindh e Punjab, “servem duas refeições quentes por dia para 45 mil pessoas”, disse à IPS seu presidente, Hafiz Abdul Rauf. Não deveria haver problema “enquanto a ajuda for neutra, imparcial e independente, pois se ajusta aos princípios humanitários”, afirmou Maurizio Giuliano, do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários.

Muitas das iniciativas não estão bem organizadas. “Cada um faz o que quer. Ninguém confia em ninguém. Preocupa as pessoas perderam a vontade de ajudar. É Ramadã e as pessoas estão mais generosas, mas temos de pensar em uma estratégia de longo prazo”, afirmou Ambreen. Envolverde/IPS

FOTO
Crédito:
M Fahim Siddiqi/IPS
Legenda: Pessoas atingidas pelas inundações no Paquistão.

(IPS/Envolverde)

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