Sanções de potências favorecem a China

Londres, Inglaterra, 2/8/2010 – As novas sanções da União Europeia (UE) contra o Irã abrem a porta para companhias chinesas desejosas de ampliar seus investimentos em um país considerado rebelde pelo Ocidente. O gigante asiático é o maior sócio comercial do Irã. Analistas chineses prevêem o surgimento de lucrativas oportunidades geopolíticas e empresariais na República Islâmica. Contudo, a burocracia ainda duvida do papel que Pequim deve ter nessa situação. Ávida por energia, a China assinou um acordo com o Irã por dezenas de milhares de milhões de dólares para ter acesso privilegiado ao setor de gás e petróleo.
Cortejar a República Islâmica, onde fica a quarta maior reserva mundial de petróleo e a segunda de gás, tem sido um longo e árduo processo. Pequim não tem intenção de colocar em risco o que custou tanto para conseguir. O diplomata chinês Hua Liming, que por muitos anos foi embaixador em Teerã, disse em suas memórias que seu trabalho no Irã, após a China converter-se em importador de petróleo no começo da década de 90, esteve atado à política energética. O Irã foi o maior fornecedor de petróleo para a China em 2009, atrás de Angola e Arábia Saudita.
Levada por sua necessidade energética, a China empreendeu uma série de projetos no Irã, preenchendo aos poucos o vazio deixado pelas empresas ocidentais, forçadas a se retirar devido às sanções internacionais. Há mais de cem empresas chinesas na República Islâmica, que participaram da construção do metrô, de centrais elétricas, fundições e unidades petroquímicas.
O comércio bilateral chegou a US$ 21,2 bilhões em 2009. No papel, a União Europeia continua sendo o maior sócio comercial do Irã. Porém, se for contar os produtos chineses que chegam a esse país pelos Emirados Árabes, já foi superada pela China. Alguns analistas acreditam que a atitude desafiadora do Irã é porque confia que a China substituirá seus sócios tradicionais. “Quem pode culpar o Irã de ser tão rebelde tendo a China ao seu lado?”, perguntou um analista no maior portal da Internet desse país, o China.com.
A pressão internacional dos últimos anos sobre o Irã, para que abandone seu programa de enriquecimento de urânio, levou muitas empresas ocidentais a saírem do país e Teerã começou a se voltar mais para a China em busca de investimentos nos setores de gás e petróleo, disse Harsh V. Pant, professor de estudos sobre defesa do King’s College, de Londres. As novas sanções aprovadas pela União Europeia farão com que “a China continue sendo a potência que apoia o Irã, e Teerã não terá motivos para negociar de boa fé”, disse Harsh à IPS.
As medidas punitivas se concentram na indústria de gás e petróleo, a pedra angular da economia iraniana, bem como nos serviços financeiros e comércio exterior. Foram proibidos novos investimentos da UE no setor energético e nas exportações para o Irã de equipamentos e tecnologia para refinar, fazer prospecção e produzir gás natural.
Os chanceleres europeus anunciaram as novas sanções um mês depois de os Estados Unidos colocarem em prática as suas. O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a quarta rodada de sanções internacionais em junho por causa do programa nuclear iraniano. A China, membro permanente do Conselho de Segurança, apoiou a medida, mas sem chamar a atenção.
“Esse país não quer parecer ter inimizade com o Ocidente e espera manter relações estratégicas com Teerã, e tampouco quer complicar suas relações com Washington”, disse Jonathan Holslag, pesquisador do Instituto de Estudos Contemporâneos da China, em Bruxelas. Pequim deu “sinais sutis, mas claros, de que o Irã quer cooperar com a ONU”, disse Jonathan, com a decisão de reduzir os investimentos no poço de petróleo de Yadavaran e a demora em efetivar os empréstimos.
Autoridades chinesas se negaram a comparecer a um encontro com o presidente da República Islâmica, Mahmoud Ahmadinejad, quando este visitou a Exposição de Xangai. Pequim caminha por uma estreita linha, quando a comunidade internacional pressiona as autoridades chinesas para agirem com responsabilidade e obrigarem Teerã a abandonar seu programa nuclear, ao mesmo tempo em que pretende preservar seus interesses vitais no Irã. A China está a favor da não proliferação de armas atômicas no contexto de sua campanha para aumentar seu peso internacional.
A tentativa de Pequim de suavizar as sanções da ONU não foi apenas para cobrir sua demanda energética, explicou Jonathan. As autoridades chinesas consideram que são contraproducentes porque “fortalecem os conservadores” e alimentam o nacionalismo nuclear. Um alto diplomata chinês defendeu há alguns dias o reinício das conversações e maior esforço diplomático para resolver a questão do programa nuclear iraniano. “A China segue pelo caminho das negociações”, disse o chanceler Yang Jiechi.
O Irã exporta cerca de 27 milhões de toneladas de petróleo por ano para a China, mas a falta de conhecimentos e de tecnologia impede que prosperem os projetos de desenvolvimento e prospecção nesse país. Envolverde/IPS
(IPS/Envolverde)
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