Três entre cada quatro lobistas que representam empresas de petróleo e gás trabalharam anteriormente no governo federal, uma proporção que supera os padrões usuais dos que passam pela porta do Capitólio (a sede do Congresso dos EUA), segundo uma análise do Washington Post.
Dentre os principais contratados para fazer lobby incluem-se 18 ex-membros do Congresso e dúzias de ex-assessores presidenciais. Para outras posições do alto comando, a indústria emprega dois ex-diretores do Serviço de Controle Mineral, como era então conhecida a agência que regula a indústria e diversas autoridades do topo da escala da Casa Branca no governo Bush. Os inspetores antes encarregados de monitorar a perfuração de petróleo no Golfo do México passaram a ser empregados das empresas que eles mesmos fiscalizavam.
Com mais de 600 lobistas registrados, a indústria coloca-se entre os maiores e mais poderosos contingentes de lobistas em Washington. Sua influência passou a ser sentida a plena carga no despertar do desastre da BP. Propostas para aprovar novas restrições ou limitar o uso do petróleo foram paralisadas pela oposição republicana e pela forte oposição dos democratas dos estados produtores de petróleo.
Mesmo considerando o relacionamento amigável entre as empresas de K Street e o Capitólio, o número de lobistas de petróleo bem coordenados entre si é notável. O Centro para uma Política Responsável - uma organização supra-partidária - calcula que menos de um em cada três lobistas registrados em 2009 tinham ligações no Congresso, menos da metade da taxa da indústria do petróleo encontrada pelo Washington Post.
Funcionários do Projeto sobre a Supervisão Governamental, um grupo sem fins lucrativos que investiga autoridades do Departamento do Interior que têm contato com o setor petróleo, disseram que ficaram surpresos com as descobertas. “Com esses números, pode-se ver como a ligação entre o Capitólio e a indústria permitiu que ocorressem problemas na Agência e que estes não fossem resolvidos”, disse Mandy Smithberger, uma investigadora do grupo.
Visto que tanto a Câmara dos Representantes como o Senado planejam limitar a influência dos lobistas com acesso ao Congresso, o assunto vai ser o foco da audiência na próxima quinta-feira presidida pelo representante (deputado federal) Edolphus Towns (Democrata – NY) que tem experiência de primeira-mão com o fenômeno. Um de seus ex-assessores, Jesse McCollum, assumiu ser lobista da BP duas semanas após a explosão da Deepwater Horozon. O gabinete de Towns evitou comentar o assunto; McColumm não respondeu um contato nosso.
A análise do Washington Post descobriu que a BP e outras empresas envolvidas no desastre do Golfo empregam como lobistas mais de três dúzias de ex-legisladores, assessores do Congresso e burocratas. Apenas a BP contratou pelo menos 31 lobistas internos e externos com experiência no governo, demonstram os registros.
O American Petroleum Institute (API), o grupo líder nos negócios da indústria, emprega 48 lobistas com experiência federal prévia, mostra a análise. Dentre eles está o ex-senador Bennett Johnston (Democrata – Luisiana), que ajudou a desregulamentar a indústria do gás natural e os ex-representantes (deputados) (Jim McCrery – Republicano – Luisiana) e Charlie Stenholm (Democrata – Texas), ambos apoiadores dos interesses do petróleo quando ainda eram membros do Congresso.
“Se você quer alguém para trabalhar em questões de energia, você não contrata trabalhadores da área de saúde”, comentou Jack N. Gerard, presidente do grupo e seu executivo-chefe.
Poucos ex-funcionários do governo atualmente ligados à indústria do petróleo quiseram discutir seus novos papéis. Mais de 30 indivíduos, empresas e empresas de lobby contatadas pelo Washington Post, incluindo a BP, declinaram de comentar ou não responderam nossas mensagens.
Todos disseram que mais de 430 lobistas da indústria que já tiveram empregos em filiais ligadas ao legislativo ou ao executivo, de acordo com a análise do Post que se baseou em dados do Center for Responsive Politics (CRP), histórias de empregos e outros registros. Muitos tiveram laços com as maiores Comissões que dão forma às políticas federais para a indústria do petróleo ou com legisladores que apoiaram as prioridades da indústria enquanto estiveram no Congresso, mostram os registros.
Foco nos ex-legisladores
A análise sugere que a indústria priorizou a contratação de ex-legisladores de estados produtores de petróleo. Quinze entre dezoito dos ex-membros do Congresso que hoje fazem lobby para empresas de petróleo são do Texas, Luisiana, Mississipi, Oklahoma e Kansas.
Muitos mais trabalharam antes como assessores de legisladores desses estados. Pelo menos, três lobistas da indústria, por exemplo, trabalharam anteriormente para a senadora Mary Landrieu (Democrata – Luisiana), uma declarada crítica da moratória para perfuração no Golfo proposta pelo presidente Obama.
Durante uma audiência em junho, Landrieu avisou o secretário do interior, Ken Salazar, que uma parada prolongada nas perfurações em águas profundas “poderia significar potencialmente uma desastre econômico que ultrapassaria o dano já causado” pelo vazamento em si mesmo. Mais tarde, Landrieu realizou sua anual “Festa da Lagosta” para arrecadar fundos, na qual, entre seus convidados, estavam sete lobistas da indústria do petróleo – seis dos quais trabalharam anteriormente no Capitólio, como mostra o convite.
Landrieu disse numa entrevista ser natural que ela esteja interessada em questões de óleo e gás dada a importância dessa indústria para Luisiana. Porém, acrescentou, a indústria contribui relativamente pouco para a sua campanha em vista do tamanho da mesma.
Dentre mais de 100 ex-funcionários, Landrieu disse que poucos trabalham para empresas de petróleo. Estes incluem o ex-conselheiro legislativo Kevin Avery, que hoje representa a Marathon Oil e o ex-assessor para assuntos de energia, Jason Schendle, atualmente fazendo lobby para a BP e outras empresas de petróleo. “Esses dois indivíduos não têm qualquer acesso especial a quem quer que seja”, disse Landrieu. Avery e Schendle não responderam nossas mensagens pedindo seus comentários.
O porta-voz da Marathon, Lee G. Warren, disse que a empresa procura pessoas de várias origens para formar sua equipe de assuntos governamentais; os registros demonstram que ela contratou, pelo menos, sete lobistas com experiência governamental. Warren disse que ex-empregados do governo “oferecem experiência e conhecimento”.
A filiação partidária dos lobistas é dividida de maneira equilibrada. Cerca de 55 por cento dos lobistas com clara filiação partidária trabalham para os republicanos, inclusive dois ex-assessores do líder da minoria no Senado, Mitch McConnell (republicano – Kentucky) que faziam lobby para a Exxon Mobil, mostram os registros. Três assessores do ex-vice-presidente Richard Cheney, ele próprio um ex-executivo da indústria do petróleo, agora trabalham para empresas de petróleo, incluindo o ex-conselheiro para assuntos de energia Kevin O’Donovan, agora executivo da Royal Dutch Shell. O ex-secretário do interior Gale Norton é advogado da Shell.
O porta-voz da Shell, Bill Tanner, disse que a empresa busca “candidatos com experiência acadêmica e profissional, comprometimento comprovado e altos padrões de integridade”.
Muitos lobistas da área do petróleo também têm trabalhado para os democratas, incluindo o corretor de energia Tony Podesta, cuja empresa de lobby representa a BP e a Sunoco. Ele foi co-patrocinado por, pelo menos, cinco levantadores de recursos para candidatos democratas este ano, incluindo a presidente da Câmara, Nancy Pelosi (Democrata - Califórnia).
Das agências para a indústria
Em nenhuma área, a intimidade entre governo e indústria foi mais clara do que no MMS (Mineral Mining Service) - recentemente renomeado para Bureau of Ocean Energy Management (Escritório de Controle de Energia no Oceano). A análise do Post encontrou mais de uma dúzia de ex-funcionários do MMS trabalhando na indústria do petróleo Os advogados têm pedido à agência para repassar ao Congresso as histórias sobre o trabalho de seus funcionários. O novo diretor da agência, Michael Bromwich, reconheceu que há conflitos nos quadros de inspeção numa declaração ao Post e disse que novos procedimentos visarão evitar que funcionários dirijam as auditorias de ex-empregados.
Um exemplo recente de um lobista dentro do MMS envolveu Randall Luthi que tinha deixado de ser diretor da agência apenas algumas semanas antes da explosão da sonda da BP para ser presidente da Associação Nacional de Indústrias Oceânicas. Embora o salário de Luthi não tenha sido divulgado, o presidente anterior da Associação recebeu US$ 580.000 por ano a título de salários e bônus em 2008, como informam os registros do imposto de renda. Luthi que declinou de nos conceder uma entrevista, recebeu menos de US$ 160.000 no mesmo ano no MMS.
A única nomeação de um lobista na administração Obama para a agência foi a ex-executiva da BP, Sylvia Baca, que foi indicada para ser subsecretária assistente para o controle de terras e minérios em junho do ano passado (Baca foi subsecretária assistente para o controle de terras e minérios na administração Clinton).
A porta-voz de Salazar, Kendra Barkoff, informou que Baca não trabalha em questões de perfuração offshore e que foi impedida por dois anos, ou até o próximo verão, de participar em qualquer situação envolvendo a BP.
Os laços próximos entre a indústria e o governo podem levar a problemas. Em poucos casos, laços familiares e a sedução do dinheiro, levaram a condenações penais. Os ex-funcionários do Departamento do Interior Milton K. Dial e Jimmy W. Mayberry foram considerados culpados em 2009 e 2008, respectivamente, por acusações decorrentes de um esquema de contratações que permitiu que eles se aposentassem do MMS, mas continuassem a receber salários de seis dígitos pagos pela agência.
Dial evitou comentar. Numa entrevista por telefone, Mayberry afirmou: “é uma questão de contratação entre eu e o governo e isto já foi resolvido”.
Quando investigadores da agência examinaram o escritório do MMS em Lake Charles, Luisiana este ano, eles descobriram que o inspetor Donald C. Howard recebeu benefícios financeiros de uma empresa offshore a qual, supostamente, ele estava fiscalizando. Howard foi condenado no ano passado a um ano de liberdade condicional e multado em US$ 3.000. Ele não retornou nossas ligações pedindo comentários.
O redator T.W. Farnam e a peaquisadoraMadonna Lebling contribuíram para esta matéria.