No campo de jogo todos são iguais

Lisboa, Portugal, 27/7/2010 – O futebol tolera tudo. Pode ser o grande negócio onde são movimentadas quantias astronômicas de dinheiro e rendas obscenas de diretores, treinadores e jogadores que são astros da bola, ou um esporte amplamente praticado, ou o propulsor que ajuda a convivência de imigrantes. Neste último caso se inscreve a iniciativa de realizar anualmente o Mundialito da Integração, explicou à IPS Antonio Nascimento, um dos organizadores do segundo campeonato não profissional de futebol entre estrangeiros, que acontece em Portugal. A importância do encontro esportivo e intercultural é reforçada pelo compromisso pessoal do chefe de Estado português, Aníbal Cavaco Silva, que é presidente da sua Comissão de Honra.

O Mundialito, que tem como sedes Lisboa e a vizinha cidade de Sintra, a apenas 30 quilômetros de distância, começou no dia 17 e terminará no dia 31. Seu objetivo é promover o encontro esportivo e social entre pessoas de diferentes nacionalidades e profissões, desde modestos trabalhadores que buscam neste país uma vida decente até professores universitários, médicos, economistas e diplomatas. A participação mais entusiasta é dos trabalhadores imigrantes, em especial dos procedentes das ex-colônias portuguesas na África, do Brasil e dos países do centro e leste da Europa.

Este ano participam 16 equipes: Alemanha, Angola, Brasil, Cabo Verde, China, Espanha, Grã-Bretanha, Guiné-Bissau, Morrocos, Moldávia, Moçambique, Nigéria, Romênia, Senegal, São Tomé e Príncipe e Ucrânia. Espanha e Portugal são os únicos países da União Europeia que realizam este tipo de competição, financiada fundamentalmente por seus respectivos governos e municípios, com a intenção de criar um ambiente de integração igualitária entre residentes estrangeiros. “Por seu componente social, pode-se dizer que o Mundialito é o encontro esportivo mais democrático e igualitário que acontece em nosso país”, afirmou Antonio, que também é assessor do prefeito de Sintra.

Por outro lado, os resultados dos jogos já realizados não são nada igualitários. As equipes do Brasil e de países africanos, formadas por jovens que em geral fazem trabalhos físicos e jogam futebol no tempo livre, dão verdadeiras surras em seus adversários. Houve resultados que deixam isso explícito, como os de 23x0 de Cabo Verde contra Marrocos, e de 11x1 contra a Grã-Bretanha, e o de 18x1 da Guiné Bissau contra a Alemanha. Porém, “nada humilhantes para os perdedores”, afirmou Antonio, porque as equipes de Alemanha, Espanha ou Grã-Bretanha são formadas por profissionais universitários, que “jogam futebol apenas aos domingos”.

“Já os trabalhadores imigrantes, especialmente os africanos de língua portuguesa, treinam todos os dias, alimentando a ideia de se converterem em profissionais, começando pela terceira ou segunda divisão, o que lhes permitiria melhorar sua renda e, assim, dar uma vida melhor às suas famílias”, acrescentou Antonio. Outra é a explicação do húngaro Szabolcs Sebestyén, professor de Economia da Universidade Católica, integrante do time britânico porque seu país não tem um número significativo de residentes em Portugal. “O verdadeiro motivo dessas estrondosas derrotas dos europeus é que nas equipes dos africanos jogam alguns profissionais”, disse Szabolcs à IPS.

Antonio afirma que o regulamento proíbe a participação de profissionais, mas reconhece que foram detectados alguns casos que corroboram a afirmação do catedrático húngaro. Nesse caso, o castigo foi a derrota. “O único caso verificado este ano, não foi em uma equipe africana, mas na do Brasil, que apesar de vencer facilmente seu adversário (não especificado), quando se soube que havia um profissional no campo de jogo, recebeu a pena máxima, que foi a anulação da vitória e a declaração do adversário como vencedor”, contou.

Entretanto, o regulamento não impede a participação de ex-profissionais, “e esse deve ser o caso citado pelo professor húngaro”, afirmou Antonio. Como exemplo, lembrou a equipe do acadêmico, “onde também joga um ex-profissional inglês, que já tem cerca de 50 anos, mas em campo parece ter 35”. Antonio insiste que “aqui o que realmente importa é a convivência entre as pessoas de todas as origens e profissões, sem violências ou indisciplinas, uma maneira de se conhecer, onde o esporte é praticado em seu estado mais puro”.

A organização é das prefeituras de Lisboa e Sintra e do governo central, por meio do Ministério do Interior, das secretarias de Estado de Esporte e de Inserção Social e do Escritório do Alto Comissariado para as Migrações. Além disso, colaboram no financiamento duas empresas, a Ibérica Comunicação Empresarial e a Mota-Engil, com grandes obras de construção civil em Angola, junto com a Santa Casa de Misericórdia, instituição da Igreja Católica.

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, encarregado da imigração, não deixa passar a oportunidade e destaca funcionários para o Estádio do Lumiar, em Lisboa, e o Primeiro de Dezembro, em Sintra. Não para conferir os documentos dos presentes, mas para promover a legalização dos sem-documentos. Para os futuros campeonatos, há projetos mais amplos e ambiciosos. Para o III Mundialito da Integração, em 2011, a proposta é realizar algumas partidas entre crianças imigrantes e exposições de artistas plásticos dos países participantes.

Por que os mundialitos de integração só acontecem na Península Ibérica e não no resto da Europa? Ninguém arrisca uma resposta certeira, mas Antonio, historiador de profissão, aventura uma possibilidade para o caso de seu país. “Portugal iniciou a globalização há seis séculos. Seu antigo império colonial contou sempre com a marca de um forte componente mestiço e nossa política de integração, com altos e baixos, continua tendo essa marca”, afirmou. Envolverde/IPS

(IPS/Envolverde)
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