Desde o último dia 22 de abril jorra nas águas do Golfo do México uma quantidade indefinida de petróleo, naquele que pode ser o maior desastre ambiental causado pela corrida monopolista em toda a história da humanidade. A quantidade de óleo que flutua sobre o oceano é indefinida porque os números divulgados não tem compromisso com a realidade, mas sim com o esforço para minimizar a perda de valor de mercado da petrolífera British Petroleum (BP).
À medida que vai-se escancarando a real magnitude do que está acontecendo no Golfo do México, com a "maré negra" invadindo o maior rio do USA, o Mississipi, e escurecendo as areias das praias da Flórida, os dados oficiais vão sendo revisados, mas sempre por baixo, e se vai provando que os monopólios, entretidos com a corrida desenfreada pela partilha da terra e do mar, estão cada vez mais incapacitados para limpar a sua própria sujeira. Ou não é exatamente isso o que fica evidente com a sucessão de esforços fracassados para tapar o buraco aberto no duto que extraía petróleo do fundo do mar?
Escancara-se também, uma vez mais, a real natureza dos "Estados de Direito" capitalistas, trombeteados aos quatro ventos como a consolidação definitiva dos direitos e do bem-estar dos cidadãos, mas que na prática não passam de emaranhados institucionais e jurídicos erigidos pela burguesia para garantir a plena operacionalidade dos seus monopólios, garantindo a liberdade quase incondicional de exploração, tanto de petróleo, como ora fica claro, como das pessoas. Ou não é exatamente isso o que se desnuda quando o Estado imperialista ianque diz que a multa máxima que pode aplicar à BP é de pífios US$ 75 milhões?
Ou não é precisamente esta natureza, que ora se tenta escamotear, o que fica à mostra quando se observa a institucionalização dos lobbies junto à administração ianque, e mais ainda quando se toma conhecimento que a BP esteve diretamente envolvida em um recente, e bem-sucedido, esforço de interferência legislativa para afrouxar as regras da exploração petrolífera off-shore no USA?
Sintomas da agonia
E não adianta que Obama, bem à moda da missão para a qual foi escalado pelo alto poder econômico do USA – a de encenar um jogo duro com os monopólios e simular amizade com os povos oprimidos do mundo – cacareje que pretende "chutar o traseiro" dos responsáveis pelo vazamento de petróleo no Golfo do México, ou que apoia o aumento do teto para multas a petrolíferas para US$ 10 bilhões; todos já conhecem o roteiro das farsas desta estirpe.
É a lógica de sempre em casos deste tipo: os monopólios, embrenhados na rapina e na acumulação, ou seja, em seu esforço de sobrevivência em meio à crise geral do capitalismo, atuam de maneira predatória e irracional sobre o meio ambiente, os trabalhadores pagam o pato, e os Estados e as empresas acertam entre si uma conciliação vantajosa para os poderosos.
Veja os desdobramentos do maior vazamento de gás da história, que aconteceu em 1984 na Índia. No dia 2 de dezembro daquele ano, o gás escapou da fábrica de pesticidas da transnacional ianque Union Carbide – que mais adiante, talvez como prêmio, seria comprada pela gigante, também ianque, Dow Chemical – matando mais de 20 mil pessoas na cidade de Bhopal. Ainda hoje a área segue contaminada pelo gás. Mais de 25 anos depois, no último mês de maio, um tribunal de Bhopal finalmente fez "justiça": condenou oito pessoas a dois anos de prisão, pena da qual foram dispensados após pagarem, cada um, US$ 530. Caso encerrado, e revolta entre a população local.
Agora mesmo, enquanto milhares de barris de petróleo seguem vazando da plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México, e enquanto os acionistas da British Petroleum seguem recebendo seus dividendos, os trabalhadores enviados para limpar a sujeira da transnacional britânica estão reportando vários problemas de saúde, como náuseas e dores de cabeça. Dezenas foram hospitalizados. É a crônica das múltiplas tragédias dos monopólios, cujas trapalhadas cada vez mais dantescas, ofensivas e ferozes sobre as massas são sintomas do seu estado agonizante.