Israel vive seu próprio sítio

Jerusalém, 8/6/2010 – Israel aparece cercado pelas críticas internacionais, uma semana após ter atacado em alto mar o navio que liderava uma flotilha humanitária com destino a Gaza. Em junho de 1967, a razão elementar para eclodir a guerra árabe-israelense foi uma profecia autoinfligida pelo Estado judeu: “Os árabes só querem nos jogar no mar”. Essa profecia nunca se concretizou e, no tempo transcorrido desde essa guerra, o Estado palestino não se materializou. O que de verdade gerou aquele conflito bélico foi a ocupação israelense dos territórios palestinos e a resistência a essa ocupação. E o resultado tão esperado depende da direção que a resistência adotar a partir de agora.

Na madrugada de 31 de maio, o navio de bandeira turca Mavi Marmara, que liderava um comboio humanitário de seis embarcações, foi atacado por comandos israelenses fortemente armados enquanto navegava em águas internacionais. Morreram pelo menos nove civis, oito deles turcos. Agora, após a operação contra a “flotilha pela liberdade”, que se dirigia à sitiada Gaza, ninguém poderia prever que o resultado seria um ponto de inflexão capaz de pôr fim à prolongada ocupação. O certo é que, depois do confronto em alto mar, o Mediterrâneo oriental se encaminha para um longo e quente verão.

Nessa estação, as águas estão calmas e quentes e são propícias para que uma flotilha após outra tente romper o bloqueio israelense e chegar à costa de Gaza. Contudo, sob a superfície, o mar ferve, incubando uma tormenta. “O que começou como um confronto trágico está ganhando proporções inesperadas, com grandes implicações estratégicas para a região”, disse Amos Gilad, alto funcionário da Defesa de Israel, à rádio do Exército. “Imaginemos Estados que antes eram aliados e agora literalmente se confrontam entre si. Estamos à beira disso”, acrescentou.

Informes transmitidos de Ancara no final de semana sugeriam que o próprio primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, considerava viajar em outro barco contra o bloqueio israelense e que seria acompanhado por um navio da Marinha turca. A televisão pública de Israel transmitiu esse informe. Embora a notícia tenha sido desmentida por um funcionário turco, o Estado judeu deixou claro que tal medida será vista como uma perigosa provocação.

“Se ele vier aqui com navios de guerra turcos, não haverá dúvidas de que isso equivalerá a uma declaração de guerra”, alertou Uzi Dayan, general da reserva do Exército israelense e ex-titular do Conselho de Segurança Nacional. “Temos que traçar uma linha clara e dizer que qualquer um que a cruzar não será abordado, mas afundado”, acrescentou.

Ontem, também foi divulgado que navios humanitários iranianos logo seguirão para Gaza levando alimentos, remédios e equipamento médico. Partirão “até o final desta semana”, disse à agência nacional de notícias Irna o diretor da Meia-Lua Vermelha iraniana, Abdolrauf Adibzadeh. Antes, Ali Shirazi, representante do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, disse à agência semioficial de notícias Mehr que a Guarda Revolucionária do Irã está pronta para escoltar os navios que tentarem furar o bloqueio marítimo imposto por Israel.

Uma semana depois do ataque em alto mar, não é apenas Gaza que se encontra sitiada. Israel também está. Embora aumente a pressão diplomática, este país se nega a acalmar a tormenta concordando que uma comissão da Organização das Nações Unidas investigue os fatos. “Existem muitas propostas para todo tipo de comissão, mas não queremos estabelecer aqui um precedente problemático para acontecimentos futuros”, disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, primeiramente ao seu gabinete e depois aos ministros de seu partido, o direitista Likud. Em paralelo, o ministro da Defesa, Ehud Barak, afirmou aos ministros do Partido Trabalhista que não deveria haver nenhuma pressa para criar uma comissão investigadora. “Por acaso os Estados Unidos criam um comitê de investigação cada vez que acontece algo no Afeganistão?”, perguntou.

Na reunião a portas fechadas, Barak disse que Israel deveria esperar mais duas ou três semanas. “Todos se esquecerão e a pressão que pesa sobre nós se dissipará”, previu. No entanto, é improvável que a pressão internacional diminua. Os palestinos e os que apoiam o movimento Free Gaza preferem usar a onda de antipatia pelo uso que Israel faz de seu poderio militar para combater na frente equivocada. As atividades da Free Gaza estão se transformando em uma campanha que pretende deslegitimizar o direito de Israel existir, fazendo disto o miolo do assunto: como deslegitimizar os 43 anos de ocupação literal da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental, e a ocupação de fato de Gaza por meio do intenso bloqueio por terra e mar.

A Casa Branca não quer se distrair com essa confusão entre os dois temas. Em um contexto de recriminações, acusações e contra-acusações, de intensas críticas a Israel, e também aos Estados Unidos, por serem tão suaves com o Estado judeu, Washington está conseguindo convencer a Liga Árabe a não retirar seu mandato sobre a Autoridade Nacional Palestina e continuar com as conversações de paz mediadas pelo governo de Barack Obama. De fato, mesmo em meio à estridente indignação com Israel, o enviado especial norte-americano para o Oriente Médio, senador George Mitchell, continuou, no final de semana, com sua diplomacia de “aproximação” entre israelenses e palestinos.

Como maior promotor da solução de dois Estados, a Casa Branca parece determinada a não permitir que o atual confronto em torno de Gaza deixe de lado a questão central que deve ser abordada nas conversações de paz. E é a questão de saber se Israel está genuinamente pronto para chegar a um acordo exaustivo de paz com os palestinos para acabar com a ocupação, libertando não apenas a Cisjordânia, mas também Gaza. IPS/Envolverde

(IPS/Envolverde)
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