"Voltaremos com flotilhas maiores"

Ramalá, 9/6/2010 – Após o ataque de Israel a uma flotilha humanitária que se dirigia a Gaza, o mundo presta mais atenção ao bloqueio contra a faixa palestina, disse em entrevista à IPS a ativista Huwaida Arraf, presidente da entidade que organizou o comboio. Na madrugada de 31 de maio, o navio de bandeira turca Mavi Marmara, que liderava a flotilha de seis embarcações, foi atacado por comandos israelenses fortemente armados enquanto navegava em águas internacionais. Morreram pelo menos nove civis, oito deles turcos.


A IPS conversou com Arraf sobre a controvérsia que cerca os acontecimentos posteriores à operação contra a “Flotilha da Liberdade”. Os que sobreviveram deram uma versão muito diferente da fornecida pelo governo israelense.

IPS: Os críticos acusam a Free Gaza de provocar deliberadamente um confronto com os israelenses e afirmam que a tentativa de violar o sitio foi uma operação política e não apenas humanitária.

HUWAIDA ARRAF: Têm razão em dizer que o objetivo da Free Gaza foi mais do que levar ajuda humanitária. Ficamos profundamente desgostosos que Israel tenha criado deliberadamente e de modo calculado uma crise humanitária no território costeiro e buscamos atrair a atenção internacional para isso. Oitenta por cento da população de Gaza depende da ajuda alimentar. Isto não é consequência de um desastre natural, mas de uma política israelense deliberada e cruel. Preocupa-nos o respeito dos direitos humanos dos moradores de Gaza e que lhes seja permitido levar uma vida normal.

IPS: Os ativistas provocaram os comandos israelenses para que estes usassem a força?


HA: Isto é uma bobagem. Informamos aos israelenses que éramos um navio civil desarmado que transportava ajuda, que não representávamos nenhuma ameaça para eles e que não havia necessidade de abordar nossas embarcações. Explicamos reiteradamente quem éramos e qual era a nossa missão. Nossos barcos foram revistados por diferentes funcionários de segurança em diversos portos de partida, e também contratamos pessoal independente para verificar que não portávamos armas. Fomos atacados em águas internacionais, no meio da noite, quando a maioria das pessoas dormia. Os israelenses usaram uma força naval altamente treinada contra civis desarmados.

IPS: Mas os vídeos mostram ativistas golpeando “mergulhadores” israelenses com barras de ferro.

HA: Não se deve esquecer que os israelenses confiscaram todos os equipamentos dos meios de comunicação e divulgaram vídeos seletivos para tentar justificar sua violência extrema. Além disso, esta foi a resposta de uma pequena quantidade de indivíduos, dos quase 700 que integravam a flotilha. A Free Gaza organizou paineis para os passageiros antes da partida, para explicar como responder sem violência a um ataque ao navio. No entanto, os israelenses atacaram primeiro, inclusive disparando antes que os comandos abordassem o barco. Quando se usa uma violência tão injustificada contra uma embarcação civil, em águas internacionais e que não representa ameaça alguma à segurança de Israel, nem sempre é possível controlar a resposta de algumas pessoas que têm medo, raiva e que podem querer se defender.

IPS: Você não viajava no Mavi Marmara. Como sabe que os israelenses atacaram primeiro?

HA: Eu estava a bordo do Challenger 1, que navegava bem ao lado do Mavi Marmara. Vi os botes israelenses cercando a embarcação. Ouvi as explosões quando começaram a disparar. Depois chegaram os helicópteros e os mergulhadores puderam subir a bordo. Foi depois disto que mataram pessoas a tiros.

IPS: Estão surgindo informes de que vários dos mortos receberam vários disparos na cabeça de cima para baixo.

HA: Eu também ouvi este relato de testemunhas, mas aguardo mais informações.

IPS: Os ativistas também dizem que, nas primeiras horas após o ataque, foi deliberadamente negada ajuda médica aos moribundos e feridos graves.

HA: Isto é verdade.

IPS: Os israelenses afirmam que só usaram a violência contra os passageiros do Mavi Marmara que resistiram. Você concorda?

HA: Isto é uma mentira. Os israelenses usaram uma força e uma violência excessivas contra todos os barcos, inclusive quando não havia resistência. Houve jornalistas atacados, alguns ativistas apanharam tanto que tiveram de ser hospitalizados ao chegarem ao porto israelense de Ashdod. Um soldado israelense apoiou sua bota sobre minha cabeça e a pressionou contra a coberta até que gritei. Eu estava algemada e encapuzada. Mais tarde, na cidade israelense de Ashkelon, um policial me bateu no rosto. Recebi uma cotovelada no queixo e fui arrastada pelo cabelo quando me neguei a subir em uma patrulha.

IPS: Os israelenses dizem que algumas pessoas a bordo tinham vínculos com organizações “terroristas”, entre elas a Al Qaeda, de Osama bin Laden, e o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica). Qual a sua resposta?

HA: Isto é parte de sua propaganda e uma tentativa de desacreditar a Free Gaza. Eles não podem deslegitimizar centenas de pessoas que estavam a bordo, por isso se centraram em uns poucos indivíduos. Não conheço pessoalmente todos os ativistas, por isso não sei quais são seus pontos de vista políticos, mas a Free Gaza não está ligada a nenhuma organização política.

IPS: Os israelenses distribuíram vídeos que confiscaram dos jornalistas a bordo, bem como um áudio editado do qual depois se retrataram e corrigiram. No áudio, um “ativista” supostamente diz aos israelenses, entre outras coisas: “Voltem a Auschwitz”. O que diz sobre isto?

HA: Fiquei perto do rádio de alta frequência o tempo todo em que os capitães se comunicaram com os israelenses. Eles foram as únicas pessoas que falaram com os israelenses além de mim. Falaram de maneira profissional e pude confirmar que não fizeram nenhum desses comentários. O chamado “ativista” que fez as supostas ofensas falou com um falso sotaque do Sul dos Estados Unidos. E não tínhamos nenhum norte-americano do sul a bordo. Eles também disseram que eu estava no Mavi Marmara, mas eu viajava no Challenger 1.

IPS: Você acredita que, apesar do derramamento de sangue e da perda de vidas, a campanha da Free Gaza ajudou a expor a situação humanitária em Gaza?


HA: Creio que aumentou a atenção internacional para o desumano sitio de Israel a Gaza, e que haverá mais pressão sobre Israel para aliviar o bloqueio. E que isso levou a um envolvimento político no plano internacional e diplomático.

IPS: Os israelenses possivelmente esperavam que a força extrema que utilizaram dissuadisse futuros navios da Free Gaza que tentassem chegar à faixa palestina. Conseguiram?

HA: Muito ao contrário. Fomos inundados por pessoas de todo o mundo, de várias organizações, que querem participar de futuras flotilhas. Pessoas de todas as partes estão indignadas com o comportamento de Israel.

IPS: Quais os planos da Free Gaza?


HA: Mais barcos e flotilhas maiores, até rompermos completamente o sitio a Gaza. Voltaremos. IPS/Envolverde


(IPS/Envolverde)

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