Lições do vazamento

O desenho macabro e sinuoso da mancha de petróleo vazado no Golfo do México e que se espalha pela costa sul do EUA conta uma história de avaliação subestimada do risco real da exploração em águas profundas e má governança desse risco.  É prática geral não contabilizar o risco maior em projetos de perfuração e exploração em águas profundas de danos ambientais e perdas econômicas decorrentes.

O fato de 14 dias após a explosão da sonda, ocorrida em 20 de abril, o vazamento continuar sem controle revela muito da análise de impacto que a BP fez da operação e do controle de qualidade do equipamento utilizado. Mas também mostra que não existe tecnologia adequada para lidar com esse tipo de vazamento. O desastre ocorre na maior e mais rica economia do mundo, no país mais avançando tecnologicamente e em um projeto de uma grande e avançada empresa. Ela pediu ajuda a suas concorrentes e as poucas sugestões que recebeu foram tópicas. Ninguém sabe como estancar o vazamento naquela profundidade em tempo de evitar um desastre dessas proporções.

O custo ambiental será imenso. A limpeza não é limpa. É um mal menor apenas. Os dispersantes são tóxicos e terão também impacto negativo nos ambientes marítimo e costeiro afetados.

A perdas econômicas serão enormes. As indenizações que a BP pagará provavelmente superarão as que a Exxon pagou no caso do vazamento do Exxon Valdez, no Alaska. O acidente do Exxon Valdez foi o mais caro desastre petrolífero até hoje no EUA. Ele também revelou que o dano ambiental, sempre subestimado nas análises de risco, se mantém por décadas a fio.

A primeira lição é que o risco é maior do que as empresas admitem. A segunda é que não existe tecnologia adequada nem para prevenção desse risco, nem para controlar prontamente os danos, menos ainda para estancar o processo em tempo hábil. A terceira é que esses desastres têm consequências de longo prazo. A quarta lição é que esses projetos petrolíferos em águas profundas têm um custo escondido.

“O que provavelmente se tornará um dos mais danosos vazamentos da história revela os riscos escondidos de nosso vício por combustíveis fósseis. A verdade é que os combustíveis fósseis são prejudiciais de muitos modos – para nossa saúde, para o ambiente e para a segurança nacional”. (John Podesta e Joseph Romm – “Limited Government can, and often does, lead to unlimited pollution and unlimited disasters”, Climate Progress.)

Esse custo não entra em nenhum plano de negócios, dimensionamento financeiro de projetos, análises financeiras ou de riscos operacionais. O custo escondido do risco – ambiental e econômico – distorce o apreçamento, principalmente o apreçamento comparado que contrapõe o petróleo a fontes alternativas de energia. Ele não aparece nas equações de preço, nem no poço, nem na bomba. O petróleo é mais caro e mais arriscado do que parece. E se tornou ainda mais caro e de alto risco, à medida que nos movemos da exploração convencional em terra, para a perfuração e exploração no mar, em águas profundas. Os mercados e as companhias de seguro deveriam considerar cuidadosamente essas lições, antes de pular sobre os benefícios puramente presumidos da perfuração futura no pré-sal. Os custos escondidos e os riscos reais serão multiplicados por um fator nada desprezível quando sairmos da exploração em águas profundas, para as explorações no pré-sal.

“A única estratégia efetiva é forte supervisão regulatória para evitar desastres no curto prazo e nos livrarmos do petróleo, no longo prazo”.(Podesta e Romm)

Em Washington, considerações de segurança ambiental já fizeram o presidente Obama recuar da decisão de permitir perfurações no mar e condicioná-las à segurança. Ele, porém,

“fez poucas promessas concretas. Disse que ainda acredita que ‘a produção doméstica de petróleo é uma parte importante de nossa estratégia geral para segurança energética’ mas, completou, ‘precisa ser feita de forma responsável para a segurança de nossos trabalhadores e nosso ambiente’.” (Dave Levitan, Solve Climate).

É pouco provável que um desastre dessa magnitude não tenha efeitos políticos colaterais no longo prazo, no EUA e no resto to mundo.

Ele é também um bom caso para que todos examinem mais a fundo as declarações de sustentabilidade das empresas. A credibilidade dos relatórios de sustentabilidade nunca foi muito alta. A extensão dessa mancha de óleo deveria lembrar a todos que não deveriam tomar as afirmações das empresas e seus relatórios pelo valor de face. Ações de sustentabilidade devem ser reportadas de tal forma que possam ser medidas – por boas e comprovadas métricas – e verificáveis.

Ouça também o comentário na rádio CBN: http://bit.ly/RFzG

(Envolverde/Ecopolítica)
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