Desempregados como os pais

Bratislava, 4/5/2010 – Uma geração de meninos e meninas da Europa oriental será pobre quando chegar à idade adulta devido ao prolongado desemprego de seus pais, alertam sociólogos e economistas. Dezenas de milhares de crianças com pais que, em alguns casos, há dez anos estão sem trabalhar, não adquirem o conceito de trabalho assalariado e consideram “normal” ser pobre e depender de uma magra assistência social. “É uma tendência alarmante, que ajuda a perpetuar o círculo vicioso de desemprego e pobreza. A sociedade civil e o governo devem dar atenção ao problema”, disse à IPS Monika Cambalikova, socióloga da Academia de Ciências Eslovaca, da Bratislava.

A Europa oriental tem os índices de desemprego mais altos do Ocidente. Os últimos prognósticos indicam que 20% da população economicamente ativa não trabalhará este ano na Letônia, 14% na Eslováquia e 10% na Hungria e na Romênia. Há grandes bolsões de população onde o desemprego alcança 90% da população economicamente ativa, dizem economistas. Os trabalhadores não qualificados com pouco estudo e sem possibilidades de acesso a uma melhor educação ou capacitação por sua situação econômica não podem ingressar no mercado de trabalho.

“Há crianças que crescem sem ver seus pais levantarem pela manhã, ir trabalhar e ganhar um salário”, disse Cambalikova. “O estilo de vida que conhecem é depender da assistência social”, acrescentou. “Chega um momento em que os menores deixam de desprezar essa situação, que passa a ser algo normal e aceito. Perdem a vontade ou o desejo de que as coisas sejam diferentes, e aceitam a situação como uma estratégia para sobreviver. Perdem toda ambição e motivações para viver e trabalhar”, acrescentou.

A partir de certa idade, é difícil romper o círculo de pobreza em que estão porque não podem conseguir trabalho, explicou Peter Havlik, subdiretor do Instituto Internacional de Estudos Econômicos. “O papel da família para inculcar inclinação ao trabalho nos filhos é extremamente importante”, acrescentou. O prolongado desemprego, que leva uma família à pobreza e aumenta em 15% o risco de baixo rendimento escolar, pode afetar de modo significativo a memória no curto prazo e ter consequências devastadoras sobre a motivação na escola e na vida, segundo estudo divulgado no mês passado pelo não governamental Centro sobre Famílias Contemporâneas, dos Estados Unidos

Os menores também têm mais possibilidades de apresentar comportamentos problemáticos. As crianças que empobrecem durante uma recessão têm três vezes mais possibilidades do que as demais de serem adultos pobres. O problema é muito sério para uma das etnias mais desfavorecidas e pobres da Europa, os ciganos, uma das maiores minorias. Em algumas de suas comunidades, o desemprego chega a 90% da população economicamente ativa, segundo especialistas.

Os ciganos denunciam discriminação trabalhista. A escassa escolaridade faz com que não haja muitos trabalhadores qualificados. Entretanto, “não se trata de um problema étnico e ocorre em outros setores sociais. O desemprego representa maior ameaça para o futuro, pois pode se propagar e ameaça ampliar a brecha entre ricos e pobres”, disse Cambalikova. “O problema não é apenas na Eslováquia, e afeta famílias e comunidades pobres em outros lugares”, acrescentou.

O governo deve tomar medidas especiais para facilitar o acesso à educação de menores de famílias pobres, disse Cambalikova. Porém, segundo Havlik, não existem soluções rápidas. “Nos países com alto índice de desemprego, com na região dos Bálcãs, algumas pessoas não trabalham há anos”, disse. “O problema é que a situação se prolonga há anos, é sistemático e o desemprego de longo prazo, de certa forma, é aceito, o que em si mesmo é um grave problema social”, acrescentou. “Não existe uma solução simples. Podem ser criadas políticas para impulsionar o crescimento econômico, mas com a crise atual seria muito difícil colocá-las em prática”, ressaltou. IPS/Envolverde

(IPS/Envolverde)
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