As autoridades cubanas solicitaram à Espanha receber Farinas, segundo confirmaram a jornalistas fontes diplomáticas desse país. Mas o ativista reiterou que não encerrará a greve de fome e que só aceitaria viajar para Madri no caso de Havana lhe negar cuidados médicos, para lá continuar sua ação. Soube-se que foi visitado por funcionários diplomáticos espanhois no final da semana passada, em sua casa em Santa Clara, a quase 300 quilômetros de Havana. A delegação teria pedido, sem sucesso, que ele desistisse da greve de fome para dar lugar a uma negociação.
A Espanha ocupa este semestre a presidência da União Europeia, de onde busca consenso para eliminar a chamada “posição comum” do bloco, que pede mudanças na política cubana de direitos humanos, entre outras exigências. O governo de Raúl Castro considera que essas reclamações são uma ingerência nos assuntos internos de seu país. O opositor Farinas começou a jejuar há 13 dias, após a morte, em 23 de fevereiro, do preso Orlando Zapata Tamayo, que ficou mais de 80 dias sem ingerir alimentos na prisão. Os dois casos criaram grande repercussão no mundo, em contraste com o silêncio oficial e da mídia dentro de Cuba.
Em sua versão, o Granma acusa “importantes meios de imprensa ocidentais”, que não cita, “de chamar a atenção com mentira pré-fabricada” e tornar óbvias notícias como a ajuda médica enviada ao Haiti ou o começo de uma campanha de vacinação em Cuba contra a poliomielite para mais de meio milhão de crianças deste país. “A manipulação é tal que notícias chegam a sugerir que o governo cubano indicou que se deixe morrer este assalariado da Seção de Interesses dos Estados Unidos (Sina) em Havana, sem citar uma única palavra sobre os múltiplos esforços de profissionais da saúde para ajudar essa pessoa”, acrescenta o jornal.
O governo cubano considera todos os opositores, sem distinção de tendências ou filiações, “mercenários” e “peões a soldo” da política hostil de Washington para Cuba. Por isso, não aceita a existência de “presos políticos” nas prisões cubanas. O Granma disse que Farinas é um contrarrevolucionário que agrediu fisicamente, em 1995, uma funcionária de uma instituição de saúde onde trabalhava como psicólogo, “causando-lhe múltiplas lesões no rosto e nos braços”. Esse crime lhe custou três anos de privação de liberdade “sem internamento”.
Este ato público “revelou o claro desajuste de sua personalidade e não tinha nenhuma conotação política”, acrescentou o jornal, lembrando que Farinas ratificou sua “natureza violenta” em 2002, quando em Santa Clara, sua cidade natal, bateu com um bastão em um idoso “que havia impedido um ato terrorista”, segundo o Granma. Por esse crime foi condenado a cinco anos e dez meses de prisão. Nessa oportunidade, Farinas recorreu pela segunda vez à greve de fome e foi tratado com soro após apresentar “leve desidratação”, segundo o jornal. Entre as demandas deste opositor em greves de fome realizadas mais tarde, figura o acesso à Internet de sua casa.
“Sua folha de serviços é ampla também na assistência a atividades de todo tipo da Sina e de algumas sedes diplomáticas europeias que dirigem a subversão em Cuba, das quais recebe instruções, dinheiro e abastecimento”, assegurou o jornal. Segundo o Granma, como “consequência de episódios sucessivos de greves de fome, o organismo do opositor está em um forte processo de deterioração” e, se continua com vida, “é graças aos cuidados médicos qualificados que recebe, sem importar sua condição de mercenário”.
“Neste caso, não é a medicina que deve resolver o problema intencionalmente criado com o propósito de desacreditar nosso sistema político, mas o próprio paciente e os apátridas, diplomatas estrangeiros e a mídia que o manipulam. As consequências serão de sua inteira e única responsabilidade”, advertiu o jornal. Não há antecedentes de que o governo cubano ceda a este tipo de medida, e menos ainda com um acompanhamento da mídia como o atual. A oposição interna age sem reconhecimento legal e é praticamente desconhecida da maioria da população cubana.
Em um comunicado entregue ontem à tarde à imprensa estrangeira, Elizardo Sánchez, porta-voz da opositora Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, explicou que essa organização se “opõe enérgica e publicamente às greves de fome”. Dias antes, o ativista pelos direitos humanos dissera à IPS que o grevista estava acompanhado de um médico amigo e que também recebera a visita de um médico de seu bairro. Na semana passada, foi atendido por algumas horas no hospital, após sofrer um choque hipoglicêmico. Segundo Sánchez, Havana está na obrigação de facilitar cuidados médicos permanentes a Farinas, permitindo sua entrada em uma sala de cuidados intensivos de um hospital com os recursos apropriados. IPS/Envolverde
(IPS/Envolverde)