Na Argentina, ela já deixou claro que pretende se assegurar de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “compreende a preocupação mundial com o Irã”.
Segundo ela, foi constatado que o Irã “está violando as determinações da Agência Internacional de Energia Atômica e do Conselho de Segurança” da ONU. “Esse será um tema abordado pelo Conselho de Segurança, então quero me assegurar de que (o presidente Lula) tem a mesma compreensão que nós sobre como esse assunto vai se desenrolar”, declarou.
A senhora Clinton elogiou o governo argentino por sua posição em relação ao Irã, sublinhando a “liderança argentina na campanha da não proliferação nuclear”. De acordo com ela, o governo de Cristina Kirchner tem uma “compreensão clara sobre os perigos” das armas nucleares.
O discurso da secretária já antecipa qual deve ser o tom da sua vinda ao Brasil, no fim da tarde de hoje. E não poderia ser diferente, afinal, a visão dos Estados Unidos em relação à América Latina sempre foi neocolonialista, estabelecendo uma relação pautada na dominação, na imposição.
E, contrapondo-se aos desejos norte-americanos, o Brasil tem sido firme ao colocar que não se deve isolar o Irã e ao defender o direito do país asiático de desenvolver seu programa de enriquecimento de urânio com fins pacíficos. Apesar de o Irã negar objetivos bélicos, os Estados Unidos insistem nessa tese.
A chiadeira norte-americana em relação a uma aproximação Brasil-Irã ganhou corpo quando o presidente brasileiro anunciou que receberia o colega iraniano Mahmoud Ahmadinejad, em Brasília, em novembro passado. Agora, Lula deve retribuir a visita indo a Teerã em maio, apesar da grita dos Estados Unidos.
"Estou indo para o Irã como vou a qualquer país do mundo, e os Estados Unidos nunca me pediram para visitar algum lugar. Eles não têm de prestar contas a mim. Eles visitam quem eles querem e eu visito quem eu quero, dentro do direito soberano de cada país. Vou visitar o Irã e não terei de prestar contas a ninguém a não ser ao povo brasileiro”, tem dito Lula.
Na visita ao país, Hillary vai insistir na necessidade de o Brasil se somar às pressões ao Irã. “Queremos que os brasileiros sejam mais enérgicos com os iranianos”, disse na semana passada o norte-americano Arturo Valenzuela, assistente de Estado para o Hemisfério Ocidental, com a arrogância inerente à sua posição.
O fato é que o tour da senhora Clinton nada tem de amigável, apesar das aparências. Ao longo da história, os EUA já mostraram diversas vezes que seus interesses são antagônicos aos dos povos da América Latina.
Com a chegada de Barack Obama ao governo, surgiram esperanças de que poderia haver “um recomeço nas relações com o continente”, como prometeu o próprio presidente. Mas as atitudes consumadas seguiram em caminho oposto ao discurso, - vide a reativação da Quarta Frota, a instalação de novas bases militares na Colômbia, o apoio ao golpe de Honduras, a manutenção do bloqueio a Cuba e o eterno ar de dominador com o qual os Estados Unidos se dirigem aos demais países.
Com os esforços de integração regional - sem a presença norte-americana - avançando cada vez mais sobre as bases da solidariedade e das justas relações, os Estados Unidos se viram perdendo espaço no continente. É nesse cenário que se dá a viagem de Hillary, que acena com pequenos gestos aos países, na tentativa de mostrar força.
Ontem, Hillary, em encontro com Cristina Kirchner, ofereceu-se para mediar o conflito entre Argentina e Inglaterra por causa das Ilhas Malvinas. "Gostaríamos de ver a Argentina e a Grã-Bretanha na mesa de negociações" discutindo a situação, disse. Cristina agradeceu "a amável intermediação" de Washington.
Antes, a secretária esteve no Uruguai, onde assitiu à posse do novo presidnete José Mujica e tratou de temas como a capitalização do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o aumento de investidores norte-americanos no Uruguai.
Nesta terça pela manhã ela chegou ao Chile, para discutir com autoridades locais como Washington “pode contribuir” para o esforço internacional de “ajuda” ao país, vítima de um terremoto que matou cerca de 700 pessoas – mais uma forma de o país norte-americano posar de “bom moço” diante da comunidade internacional.
(Envolverde/Revista Fórum)