Intolerância religiosa envolve 70% da população mundial

Washington, 04/01/2010 – Quase 70% dos 6,8 bilhões de habitantes do planeta vivem em países com severas restrições estatais e hostilidades sociais à liberdade religiosa, segundo o Pew Research Center, centro de pesquisas com sede em Washington, que analisou as restrições à religião em políticas de Estado de 198 países e territórios, bem como as hostilidades contra indivíduos, organizações e grupos sociais.

Arábia Saudita, Paquistão e Irã encabeçam a lista de nações com a pior situação no geral, enquanto Oriente Médio e África do Norte são as regiões com as maiores restrições governamentais e sociais, segundo o informe, que inclui 99,5% da população mundial. América do Norte e América do Sul estão entre as zonas com menores níveis de restrições governamentais e sociais, diz o estudo publicado em dezembro.

Dos 25 países mais habitados do mundo, as maiores limitações estão no Irã, Egito, Indonésia, Paquistão e Índia, enquanto os menores obstáculos são encontrados no Brasil, Japão, Estados Unidos, Itália, África do Sul e Grã-Bretanha. Às vezes, as duas variáveis não seguem lado a lado. “Vietnã e China, por exemplo, mostram grandes restrições governamentais à religião, mas quanto às hostilidades sociais estão em um nível moderado ou baixo”, diz o estudo. “Na Nigéria e em Bangladesh, registra-se o padrão contrário. As hostilidades sociais são altas, mas caem para moderadas com relação às ações do governo”, acrescenta o informe.

O estudo utiliza dados de 16 organizações estatais e não-governamentais, incluindo a Organização das Nações Unidas, o Departamento de Estado norte-americano e a defensora dos direitos humanos Human Rights Watch. Entre as restrições estatais examinadas pelo Centro Pew estão as limitações constitucionais ou outras proibições contra a liberdade de expressão. A hostilidade social foi medida pelo terrorismo com motivos religiosos e a violência entre confissões de fé.

As restrições governamentais são relativamente baixas nos Estados Unidos, mas a hostilidade é maior do que em outras grandes democracias, como Brasil e Japão. A maioria dos países protege a liberdade religiosa em suas constituições ou leis, mas apenas um em cada quatro cumpre plenamente essas proteções legais. Em 75 nações, os governos limitam os esforços proselitistas das organizações religiosas, e em 178 (90% do total) os grupos religiosos devem se registrar em órgãos do Estado.

China e Índia, os países com maior população do mundo, também têm restrições extremas, mas com diferenças. As restrições governamentais são muito altas na China e entre moderadas e altas na Índia, enquanto a hostilidade social é de baixa a moderada na China e muito alta na Índia. “Também há países muito pequenos (com altos níveis de limitações), como Maldivas. Mas, vendo por esse lado, quanto maior o país multiplica-se a quantidade de problemas com os quais sua população deve lidar”, disse Brian Grim, pesquisador do Centro Pew, em entrevista à IPS.

Os primeiros lugares na lista de restrições governamentais ficaram com Arábia Saudita, Irã, Uzbequistão, China, Egito, Birmânia, Maldivas, Eritréia, Malásia e Brunei. As piores hostilidades sociais foram encontradas em Iraque, Índia, Paquistão, Afeganistão, Indonésia, Bangladesh, Somália, Israel, Sri Lanka, Sudão e Arábia Saudita. Israel tem uma pontuação alta no índice de hostilidade social. “As hostilidades sociais de Israel incluem atos de terrorismo relacionados com a religião e guerra de hostilidades com os palestinos”, explicou Grim.

A maioria dos países que apresentam níveis muito altos de restrições à religião compartilha uma particularidade, disse o pesquisador. “Eles tem em comum a característica de ter movimentos para definir o país religiosamente. As consequências da invasão dos Estados Unidos no Iraque foram a luta entre as facções islâmicas sunitas e xiitas” para determinar a identidade religiosa do país, afirmou Grim. A tendência geral é que os níveis mais altos de restrições governamentais ocorram no Oriente Médio e na África do Norte, seguidos de Ásia e Pacífico. Em geral, as limitações governamentais parecem ser menores na África subsaariana do que na Europa.

O vínculo entre religião e os temores gerados pela imigração, como revela o referendo de novembro na Suíça que proibiu a construção de minaretes, pode ser o fator principal dos níveis mais altos de restrições estatais no continente europeu. (IPS/Envolverde)

(Envolverde/IPS)
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