Os representantes e delegados dos países procuram fixar objetivos mais rígidos em matéria de redução de gás-estufa, que aquecem a Terra, para os países em desenvolvimento e outros para os que não são signatários do Protocolo de Kyoto, cujas metas expiram em 2012. Este instrumento obriga os 37 países industriais que o ratificaram a reduzir suas emissões até 2012 5,2% menos aos níveis de 1990.
“A África reclama das nações ricas mais de 5%, ao ano, do produto interno bruto de cada uma por sua dívida histórica e por continuarem causando danos”, disse à IPS o presidente do Grupo dos 77, Lumumba Do-Aping. “Falamos de US$ 2 trilhões de dólares ao ano até 2050 para adaptação, mitigação e transferência tecnológica”, explicou. “Não cremos que seja uma grande quantia, pois os Estados Unidos destinaram US$ 2,2 trilhões para salvar Wall Street”, acrescentou se referindo à ajuda de Washington às empresas privadas devido à crise financeira.
Lumumba reclamou uma considerável redução das emissões. “Muitos países não querem que as temperaturas aumentem mais de 1,5 grau”, disse à IPS. Sua posição se relaciona com a que Tuvalu apresentou em uma controvertida proposta no começo da reunião na Dinamarca. Os países industriais, bem como Brasil, China, Índia e África do Sul, que apresentaram um documento conjunto, são reticentes a considerar pelo menos trabalhar nesse contexto, e preferem discutir medidas para manter o aquecimento global abaixo dos dois graus”.
“Mas a mudança climática afetará a África 150% acima da média mundial”, afirmou Lumumba. “Sofreremos os efeitos de um aumento de três graus ou mais. Isto é, nos conduzem para uma injustiça. Não aceitaremos que matem nossa gente”. O grupo africano assumiu um grande desafio de levar uma posição em bloco a Copenhague. Além disso, será mais difícil manter a solidariedade do bloco integrado pelo G-77 e china. “No momento nada está acordado”, afirmou Bisi Tapere, negociadora da delegação nigeriana referindo-se a uma resolução conjunta. “Às vezes, temos de aceitar a discordância. Os venezuelanos disseram que não estão de acordo com o curso proposto, mas, no final, teremos de chegar a um acordo”, acrescentou.
A África não tem ferramentas para pressionar os países ricos se estes não aceitarem suas reclamações, reconheceu Tapere. As diversas necessidades das nações africanas não necessariamente colocam em risco a unidade, nem mesmo para seu país, o segundo exportador de petróleo do continente que poderia perder dinheiro devido à redução de emissões por combustíveis fósseis, disse a negociadora nigeriana.
“Não será bom para nossa renda, para nada”, reconheceu. “Mas, não me oponho à redução de emissões que propomos. Os ganhos com petróleo cairão, mas é mais importante ter renda constante do que a atual situação em que cada país faz o que quer”, afirmou. “Se a África está unida, no final será melhor para nós. A Nigéria terá de ir à luta por contra própria, lutamos de forma coletiva, como continente. Nossa voz foi ouvida e será ainda mais, nos restam ainda duros golpes para desfechar”, acrescentou
Os sinais que surgem na medida em que avançam as negociações são preocupantes. O boato de uma possível fissura no grupo africano motivou o cancelamento de várias entrevistas coletivas, o que indica as dificuldades que tem para chegar a um acordo. Os países africanos mais pobres não deram importância a um documento dinamarquês com compromissos vinculantes para as economias emergentes que vazou para a imprensa na semana passada e apoiaram fortemente a proposta de Tuvalu. Estados-chave como China e Índia negaram-se até mesmo a considerá-la.
“Vamos ouvir o que têm a dizer e apresentaremos nosso argumento. Mas, se não seguirem para nenhum lado, não duvidaremos em nos levantar e partir”, disse Lumumba, o que já fizeram na conferência climática de Barcelona. E o que ocorrerá se ninguém ouvir o que diz a África? “Muito simples, então saberemos porque morremos”, respondeu, após uma pausa. (IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS/TerraViva)