Washington, 26/10/2009 – A preocupação da população norte-americana frente o aquecimento do planeta caiu constantemente nos últimos três anos, segundo o Centro de Pesquisas Pew para o Público e a Imprensa. A última pesquisa da instituição a respeito foi conhecida faltando seis semanas para a Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que em Copenhague tentará reafirmar o compromisso da comunidade internacional para enfrentar o fenômeno.
O Centro informou que 65% dos 1.500 adultos
entrevistados nos Estados Unidos entre 30 de setembro e 4 deste mês acreditam
que o aquecimento global é um problema “muito sério” (35%) ou “um tanto sério”
(30%). Essa porcentagem era de 79% na pesquisa divulgada em julho de 2006 e de
73% na de abril de 2008. Ainda mais abrupta é a queda da proporção dos
entrevistados para os quais “existe evidência sólida de que a Terra está
esquentando” (de 71% no ano passado para 57% hoje) e de quem atribui o processo
principalmente à atividade humana (de 47% para 36%).
Na conferência de
Copenhague, representantes de 192 países tentarão chegar a um acordo sobre os
princípios básicos de um tratado para reduzir as emissões mundiais de gases
causadores do efeito estufa, que, segundo virtualmente todos os especialistas em
clima, constituem a principal causa do aquecimento do planeta. O convênio terá
vigência a partir de 2012, quando termina a primeira fase de compromissos
assumidos no Protocolo de Kyoto, que obriga os países industrializados a
reduzirem suas emissões até esse ano, em média, 7% abaixo das registradas em
1990.
O governo de Barack Obama pressiona o Congresso dos Estados Unidos
para que aprove antes da conferência na capital dinamarquesa projetos que
comprometam o país a reduzir, até 2050, suas emissões em 80% com relação aos
níveis de 1990. Washington assinou o Protocolo de Kyoto durante o governo de
Bill Clinton (1993-2001), mas seu sucessor, George W. Bush (2001-2009) retirou a
assinatura em seu primeiro ano de mandato.
As iniciativas legislativas de
Obama têm o objetivo de convencer grandes países em desenvolvimento, como China
e Índia, a reduzirem suas emissões no contexto do tratado que vigorará a partir
de 2012. A Câmara de Representantes já aprovou os projetos. O Senado examina sua
própria versão do pacote. Mas, altos funcionários admitem que sua sanção
definitiva não acontecerá antes do começo do próximo ano.
Apesar da queda
da preocupação e da credibilidade dos cientistas por parte do público
norte-americano, 56% dos entrevistados pelo Centro Pew disseram preferir que seu
país una-se a outros para enfrentar a mudança climática. Apenas 32% se
inclinaram por atacar o problema unilateralmente. A pesquisa fortalece no
Congresso a posição dos que se opõem às ações fortes e rápidas alentadas pelo
governo de Obama contra o aquecimento global.
O diretor associado do
Centro Pew para a área de pesquisas, Michael Dimock, atribuiu a queda da
proporção de entrevistados preocupados com a mudança climática e dos que
acreditam que o fenômeno tem origem humana ao fato de a economia e o sistema de
saúde dominarem o debate político este ano. “As pessoas não pensam apenas no
aquecimento global. Estão mais concentradas em preocupações econômicas e no
debate sobre a saúde”, disse Dimock. “As pessoas não têm uma opinião fixa sobre
mudança climática porque não pensam muito nisso”, acrescentou.
Outras
pesquisas recentes mostram mudanças na opinião pública sobre aborto, imigração
“e um montão de questões que eram realmente intensas há dois anos, mas que foram
deixadas de lado”. Ainda assim, as conclusões da pesquisa são particularmente
surpreendentes à luz do consenso científico: o aquecimento é ainda mais
acelerado do que se pensava há apenas dois anos, quando o Grupo
Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), que reúne centenas dos
principais especialistas mundiais na matéria, emitiu seu mais recente
informe.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma)
alertou no mês passado, ao divulgar seu Compêndio Cientifico sobre Mudança
Climática 2009, que o planeta está rapidamente se aproximando dos umbrais ou
“pontos de desequilíbrio” e que ultrapassá-los desordenaria permanentemente
ecossistemas inteiros que sustentam a vida de milhões de pessoas. Estudos que
constam do Compêndio do Pnuma preveem aumento da temperatura do planeta de até
4,3 graus – a hipótese extrema do IPCC em 2007 – para o final deste século,
mesmo se os países industrializados cumprirem suas metas mais ambiciosas de
redução das emissões, com a de 80% até 2050 acordada pela cúpula do Grupo dos 20
em julho.
A preocupação do público norte-americano em torno da mudança
climática chegou ao seu pico em 2006 e 2007, quando “Na Inconvenient Truth” (Uma
verdade inconveniente), documentário do ex-vice-presidente Al Gore, foi um
sucesso de bilheteria e ganhou dois Oscar da Academia de Artes e Ciências
Cinematográficas. IPS/Envolverde
(Envolverde/IPS)