Casas à prova de inundações e furacões

México, 31 de agosto (IPS/IFEJ) - O mexicano Federico Martinez nasceu em terra de ciclones. Quando criança viu o vento arrancar árvores e fazer rodar casas de madeira “como se fossem caixas de sapato”. Adulto, desenvolveu uma casa que suporta ventos de 300 quilômetros por hora e inundações de três metros de altura. A casa criada por este engenheiro do Instituto Politécnico Nacional (IPN) é uma resposta à recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU) para que os países desenvolvam moradias que suportem fenômenos meteorológicos severos.


O quarto informe do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática, vinculado à ONU, alerta para o aumento de ciclones e furacões devido à elevação da temperatura no planeta, bem como para o fato de que o nível do mar pode subir até um metro antes do final deste século.

Martinez desenvolveu esta tecnologia em sua empresa, a Ingeniería Creativa em Acero (Creacero), com apoio do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e do IPN. “Fiz vários projetos de casas à prova de ciclones e, durante anos, após cada ciclone ia ver como eram afetadas”, recordou. Ele cresceu na cidade de Madero, no Estado de Tamaulipas, no Golfo do México, e em mais de uma ocasião viu como, após os ciclones, pessoas e animais morriam ao pisar em cabos de eletricidade e outros desapareciam arrastados pelas correntes das inundações.

Sua preocupação se transformou em uma resposta a este fenômeno. Desde o final de julho, os visitantes do Centro de Difusão de Ciência e Tecnologia (Cedicyt) do IPN, na cidade do México, podem ver dois protótipos de casas e um de escola-abrigo construídos por Martinez. Com aparência que não difere de qualquer casa com detalhes em branco e violeta, são construções resistentes a furacões de grau 5, o máximo na escala Saffir-Simpson, que mede a intensidade dos ventos. A casa “é uma caixa de aço recoberta por concreto”, disse Martinez ao Terramérica.

As casas são pré-fabricadas, medem 42 metros quadrados, e possuem dois dormitórios, sala, banheiro e cozinha. Também têm uma cúpula e pequenas janelas nas partes inferior e superior das paredes, que formam “um sistema de convecção do ar: o ar quente vai para cima e neste caso as janelinhas da parte superior servem para deixá-lo sair, e as de baixo para repor o ar”, explicou Martinez. As janelinhas são de vidro e têm uma proteção em malha, para evitar danos aos moradores caso se quebrem.

As casas foram projetadas para serem construídas em zonas costeiras. O México tem 15 Estados com litoral. “São muito quentes e vulneráveis ao efeito dos furacões e dos ciclones”, disse ao Terramérica o coordenador do Programa de Mudança Climática e Sustentabilidade do IPN, Victor Manuel López. No total, “5% do território nacional, quase dois milhões de quilômetros, possui costa, e tudo o que está aí, tanto pessoas quanto infraestrutura, é vulnerável a furacões, inundações e ao aumento do nível do mar”, acrescentou. No Estado de Quintana Roo, “há comunidades de pescadores que já pedem a construção de um ‘malecón’ (quebra-ondas) de oito quilômetros e que sejam reassentados, e algumas testemunhas dizem que o nível do mar estava em um lugar e que agora está em outro”, afirmou.

Para os casos de inundações, uma das casas desenvolvidas por Martinez está montada sobre pilares de 2,80 metros de altura. “As inundações passam por baixo da casa sem causar danos, a menos que a água suba mais de três metros, que seriam casos muito especiais”, explica o engenheiro. Enquanto a água não chega, a área inferior da moradia elevada pode ser usada como garagem, para reuniões ou descanso. A casa térrea tem custo aproximado de US$ 32 mil, e a elevada de US$ 64 mil, considerados os valores de uma construção artesanal. Porém, os preços cairão dois terços com a industrialização do processo e também diminuirá o tempo de produção.

Construir os protótipos no Cedicyt demorou oito meses. “Com a produção industrializada, nossa capacidade será de cinco minutos para fabricar o perfil de aço e as vidraças para uma casa”, assegurou ao Terramérica Herón Colín Suárez, diretor administrativo da Creacero. A pré-fabricação “permitirá que seja construída em tempo muito curto e em qualquer lugar, inclusive onde não há energia elétrica, porque pode ser aparafusada. Haverá um manual com instruções sobre como montá-la e peças para que sua construção seja muito rápida, sem a necessidade de mão-de-obra especializada”, explicou.

A Creacero está em busca de financiamento para montar uma fábrica. É preciso montar duas máquinas, ter um elevador de cargas e pessoal capacitado. O investimento necessário é de US$ 2,5 milhões. Além de casas, essa fábrica poderá produzir materiais para construção de escolas, hospitais e qualquer tipo de edifício. Um exemplo é o terceiro protótipo instalado no Cedicyt, uma escola-abrigo de seis metros por 15, destinado a aulas e também para ser um lugar onde as pessoas possam se abrigar quando chegarem os ventos dos furacões.

Os protótipos, projetados para suportar ciclones, também podem resistir a outros fenômenos extremos, como tornados, avalanches e terremotos, de acordo com o engenheiro. López afirmou que no Japão também foram desenvolvidas casas resistentes a furacões e inundações, construídas em Bangladesh. A vantagem do modelo mexicano é que elimina o importante custo de importação de tecnologia, ressaltou.

O México poderá sofrer perdas econômicas de até US$ 1,7 bilhão por danos em suas costas do Atlântico e do Pacífico na atual temporada de furacões, alertaram empresas seguradoras em um seminário realizado no começo deste ano. Segundo o Serviço Meteorológico Nacional, o litoral mexicano poderá ser afetado por 24 ciclones em 2009. “O governo já tem prontos os procedimentos de albergues onde há serviços e concentração de pessoas”, mas “estas soluções foram pensadas para grandes populações e não para populações rurais”, disse López. O valor das casas do IPN e da Creacero é que foram projetadas para serem construídas facilmente em zonas rurais.

* Este artigo é parte de uma série produzida pela IPS (Inter Press Service) e pela IFEJ (Federação Internacional de Jornalistas Ambientais) para a Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável (http://www.complusalliance.org).

Crédito da imagem: Verônica Díaz Favela/IPS

Legenda: Protótipo de casa desenvolvido no México resistente a furacões e inundações.

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