A exposição “Christian Lacroix – Trajes de Cena” foi muito bem recebida pelo público convidado para a festa de inauguração, realizada na noite de 23 de agosto no Museu da Arte Brasileira da FAAP, em São Paulo. Os cerca de 100 trajes e 80 desenhos originais em exibição criados pelo estilista francês foram elaborados, em sua maior parte, para apresentação em peças de teatro, balés e óperas. A mostra integra o calendário oficial do Ano da França no Brasil e ficará em cartaz até 1º de novembro. Sua realização é resultado da parceria do Museu da FAAP com o Centre National du Costume de Scène (CNCS), em Moulins, na França.
“O nível dessa exposição é muito alto, ela está muito bem montada. Vejo que a moda é um tema do Ano da França no Brasil, que mostra a França contemporânea, pois passa a valorizar a atividade do designer de moda como uma forma de manifestação artística”, apontou o chefe do Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Conselheiro José Mário Ferreira Filho. Segundo ele, Lacroix é muito influenciado pela moda dos séculos XVIII e, principalmente XIX. “Ele mescla muito bem inspirações de ambos. Ele não está simplesmente recriando outro período, ou copiando um traje desses séculos exibido em um museu. Ele os retrabalha e, por isso, os torna contemporâneos”, afirmou.
A mostra traz criações do estilista para óperas, balés e peças, como “Fedra”, de Racine, para a Comédie-Française, Paris, 1995, pela qual ele recebeu seu primeiro Molière; “Cosi fan tutte”, de Mozart, para Théâtre de La Monnaie, Bruxelas, 2006; “Carmen”, de Bizet, criada para Arène de Nîmes, 1989; e “Sherazade”, balé de Blanca Li, para a Opéra National de Paris, 2001. A exposição conta também com croquis e vídeos. A mostra foi idealizada para o CNCS pelo próprio estilista em 2007, que atuou como curador de duas exposições para as comemorações de 20 anos da sua maison. O CNCS é presidido por Lacroix e foi inaugurado em 2006 para ser o primeiro centro de conservação no mundo de patrimônio material dos teatros.
Para o presidente do Comissariado Brasileiro do Ano da França no Brasil, Danilo Santos de Miranda, a exposição revela uma riqueza de informações importantíssimas a respeito um artista de trajetória consagradora e influente no universo da moda. “Para nós, no Brasil, é de suma importância termos a oportunidade de assistir a esse trabalho, já que não temos uma tradição tão extensa nesse campo. É mais uma ação do Ano da França no Brasil. Esse contato poderá nos ajudar a desenvolver também no Brasil esse tipo de proposta com o mesmo nível de sofisticação e apresentação”, afirmou.
Fonte de inspiração
A curadora da exposição na França e diretora-adjunta do CNCS, Delphine Pinasa, enalteceu a homenagem ao estilista. “Os primeiros desenhos de Lacroix sempre foram para o teatro. Quando ele era criança, ia às peças com sua mãe. Ao voltar para casa, redesenhava as roupas dos personagens. É um mágico de cores, volumes e extravagância”, afirmou. De acordo com ela, há uma sutil diferença entre suas peças prêt-à-porter e as destinadas a fins artísticos. “Na moda trata-se de um trabalho individual. Os costumes são desenhados a partir de sua própria imaginação, inspirada em suas próprias experiências. No teatro é um outro processo. Ele está integrado a uma equipe, precisa escutar diretor, produtor, coreógrafos, se adaptar ao contexto da história e saber qual ator vai utilizar a roupa. Nesse caso, sua imaginação está à disposição de sua equipe”, afirmou.
O Cônsul da França em São Paulo, Jean-Marc Gravier, não escondeu sua admiração pela exposição. “A criação de trajes destinados aos palcos é talvez, em termos artísticos, uma manifestação mais elaborada do que os vestimentos para nosso dia-a-dia. Os primeiros nos fazem ter uma noção de ilusão, pois o público estará sempre longe deles. Não é o caso da moda nas ruas. Enfim, é uma exposição soberba, que faz parte do Ano da França no Brasil, pois ao mesmo tempo em que mostra uma cultura histórica com muita segurança, ao mesmo tempo com uma modernidade e imaginação extraordinárias”.
Plateia
A exposição encantou o público convidado à festa de abertura da exposição, composto tanto por estudantes de moda quanto por apreciadores de teatro, balé e moda, de todas as idades. A administradora Manuella Gorni, que já conhecia o trabalho de Lacroix nos desfiles e passarelas de moda, avaliou que o evento do Ano da França no Brasil representa uma oportunidade única para o público paulistano: “É uma coleção muito grande e o que temos aqui pode nos dar uma ideia do trabalho, do interesse e da criatividade que existem em todas as peças que a gente viu”.
Já o estudante de moda Alfredo Oróbio chamou atenção para os croquis que foram trazidos. “Essa exposição faz com que se mergulhe diretamente em seu universo. Para quem não conhece as obras do artista é muito bom entrar nesse mundo. Já para um estudante de moda, pode-se absorver muito mais os desenhos do que a obra pronta. Esses desenhos revelam o processo criativo de Lacroix, o que para mim é muito mais importante. Observá-los torna-se um exercício da imaginação”, afirmou.