Aos ativistas preocupa que as
vítimas não vivam para ouvir essa desculpa nem receber uma compensação, e,
portanto, percam a oportunidade de se reconciliarem com seu traumático passado.
A Anistia estima que há muito poucas sobreviventes das entre 80 mil e 200 mil
mulheres obrigadas a se converterem em escravas sexuais dos militares japoneses.
Elas procediam da China, Coréia, Filipinas, da atual Indonésia, Malásia e Vietnã
e de outros territórios sob ocupação japonesa,inclusive do próprio
Japão.
“O tempo é urgente, porque as sobreviventes não estarão conosco
por muito tempo”, enfatizou Anna Song, co-fundadora e diretora nacional da
organização Amigos das Mulheres de Conforto na Austrália. Essa entidade iniciou
uma campanha dirigida aos parlamentares, enquanto a Anistia realiza outra para
enviar borboletas por correio postal e eletrônico ao primeiro-ministro
australiano, Kevin Rudd.
A borboleta é o símbolo que as sobreviventes
escolheram em representação da esperança. As campanhas foram organizadas para
coincidir com o Dia Internacional de Solidariedade com as Mulheres de Conforto.
“Trata-se da fase de mobilizar o apoio para obter resultados políticos”, disse
Song à IPS. Moções semelhantes foram aprovadas pelas câmaras baixas de Holanda,
Canadá e Estados Unidos, bem como pelo Parlamento Europeu.
Em novembro
do ano passado o Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas
também pediu urgência ao Japão para se desculpar. Este país, por sua vez, diz
que já adotou medidas para expiar os pecados do passado. Por exemplo, as
desculpas da declaração de 1993 do então secretário-chefe do gabinete Yohei Kono
– agora conhecida como “declaração Kono” – e a criação, em 1995, do Fundo para
as Mulheres da Ásia, destinado a entregar uma compensação financeira às vítimas.
Mas o governo japonês foi acusado de tentar evitar toda responsabilidade pelo
tratamento que seus militares deram às mulheres na Segunda Guerra Mundial,
culpando o recrutamento forçado de mulheres aos agentes privados que agiam em
nome das forças Armadas.
Um informe de 1998 elaborado pelo Comitê de
Direitos Humanos da ONU observou que, embora tenha havido um pedido de perdão,
“o governo japonês nega sua responsabilidade leal pela criação e manutenção do
sistema de ‘estações de conforto’ e mulheres de conforto utilizadas durante a
Segunda Guerra Mundial”. Harborow disse que as desculpas não foram reconhecidas
pela comunidade internacional porque não foram feitas de maneira formal. A
declaração Kono “não foi aprovada pela Dieta”, o parlamento japonês, disse à
IPS. “Foi feita por um indivíduo, e tampouco estabelece claramente o papel do
próprio governo japonês no sistema”, acrescentou.
Na Austrália, a questão
ganhou muita repercussão, principalmente graças aos esforços de Jan Ruff
O’Herne, que foi forçada a trabalhar como escrava sexual em um bordel militar da
então Índias Orientais Holandesas (hoje Indonésia) pelos japoneses invasores.
Depois de ser prisioneira durante dois anos em um acampamento juntamente com sua
família, Jan, que agora vive na cidade australiana de Adelaide, foi colocada em
uma fila com outras jovens de 17 ou 18 anos. Após ser examinada pelos oficiais
japoneses, foi selecionada e transportada de caminhão para uma casa colonial
holandesa que era usada como bordel militar.
Durante 50 anos ela manteve
silêncio sobre as violações e os abusos que teve de suportar nos três meses em
que foi escravizada. Falou pela primeira vez dessas experiências – tanto para
sua família quanto para o público – no começo da década de 90, após ver pela
televisão mulheres coreanas que viveram experiências semelhantes exigindo uma
desculpa e uma indenização do Japão. Embora não existam outras australianas ou
residentes neste país que tenham se identificado como escravas sexuais, a filha
de Jan, Carol Ruff, disse à IPS que o pedido de perdão e o oferecimento de uma
compensação do governo japonês ajudará a fechar um capítulo para sua mãe, bem
como para “devolver-lhe a dignidade perdida”.
Mas agora que Jan está perto de
completar 87 anos, sua família se preocupa com a possibilidade de não chegar a
viver para ver nenhuma das duas coisas.
Embora o Japão não dê os passos
necessários a tempo, como sua mãe, Carol insiste em que uma resolução do
parlamento australiano terá impacto no Japão e que a batalha pela justiça
continuará. “Este é um assunto que não termina com nossa mãe. Nós, seus
familiares, continuaremos lutando pela justiça para estas mulheres. Aa apoiamos
e compartilhamos a dor delas”, afirmou.
(IPS/Envolverde)