O
informe de 469 páginas teve sua origem em uma reclamação dos Estados Unidos em
2007 e foi apresentado na última quarta-feira. O documento afirma que a China
violou tratados da OMC mediante restrição à importação ou censura destes
produtos e que Pequim exigiu das empresas fabricantes e distribuidoras que
realizassem a distribuição através de companhias chinesas. Com sua decisão, a
“OMC deu uma importante vitória às indústrias criativas dos Estados Unidos”,
disse o representante de comércio desse país, Ron Kirk.
O informe “é um
passo importante para garantir o acesso ao mercado chinês de produtos legítimos
dos Estados Unidos”, bem como “para os exportadores e distribuidores
norte-americanos” dos mesmos. “Trabalharemos sem descanso para que as empresas e
os trabalhadores dos Estados Unidos possam aproveitar plenamente os benefícios
procedentes da abertura do mercado que assinala esta decisão”, acrescentou Kirk.
Entre os grupos industriais mais afetados pela sentença estão as produtoras de
cinema associadas à Motion Picture Association of America, as indústrias
discográficas reunidas na Recording Industry Association of America e as casas
editoriais filiadas à Association of American Publishers.
O informe
conclui que várias das queixas apresentadas pelos Estados Unidos são legitimas,
mas outras carecem de fundamento, como as que afirmavam que a legislação chinesa
sobre pirataria era insuficiente. Tanto China quanto Estados Unidos podem apelar
da decisão. O fato de a OMC não condenar expressamente o grau de cumprimento da
legislação chinesa sobre direitos de autor e propriedade intelectual,
especialmente com relação à pirataria de musica, filmes e programas de
informática, é uma contrariedade para as empresas que lutavam porque esse país
asiático aplicará com maior rigor suas leis neste sentido.
Pequim não
divulgou uma resposta enérgica ao informe da OMC, mas uma declaração publicada
no site do Ministério do Comércio chinês expressa a decepção pelo fato de a
organização não rejeitar a reclamação norte-americana. “A China sempre cumpriu
suas obrigações referentes ao acesso ao mercado das publicações, e os canais de
ingresso no mercado chinês para elas, para filmes e produtos audiovisuais
estrangeiros são extremamente abertos”, afirmoui Yao Jian, porta-voz do
Ministério do Comércio, segundo a agência de notícias Xinhua.
A entrada
da China na OMC exigiu consideráveis concessões das autoridades chinesas, e os
funcionários mais jovens e reformistas em matéria econômica lutaram para
convencer os dirigentes mais antigos de que a abertura da economia, em
concordância com as normas da OMC, não aniquilaria a indústria nacional. “Os
dirigentes estavam dispostos a ingressar na organização nestas condições porque
tinham de fomentar o crescimento econômico e a prosperidade”, disse a
especialista em estudos asiáticos e professora de economia aplicada do Bates
College, Margaret Maurer-Fazio. “A OMC serviria de desculpa para aplicar as
políticas impopulares. Dá às autoridades certas distância das decisões difíceis
que prejudicarão alguns, mas que no longo prazo trarão benefícios”,
acrescentou.
A China utiliza cada vez mais os mecanismos da OMC para
apresentar queixas contra países-membros da organização que considera que
discriminam suas vendas. No dia 31 de julho anunciou que apresentaria uma
reclamação junto à OMC contra a Nações Unidas por medidas antidumping que esta
adotara contra lingotes de ferro e aço chineses. A UE terá 60 das para resolver
a disputa por meio de consultas, mas se não houver solução a China poderá
solicitar à OMC que investigue as reclamações e decida se o bloco europeu violou
as normas da organização.
(IPS/Envolverde)