Nações Unidas, 13/07/2009 – Os 6,7 bilhões de habitantes do mundo duplicarão nos próximos 40 anos se não houver uma profunda revisão da atual situação, alertou o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Os efeitos da superpopulação são sentidos em todo o planeta, mas as regiões de crescimento mais rápido também sal algumas das mais pobres, acrescentou esta agência da Organização das Nações Unidas às vésperas do Dia Mundial da População, comemorado no último sábado. A África subsaariana tem o crescimento mais veloz, o que exacerba problemas já existentes, como fome, doenças e conflitos violentos pelos recursos. .hmmessage P { margin:0px; padding:0px } body.hmmessage { font-size: 10pt; font-family:Verdana }
“Países como Quênia, que haviam estabilizado seu crescimento, agora voltam a crescer mais rapidamente”, disse à IPS Alex Ezeh, diretor-executivo do Centro Africano de Pesquisas sobre População e Saúde. “Até 2050, projeta-se que este país terá 87 milhões de habitantes”, acrescentou. Atualmente tem 39 milhões. As nações com o crescimento mais rápido também possuem fortes concentrações de população urbana pobre, como Índia, Indonésia, Nigéria e Paquistão. “Vemos dezenas de milhões a mais de bocas para alimentar, de crianças para enviar à escola e pessoas para abrigar em países que são os menos capazes” de fazê-lo, disse Ezeh.
Embora nos últimos 30 anos a fertilidade em geral tenha caído em todas as regiões, na África essa queda foi lenta. Uma semana antes do Dia Mundial da População, o UNFPA patrocinou uma conferência de três dias sobre o acesso ao planejamento familiar nos países em desenvolvimento. Trinta especialistas na matéria se reuniram para discutir um acesso melhor a anticoncepcionais e serviços para os pobres do mundo, que inclui educação sobre os diversos métodos, bem como de contracepção de emergência, aborto, abstinência e saúde sexual e reprodutiva.
Segundo o UNFPA, os programas de planejamento familiar são fundamentais para incentivar o bem-estar econômico e social das mulheres, especialmente durante a atual crise econômica, e para reduzir a pobreza endêmica e a elevada proporção de mortes maternas e infantis. Apesar do acordo a que chegaram 179 países sobre a importância do planejamento familiar na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, realizada no Cairo em 1994, nos últimos anos parou o financiamento a programas nessa área aos pobres. alguns participantes inclusive sugeriram que o acordo distorcia os indicadores e servia como justificativa para as nações retirarem recursos dos programas de planejamento familiar, argumentando supostos avanços.
“Devido ao impulso ao crescimento pela elevada fertilidade constatada desde essa conferência, os que guiarão o crescimento demográfico nos próximos 50 anos jja nasceram”, disse Ezeh, que pediu para o assunto ser tratado com urgência. “Se introduzirmos agora programas de planejamento familiar poderemos impedir que continue o elevado crescimento demográfico em 15, 20 e 30 anos a partir de agora”, continuou. “Se continuarmos fazendo perguntas sobre a promoção dos preservativos ou da participação dos adolescentes vamos piorar a situação”, acrescentou. Mas, reduzir o crescimento da população está longe de ser o único objetivo da conferência do UNFPA.
“O planejamento familiar é importante porque dá poder às mulheres”, disse à IPS Fatima Mrisho, da Comissão da Tanzânia contra a Aids. O acesso aos diversos métodos de escolha “dá às mulheres mais oportunidades para o desenvolvimento, permite aos seus filhos sobreviverem melhor, mas, o que é igualmente importante, também melhora as condições gerais de um país”, enfatizou. A cada ano morrem cerca de 500 mil mulheres em todo o mundo durante a gravidez e o parto, muitas por problemas médicos que podem ser prevenidos e tratados. E para cada morte, outras 20 mulheres sofrem ferimentos e incapacidade pelo resto de suas vidas. A mortalidade materna na África é, pelo menos, cem vezes maior do que a do mundo em desenvolvimento em geral.
A conferência mencionou a pandemia de HIV/Aids como outro fator importante que incide nas necessidades de planejamento familiar. Os programas dedicados aos dois assuntso buscam maior educação em matéria de saúde sexual e reprodutiva, e uma distribuição de preservativos principalmente entre jovens e pobres. “O HIV é uma maldição, mas penso que um aspecto positivo é que em boa parte desmistificou o debate sobre sexo e sexualidade”, disse Mrisho à IPS. O planejamento familiar não é importante apenas para as nações em desenvolvimento, mas também para as comunidades marginalizadas de todo o mundo.
As populações indígenas são algumas das que mais precisam de programas de planejamento familiar, e também as que têm menos acesso a eles. “Os médicos acreditam que as mulheres indígenas não querem planejar suas famílias por não compreenderem o idioma ou a cultura. Mas quando lhe perguntam, elas dizem que querem”, disse Nadine Gasman, diretora do UNFPA na Guatemala. Segundo o UNFPA, mais da metade das meninas indígenas ficam grávidas antes dos 20 anos. Existe uma alta demanda de serviços de planejamento familiar nas áreas de população aborígine, mas também uma falta de materiais educativos culturalmente adequados para essas comunidades.
“As indígenas têm crenças e necessidades específicas que devem ser levadas em conta”, disse Gasman. “Uma mulher quéchua me disse que em seus corpos há desde que nascem um número determinado de bebês, e que usar anticoncepcionais os matará. Quem acredita nisto pode ser muito inteligente e até mesmo instruído”, explicou. “Devemos considerar a antropologia. Não há uma receita ou uma pílula mágica, mas o planejamento familiar não pode se ajustar à sua cosmovisão, e há uma demanda real”, acrescentou. Outro desafio é conseguir arraigar o conceito de que o planejamento familiar não é apenas um assunto das mulheres, ma também é relevante para os homens. IPS/Envolverde
(Envolverde/IPS)