América Latina: Onde o Estado é masculino


Buenos Aires, 13/09/2009 – Não importa se são brancas ou afro-descendentes, ricas ou pobres, jovens ou mais velhas. Tampouco importa se trabalham ou têm estudos: na América Latina a responsabilidade pela casa, pelo cuidado dos filhos e idosos recai sobre as mulheres, e o Estado olha para outro lado.

As estratégias são regularmente privadas. Se elas não podem enfrentar sozinhas o desafio de conciliar trabalho e família, apelam para outra mulher: mãe, sogra, irmãs, filhas mais velhas, vizinhas ou – se podem pagar – uma empregada domestica e cuidadoras para os idosos. .hmmessage P { margin:0px; padding:0px } body.hmmessage { font-size: 10pt; font-family:Verdana }

Levantam-se antes de todos em sua casa e são as últimas a deitarem. Embora trabalhem muitas horas fora de casa, cuidam das crianças, dos afazeres domésticos e dos cuidados com os idosos e incapacitados, sem remuneração, com escassa ajuda dos homens e quase sem assistência estatal.

Com exceções – em geral limitadas ao período de nascimento e amamentação – o Estado não se importa por esta sobrecarga. “Dá-se como certo que os cuidados são basicamente um assunto privado”, diz o informe “Trabalho e Família: para novas formas de conciliação com responsabilidade social”, apresentado este mês no Chile.

A pesquisa foi realizada pela região latino-americana e caribenha da Organização Internacional do Trabalho e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, a fim de colocar na agenda um, dos maiores desafios atuais para promover a igualdade e combater a pobreza.

Segundo este informe, entre 1990 e 2008 a participação feminina no trabalho na região passou de 23% para 53%, e se analisarmos a faixa etária de mulheres entre 20 e 40 anos a porcentagem das que trabalham fora de casa agora é de 70%.

“Mas, não houve rupturas significativas nas concepções culturais predominantes que consideram que a reprodução social é responsabilidade das mulheres, não uma necessidade social”, lamenta o estudo.

O mal entendido tem um alto custo para elas, acrescenta.

“Os cuidados não são uma responsabilidade da família – que os deixa a cargo das mulheres – mas uma responsabilidade do Estado e da sociedade”, disse à IPS Natalia Gherardi, do não-governamental e argentino Equipe Latino-americana de Justiça e Gênero, que participou da pesquisa.

“O Estado tem a obrigação legal de arbitrar os meios para possibilitar essas prestações”, afirmou. Porém, apenas intervém muito marginalmente mediante normas isoladas que nem sempre controla, disse Gherardi.

Este afastamento sugere que o Estado não é neutro, mas que tem gênero. “O Estado é masculino, côo  o direito e como todas as estruturas de poder baseadas na organização patriarcal de nossas sociedades”, ressaltou.

As mulheres destinam entre 1,5 e quatro vezes mais tempo do que os homens às tarefas domésticas. “Esta sobrecarga é a base das desvantagens e discriminações que elas experimentam no mercado de trabalho”, afirma o informe.

Mas o estudo na se centra nos homens. “Não aumentou significativamente a provisão de serviços públicos em apoio a estas tarefas. O Estado e a sociedade supõem que há uma pessoa em cada lar dedicada ao cuidado familiar”.

Somente em alguns países se exige das empresas uma creche quando há maioria de trabalhadoras. A licença paternidade ainda não está difundida na região, e muitos poucos Estados reconhecem licenças por doenças dos filhos ou dos pais idosos, que possam ser reclamadas tanto por homens quanto por mulheres.

“Diante da debilidade ou ausência de políticas publicas e de serviços destinados a apoiar a conciliação, as estratégias são basicamente privadas, familiares, femininas”, descreve o documento. A proposta dos especialistas é que a conciliação seja “parte principal” das políticas sociais.

As coordenadoras do estudo, Maria Elena Valenzuela e Juliana Martinez, consideram que o Estado deveria avançar em “políticas universais” de conciliação, para que as responsabilidades familiares não sejam uma lápide sobre as mulheres impedindo seu desenvolvimento e bem-estar.

“O Estado tem um papel crucial no desenvolvimento de serviços que não dependem nem do poder aquisitivo das famílias nem da inserção profissional” de seus membros. Melhorar a capacidade da segurança social através de serviços de cuidado ou de subsídios para pagá-los pode ser uma saída, afirmaram. 

Elas vivem o problema a cada dia


A venezuelana Morel Alcalá ignora essa pesquisa. Como milhões de mulheres na região, levanta-se bem cedo para preparar o desjejum, o lanche que as crianças levarão para a escola, o jantar e os remédios para sua mãe que sofre do coração.

Na América Latina, as residências para idosos, com custos mais elevados,  com custos mais elevados e um serviço deficiente, são  um recurso para as classes médias e altas.

Alcalá é manicure, está separada e trabalha de terça  a sábado em um cabelereiro de Caracas. Gasta três horas para ir para o trabalho, Porém, aproveita a viagem para dar um “cochilo”. “Estou morta”, disse à IPS. Levanta-se ainda noite e volta quando seus filhos já jantaram o que ela deixou preparado.

Também é responsável por sua mãe doente, que ela mesma leva ao médico às segundas-feiras, seu dia “livre”. Para ela é o dia mais cansativo, pois cozinha para a semana toda, vai  ao mercado e passa roupa. Fica angustiada de deixar sua mãe quando vai trabalhar. Por sorte duas vizinhas vêm visitá-la diariamente.

A pesquisa revela que o modelo de casal estável (homem provedor e mulher em casa) já não corresponde à realidade. Um terço das famílias é  chefiada por mulheres e a maioria delas está empregada no setor informal, com baixos salários, jornadas extenuante e sem assistência médica.

Quando Alcalá falta ao trabalho, porque sua mãe está doente ou hospitalizada, seu patrão compreende, mas ela perde a comissão por cada cliente atendida e as gorjetas, que são essenciais para o em sua renda.

Na  América Latina, os idosos são 9% da população e  representam um desafio cada vez maior para as famílias. Em cinco anos serão 13% do total e até 2050 mais de 23%.  Quando a renda é suficiente, essas tensões são resolvidas por cuidadoras assalariadas.

Neste ponto o informe detecta uma oportunidade. Recomenda “aproveitar o potencial de criação de trabalho decente para a mulher na área de cuidados”.

Muitas mulheres, que são metade dos imigrantes na região, já perceberam isso. Na Argentina há estrangeiras treinando para prestar esses serviços a doentes, deficientes e idosos em famílias de classes média e alta. Chegam da Bolívia, do Paraguai e Peru e estão se transformando em profissionais muito procurados.

Otilia (prefere não dar o sobrenome) chegou a Buenos Aires desde o Paraguai com seu marido e três filhos, e pouco depois teve que denunciar o esposo por violência domestica. Então, refugiou-se com as crianças em uma casa do Estado, onde se capacitou como cuidadora.

Atualmente, cuida de um enfermo, mas é difícil a conciliação quando não há outras mulheres à mão. “Meu ex não pode aproximar-se da casa por ordem judicial. Assim, u os acordo pela manhã, os troco e os deixo na escola”, contou à IPS. Depois, vai trabalhar por nove horas.

“Se tenho de sair ao meio-dia para falar com a professora ou com o juiz tenho permissão e depois reponho o tempo que fiquei fora’, disse. “Graças a Deus”, sua filha de 15 anos faz as compras, a comida e cuida dos irmãos, contou.

No Brasil, os casos se repetem. “É muito sacrifício”, disse à IPS Rosilene Ribeiro, uma afro-descendente de 36 anos com marido e dois filhos. “A mulher tem de se dividir em duas”, queixou-se. Ela se apoia muito em sua sogra, que cuida dos filhos em troca da comida.

Seu marido, pedreiro, “ajuda quando não tem trabalho”. Quando o contratam, ela, que trabalha como horista no serviço domestico, assume a dupla jornada. Ao voltar para casa, prepara o jantar e o almoço do dia seguinte. IPS/Envolverde

(Envolverde/IPS)
publicidade
publicidade
Crochelandia

Blogs dos Colunistas

-
Ana
Kaye
Rio de Janeiro
-
Andrei
Bastos
Rio de Janeiro - RJ
-
Carolina
Faria
São Paulo - SP
-
Celso
Lungaretti
São Paulo - SP
-
Cristiane
Visentin

Nova Iorque - USA
-
Daniele
Rodrigues

Macaé - RJ
-
Denise
Dalmacchio
Vila Velha - ES
-
Doroty
Dimolitsas
Sena Madureira - AC
-
Eduardo
Ritter

Porto Alegre - RS
.
Elisio
Peixoto

São Caetano do Sul - SP
.
Francisco
Castro

Barueri - SP
.
Jaqueline
Serávia

Rio das Ostras - RJ
.
Jorge
Hori
São Paulo - SP
.
Jorge
Hessen
Brasília - DF
.
José
Milbs
Macaé - RJ
.
Lourdes
Limeira

João Pessoa - PB
.
Luiz Zatar
Tabajara

Niterói - RJ
.
Marcelo
Sguassabia

Campinas - SP
.
Marta
Peres

Minas Gerais
.
Miriam
Zelikowski

São Paulo - SP
.
Monica
Braga

Macaé - RJ
roney
Roney
Moraes

Cachoeiro - ES
roney
Sandra
Almeida

Cacoal - RO
roney
Soninha
Porto

Cruz Alta - RS