O Peru é governado por Allan Garcia, aliado incondicional dos Estados Unidos, com quem firmou um Tratado de Livre Comércio, cujo objetivo é o saque das riquezas minerais da selva amazônica peruana. Neste caso, a mídia diz que o assassinato de dezenas de indígenas foi produto de conflitos provocados por manifestações violentas destes contra as leis. Com exceção de Evo Morales e Hugo Chávez - que se solidarizaram com os indígenas - nenhum chefe de Estado se pronunciou a respeito.
O mundo burguês fingiu que não viu! Nenhuma foto que revelasse a brutalidade da repressão foi exibida na imprensa burguesa.
Já o Irã é o primeiro país da fila de espera para ser agredido pela máquina de guerra norte-americana. Afinal, seu governo insiste em dominar a tecnologia nuclear, para se defender do arquiinimigo dos povos da região, o Estado de Israel, detentor da bomba atômica e cabeça de ponte dos Estados Unidos no Oriente Médio. Os iranianos já possuem mísseis que podem alcançar Israel. Acusa-se também o Irã de ajudar a resistência armada palestina e libanesa. O país só não foi agredido até agora por falta de tropas, hoje atoladas em aventuras militares no Iraque e no Afeganistão.
Contrastando com o silêncio sobre os indígenas peruanos, os chefes de Estado dos países imperialistas têm sido loquazes sobre o Irã. Sarkosy e Ângela Merkel - em cujos países os trabalhadores e estudantes são reprimidos - condenaram veemente a “violência contra os manifestantes iranianos”. Obama manteve silêncio sepulcral diante das atrocidades israelenses na Faixa de Gaza e, já como Presidente, referiu-se ao bombardeio que levou à morte de centenas de civis na fronteira Paquistão/Afeganistão como “efeito colateral”. Já sobre o Irã, se declarou “profundamente perturbado com a violência que viu na televisão”.
A manipulação da mídia é tão grosseira que os jornais escondem as manifestações a favor do presidente iraniano, algumas maiores que as da oposição. Por outro lado, passa-se a impressão de que as manifestações da oposição são contra a política externa iraniana. Certamente elas têm a ver com insatisfações diferenciadas - sobretudo em setores da classe média e da burguesia -, como os impactos da crise econômica, a queda do preço do petróleo, a inflação, a questão dos direitos civis e aspirações por um Estado laico ou pela ocidentalização dos costumes e do consumo.
A desestabilização do Irã é parte dos planos imperialistas. Cumprido o objetivo de se apropriar das reservas de petróleo do Iraque, os Estados Unidos preparam uma falsa retirada deste país, onde deixarão um governo títere, forças repressivas armadas e dirigidas por militares ianques e poderosas bases militares, que não existiam antes da invasão. Enquanto isso, vão satanizando e deslegitimando as próximas vítimas.
Esta “saída” do Iraque permitirá a liberação de tropas para os novos planos belicistas: ocupar parte do Paquistão, a pretexto de derrotar os talibãs, e atacar o Irã, o mais cobiçado objeto de desejo do imperialismo, não só pela ajuda às resistências armadas no Oriente Médio mas por sua posição geopolítica estratégica. O país fica exatamente entre o Iraque e o Afeganistão, com os quais tem as maiores fronteiras; além disso, é banhado pelo Golfo Pérsico e o Mar Cáspio.
Como internacionalistas, temos que ser solidários com o povo iraniano frente ao imperialismo. Mas não podemos nos iludir com o regime que vigora no país, muito menos glamourizá-lo. De fato, seu antiimperialismo ajuda a fragilizar os principais inimigos da humanidade. Isto devemos valorizar. Mas não nos esqueçamos de que se trata de um antiimperialismo nacionalista de direita.
O fundamentalismo do regime dos aiatolás não tem nada a ver com os ideais socialistas e libertários. Trata-se de um regime conservador, machista, homófobo, anticomunista. O Partido Comunista Iraniano (TUDEH) foi colocado na ilegalidade e seus membros são perseguidos. Nesse sentido, não se difere da maioria dos Estados árabes conservadores e pró-imperialistas, a não ser pelo fato de os iranianos serem persas. Aliás, alguém já viu alguma campanha midiática pela “democracia” nos Estados árabes dirigidos por oligarquias monárquicas aliadas dos Estados Unidos, que não se submetem a qualquer eleição?
Mas de forma nenhuma a esquerda pode se iludir ou se omitir diante da campanha de satanização do Irã, já há algum tempo em curso. Ela é a ante sala da agressão militar. Já há muitos indícios de que estamos diante de um golpe midiático, de guerra psicológica. Mais uma das chamadas “revoluções das cores”, desta vez verde. Lembram-se da satanização de Sadam Hussein antes da invasão do Iraque? Cadê as armas de destruição em massa?