Mudança climática: À espera de um acordo China-EUA

Washington, 08/06/2008 – A cooperação entre Estados Unidos e China foi objeto de debate na semana passada em Washington, onde são analisadas as possibilidades de um acordo bilateral para reduzir as emissões contaminantes. Nesta semana, funcionários norte-americanos viajarão a Pequim para impulsionar a cooperação ambiental. A delegação incluirá o enviado especial do Departamento de Estado para a mudança climática, Todd Stern; o assessor científico da Casa Branca John Holdren, e o secretário-adjunto de Energia, David Sandalow.


Na quarta-feira Stern falou no Centro para o Progresso Norte-americano sobre a necessidade de cooperação entre Washington e Pequim para combater a mudança climática. No dia seguinte, o Comitê de Relações Exteriores do Senado realizou uma audiência sobre o mesmo tema, com o testemunho de vários especialistas. As estatísticas são assombrosas: juntos, os dois países respondem por 40% de todas as emissões de gases causadores do efeito estufa. Embora os Estados Unidos sejam o maior contaminador mundial da história, a emissões chinesas dispararam nos últimos 20 anos. Em 1992, a China produzia 2,5 gigatoneladas anuais de dióxido de carbono. Esse número aumentou para mais de sete gigatoneladas ao ano, ultrapassando os registros norte-americanos.

A Agência Internacional de Energia prevê que, se continuarem os níveis atuais, as emissões chinesas aumentarão para 12 gigatoneladas por ano até 2030. Além disso, 16 das 20 cidades mais contaminadas do mundo estão na China. E Pequim emite seis vezes mais partículas contaminantes do que Nova York. Entretanto, na última década a China também se converteu no maior gerador mundial de energia eólica, e em 2008 liderou os novos investimentos em fontes renováveis de energia, com aumento de 18% durante 2007, com US$ 15,6 bilhões, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Por sua vez, os países mais ricos do mundo reduziram seus investimentos em relação a 2007.

Em declarações feitas no Centro para o Progresso Norte-americano, Stern disse que a mudança climática é “um assunto essencialmente global, que demanda uma solução global”. Nesse plano, destacou três iniciativas do Departamento de Estado: comprometer-se no processo de uma convenção marco, fortalecer o diálogo entre as maiores economias do planeta, e comprometer-se em relações bilaterais-chave, especialmente com a China. Existe um consenso cada vez maior quanto a uma necessidade imediata de Washington e Pequim, como máximos contaminantes mundiais, avançarem para uma relação bilateral para combater a mudança climática.

Porém, a necessidade de um acordo ainda é mais urgente devido às negociações que terão lugar na conferência das partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a mudança climática, que acontecerá em dezembro na cidade de Copenhague. As participações norte-americana e chinesa no combate à mudança climática são vistas como um passo prévio necessário para essas conversações. Na capital dinamarquesa, as outras nações seguirão seu exemplo, disse Stern. “Uma robusta associação dos Estados Unidos com a China fará mais do que qualquer outra coisa para garantir uma resposta mundial positiva à urgente ameaça da mudança climática”, acrescentou.

Além disso, agora esse acordo bilateral parece mais possível do que nunca, já que os dois países implementaram mudanças internas para reduzir suas emissões de gás estufa, em contraste com sua rejeição anterior em assumir tal compromisso. Os Estados Unidos estão dando passos significativos para uma legislação sobre mudança climática, com o projeto de Lei de Energia Limpa e Segurança, conhecida como Waxman-Markey. Este foi aprovada no dia 21 de maio pelo Comitê de Energia e Comércio da Câmara de Representantes, e agora espera o apoio do restante dos deputados. O projeto Waxman-Markey é “tremendamente ambicioso”, com seus objetivos de redução de 80% nas emissões norte-americanas até 2050 em relação aos valores de 2005, disse Stern.

Contrariamente ao que muitos pensam Pequim também está impulsionando iniciativas ambientais. Agora esse país é um dos principais produtores de energia solar e eólica, e também aumentou sua construção de edifícios de baixo consumo energético. Além disse, estabeleceu o ambicioso objetivo de liderar a produção mundial de carros elétricos. Stern disse que os líderes chineses lhe disseram que o país “está ansioso para abraçar vias de desenvolvimento baixas em carbono e pronto para desempenhar um papel positivo e construtivo nas negociações”.

De todo modo, há obstáculos diplomáticos a serem superados. Na audiência de quinta-feira, William Chadler, diretor de energia e clima no Carnegie Endowment for International Peace, destacou a desconfiança mútua entre as duas potências. Os norte-americanos temem que a China “compre muito petróleo e faça aumentar o preço da gasolina. Os chineses temem que os norte-americanos controlem o petróleo do Oriente Médio e as rotas de navegação para a China”, afirmou. O aspecto econômico do combate à mudança climática é considerado chave para convencer as partes quanto à necessidade de uma nova política nesse sentido.

Nos últimos anos, a economia chinesa cresceu de maneira assombrosa. No último meio século, seu produto interno bruto por habitante aumentou 10% ao ano, chegando a US$ 5 mil. A China se converteu na segunda maior economia, bem como aem uma potência comercial, e atualmente representa a metade de toda a construção global. Este crescimento econômico é uma das razões pelas quais Pequim negou-se a aceitar tetos internacionais vinculantes para suas emissões. “Na China, muitos temem que os limites às emissões restrinjam o crescimento econômico”, disse Stern. O objetivo é que Washington se encontre com Pequim na metade do caminho e o incentivo a “não deixar de crescer, mas crescer de modo inteligente”, acrescentou.

Na audiência de quinta-feira, Elizabeth Economy, do Conselho de Relações Exteriores, sugeriu que além do sinal de alerta “se deveria apresentar uma oportunidade”. Chandler, por sua vez, disse que a cooperação é “um ato de autopreservação mútua, que ajuda tanto os Estados Unidos quanto a China a evitarem o desastre climático e a eventual sanção de outros países se eles não agirem, assentando as bases para uma ação mundial de sucesso”. IPS/Envolverde


(Envolverde/IPS)
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