O novo patamar da mundialização: a noosfera

A atual crise econômica está colocando a humanidade diante de uma terrível bifurcação: ou segue o G-20 que teima em revitalizar um moribundo - o modelo vigente do capitalismo globalizado - que provocou a atual crise mundial e que, a continuar, poderá  levar a uma tragédia ecológica e humanitária ou então tenta um novo paradigma que coloca a Terra, a vida e a Humanidade no centro e a economia a seu serviço e então fará nascer  um novo patamar de civilização que garantirá mais equidade e humanidade em todas as relações a começar pelas produtivas.


A sensação que temos, é que estamos seguindo um vôo cego e tudo poderá acontecer.

De um ponto de vista reflexivo, duas interpretações básicas da crise se apresentam: ou se trata de estertores de um moribundo ou de dores de parto de um novo ser.

Alinho-me na segunda alternativa, a do parto. Recuso-me a aceitar que depois de alguns milhões de anos de evolução sobre este planeta, sejamos expulsos dele nas próximas gerações. Se olharmos para trás, para o processo antropogênico, constamos indubitavelmente que temos caminhado na direção de formas mais altas de complexidade e de ordens cada vez mais interdependentes. O cenário não seria de morte mas  de crise que nos fará sofrer muito mas que nos purificará para um novo ensaio civilizatório.

Não se pode negar que a globalização, mesmo em sua atual idade de ferro, criou as condições materiais para todo o tipo de relações entre os povos. Surgiu de fato uma consciência planetária. É como se o cérebro começasse a crescer fora da caixa craniana e pelas novas tecnologias penetrasse mais profundamente nos mistérios da natureza.

O ser humano está hominizando toda a realidade planetária. Se a Amazônia permanece em pé ou é derrubada, se as espécies continuam ou são dizimadas, se os solos e o ar são mantidos puros ou poluídos depende de decisões humanas. Terra e Humanidade estão formando uma única entidade global. O sistema nervoso central é constituído pelos cérebros humanos cada vez mais em sinapse e tomados pelo sentimento de pertença e de responsabilidade coletiva. Buscamos centros multidimensionais de observação, de análise, de pensamento e de governança.

Outrora, a partir da geosfera surgiu a litosfera (rochas), depois a hidrosfera (água), em seguida a atmosfera (ar), posteriormente a biosfera (vida) e por fim a antroposfera (ser humano). Agora a história madurou para uma etapa mais avançada do processo evolucionário, a da noosfera. Noosfera como a palavra diz (nous em grego significa mente e inteligência) expressa a convergência de mentes e corações, originando uma unidade mais alta e mais complexa. É o começo de uma nova história, a história da Terra unida com a Humanidade (expressão consciente e inteligente da Terra).

A história avança através de tentativas, acertos e erros. Nos dias atuais estamos assistindo à fase nascente da noosfera, que não consegue ainda ganhar a hegemonia por causa da força de um tipo  de globalização excludente e pouco cooperativa, agora vastamente fragilizada por causa da crise sistêmica.

Mas estamos convencidos de que para a esta nova etapa - a da noosfera – conspiram as forças do universo que estão sempre produzindo novas emergências. É em função desta convergência na diversidade que está marchando nossa galáxia e, quem sabe, o próprio universo. No planeta Terra, minúsculo ponto azul-branco, perdido numa galáxia irrisória, num sistema solar marginal (a 27 mil anos luz do centro da galáxia), cristalizou-se para nós a noosfera. Ela é ainda frágil mas carrega o novo sentido da evolução. E não se exclui a possibilidade de outros mundos paralelos.

A atual crise torna necessária uma saída salvadora e esta é noosfera. Então vigorará a comunhão de mentes e corações, dos seres humanos entre si, com a Terra, com o inteiro universo e com o Atrator de todas as coisas.


* Leonardo Boff é autor de A nova era: a civilização planetaria, Record 2008.

(Envolverde/O autor)
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