IPS - No dia Internacional da Mulher, comemorado no último dia 8, você lançou pela Internet a campanha mundial “20 dias para o G-20”, destacando as ligações entre a feminização da pobreza e a crise financeira e econômica mundial. Quais são os impactos da atual crise nas mulheres?
Rosa Lizarde - Bem, há muitos impactos nas
mulheres. Em primeiro lugar, a exacerbação da crise de alimentos e de energia.
Há uma grande porcentagem de mulheres no setor agrícola fornecendo alimento para
as famílias, por isso o aumento dos preços dificulta a situação para elas e tem
um impacto nas comunidades. Esta pressão cria uma tensão cada vez maior, o que
por sua vez gera violência contra as mulheres.
Elas também tendem a ser
as últimas a serem contratadas e as primeiras a serem demitidas em tempos de
dificuldades econômicas. Particularmente, em torno das reduções no setor
privado, há aquelas que impactam nas mulheres na hora de receber serviços como
cuidados médicos e outros benefícios sociais. Portanto, a carga da crise
financeira e econômica fica com as mulheres.
IPS - Como
esta campanha espera poder mudar o resultado da reunião do
G-20?
RL - Uma das razões pelas quais a lançamos foi
estabelecer esses vínculos entre a feminização da pobreza e a crise financeira,
alimentar, de energia e da mudança climática. Além disso, a criamos para
promover a inclusão de mulheres no diálogo e na tomada de decisões das cúpulas
econômicas e financeiras, não apenas na reunião do G-20, mas também nas próximas
conferencias sobre os impactos econômicos e financeiros no desenvolvimento.
Queremos garantir que haja uma particular atenção às necessidades específicas
das mulheres e das meninas, devido às dificuldades desproporcionais que
enfrentam.
IPS - Quanto financiamento precisa estar
disponível para a igualdade de gênero, o poder das mulheres e, particularmente,
para a erradicação da pobreza?
RL - Como disse Sylvia
Borren, co-presidente do GCAP, os fundos que vão para o resgate financeiro não
chegam às mulheres, ao contrário dos impactos da crise. Um dos temas é constatar
como, durante este tempo de crise e de negociações entre os governos, as salvar
de alguns dos problemas que enfrentam. Algumas pessoas dizem que o 0,7% de todos
os fundos de resgate irão para os países em desenvolvimento, e que dessa porção
uma parte irá para melhorar as condições das mulheres. Não pedimos uma cifra
concreta, mas estamos dizendo que queremos ser incluídas em qualquer decisão
sobre financiamento.
IPS - Quais são algumas
políticas-chave que podem dar um alívio imediato e a longo prazo para as
mulheres afetadas pela atual crise financeira?
RL -
Alguns dos pontos-chave que destacamos no documento plataforma de políticas
dirigido à próxima reunião do G-20 giram em torno de temas de justiça,
responsabilidade, emprego e mudança climática. Pedimos a erradicação da pobreza
e a desigualdade. Queremos assegurar que as necessidades das mulheres e das
meninas sejam tratadas, porque estima-se que representam 70% dos pobres. Em
termos de responsabilidade, queremos assegurar a governabilidade democrática da
economia mundial, e pedimos o apoio da Organização das Nações Unidas para que
seja o coração das soluções para a crise.
Na área de empregos, pedimos
trabalho decente e serviços públicos para todas, como particular atenção em
identificar e responder às necessidades especificas das mulheres e das
comunidades sem direito a representação. Quanto ao clima, queremos que os
governos se comprometam a investir em mulheres como uma das formas mais efetivas
para avançar o desenvolvimento sustentável e para ajudar a combater a devastação
da mudança climática.
IPS - Como as mulheres estão
representadas no diálogo e nos processos de tomadas de decisões das cúpulas
econômicas e financeiras?
RL - Creio que se vemos os
membros do G-20 e dos chefes desses governos, bem com os membros da Comissão
Stiglitz (Criada pela ONU para dar recomendações sobre a crise), vemos que as
mulheres não estão representadas apesar de constituírem 50% da população.
Portanto, creio que enquanto não atingirmos 50% de representação não poderemos
dizer que as mulheres estão incorporadas equitativamente. Na mesa do G-20, na
ONU e em outras comissões, sabemos que as mulheres não estão representadas
equitativamente. Isto é um fato. (IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS)