Com novos abalos no mercado financeiro, como o prejuízo anunciado pela
Seguradora AIG e previsões de que ainda estamos longe do fundo da crise, como
preconizou o megainvestidor George Sörös, é necessário ampliar a visão sobre o
que está ocorrendo.
Assim, o Notícias da Semana inicia nesta edição uma
série de entrevistas exclusivas com empreendedores pioneiros em formar modelos
mais sustentáveis de negócios, para que eles avaliem os desafios atuais e
indiquem, segundo sua experiência, saídas capazes de construir uma sociedade
mais justa e social, ambiental e economicamente equilibrada.
O primeiro entrevistado
desta série é Tamas Makray, empresário da área de engenharia que presidiu o
Grupo Promon por 30 anos e há quatro décadas se envolve com iniciativas de
proteção ambiental e transformação social.
“A crise é o início de um
mundo novo”, avalia Makray. “O planeta já não pode suportar o ritmo com que
usamos seus recursos. O que precisa mudar é, sobretudo, a forma de pensar que
predomina hoje, o mindset”, continua.
Makray explica que, conheceu
estudos no início dos anos 1960 que apontavam um uso de 49% dos recursos
ofertados pelo planeta. Na ocasião, esse dado já o motivava a pensar em modelos
sustentáveis para as atividades econômicas, considerando as futuras
gerações.
Assim, ele começou a testar formas mais benéficas de interagir
com a natureza. Essas experiências se davam em terras de sua família na cidade
de Lorena (SP), no Vale do Paraíba. O reflorestamento de áreas junto a
cursos-d’água foi eleito como prioridade. A mudança de uma produção agropecuária
convencional para o plantio agroecológico e o manejo pautado no bem-estar animal
juntaram-se à recuperação das matas, sempre visando restaurar o máximo de
biodiversidade nos 80 hectares da então chamada Fazenda da Conceição.
Os
benefícios foram visíveis em ganhos de produção e no retorno de fauna e flora
silvestre, além do aumento da oferta de água doce e de nascentes. O projeto se
formalizou com a fazenda sendo transformada, em 1991, no Instituto Oikos de
Agroecologia, uma referência em ecoeficiência na região.
“Quando, há 20
anos, o senhor Tamas começou a falar em reflorestar, todo mundo pensou: ‘Esse
homem está louco. Ele quer acabar com as fazendas’. Então o que ele fez? Provou
que isso funcionava, que dava certo”, conta Adriano Barbosa, presidente da
Associação dos Produtores Rurais do Ribeirão dos Macacos, rio que corta as
terras do Instituto Oikos e é foco de um trabalho constante de conscientização e
preservação por parte da organização.
Barbosa explica que antes ele tinha
problemas com as capivaras, que vinham comer a cana que plantava. “O Instituto
Oikos veio e esclareceu que as capivaras estavam atacando a lavoura porque não
havia mais mata às margens do ribeirão. Eles nos aconselharam a replantar mata
nativa naquela área e deu certo. Hoje, já não tenho nenhum problema com as
capivaras”, declara o agricultor.
Trabalho
integrado
Uma das premissas da organização fundada por Makray é
o trabalho integrado com toda a vizinhança. Não poderia ser diferente para um
ex-dirigente da Promon, empresa pioneira na utilização da gestão participativa,
que desde 1961 já fazia um planejamento conjunto com todos os seus funcionários
e lhes dava acesso integral à contabilidade.
Vencer as resistências e
gerar união e cooperação em seu entorno não foi fácil. Mesmo assim, a iniciativa
avançou a tal ponto que hoje o Oikos está liderando estudos para ligar os altos
da Mantiqueira à Serra do Mar, por meio de corredores
ecológicos.
"Conectar fragmentos florestais serve para ampliar os
benefícios das florestas. As florestas nos prestam diversos serviços ambientais,
como manutenção da água, conservação do solo. controle climático e proteção da
biodiversidade”, detalha a geóloga Alexandra Andrade, contratada para gerenciar
esse projeto.
“Todos esperam que os outros tomem medidas, mas ninguém se
mexe. É preciso cada um fazer agora aquilo de que é capaz. Nós somos pequenos e
estamos fazendo a nossa parte. Os governos e as grandes corporações têm de fazer
a parte delas também”, destaca Makray.
Quanto à crise em si, ele diz:
“Existe, atualmente, uma cultura de endividamento. Por que isso? Como um sistema
pode funcionar se as pessoas ou empresas gastam mais do que ganham,
continuamente?”
E conclui: “Hoje, temo pelos meus netos, pois estamos
usando 130% dos recursos naturais deste pequeno planeta. Passamos da hora de
reagir e é preciso adotar mudanças imediatamente”. Na sua visão, se as mudanças
necessárias não forem feitas de forma voluntária, serão impostas por
cataclismas, fome e escassez de água potável, bem como pelas convulsões sociais
que esses fatores causarão.
Saiba mais sobre agroecologia no vídeo do Instituto Oikos - http://vimeo.com/2497404
(Envolverde/Instituto Ethos)