Washington, 10/03/2009 – O Banco Mundial calculou que os países em desenvolvimento necessitarão este ano de US$ 700 bilhões em financiamento externo, para cobrir a queda no investimento privado causada pela crise econômica mundial. Em um informe preparado para a reunião de ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do Grupo dos 20, no próximo final de semana, esta instituição prevê que o produto mundial cairá este ano pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O estudo apresentado no domingo passado calcula que a queda da produção industrial em relação ao ano passado será de 15%.
O informe de 20 páginas, intitulado “Swimming against the tide: how developing countries are doping with the global crise” (Nadando contra a corrente: como os países em desenvolvimento enfrentam a crise mundial), indica também que o comércio em nível planetário segue rumo à sua maior queda desde 1929. A redução do intercâmbio comercial causou estragos nos preços dos produtos básicos, de cuja exportação depende a maioria dos países de baixa renda. “Devemos reagir em tempo real para uma crise que se agrava e fere a população dos países em desenvolvimento”, disse o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. “Esta crise mundial precisa de uma solução mundial. Impedir a catástrofe econômica é importante nos esforços globais para derrotar a crise", afirmou.
Zoelick propôs a criação de um “fundo de vulnerabilidade” para o
qual se pedirá aos países ricos uma contribuição equivalente a 0,7% dos pacotes
de estímulo que aprovaram para enfrentar a crise. As nações em desenvolvimento e
os doadores deveriam investir em “redes de segurança” social, “infra-estrutura e
pequenas e médias empresas para criar empregos e impedir distúrbios sociais e
políticos”, disse o presidente do Banco Mundial. O estudo divulgado no domingo
tem a clara intenção de impulsionar a criação do fundo proposto por
Zoelick.
Talvez, se trate do informe mais pessimista apresentado por uma
instituição multilateral sobre as perspectivas econômicas do mundo desde o
colapso da companhia de investimentos Lehman Brothers nos Estados Unidos, o
acontecimento que abriu a crise em setembro de 2008. No mês passado, por
exemplo, o Fundo Monetário Internacional previu para este ano crescimento de
0,5%, apesar da desaceleração econômica no Sul em desenvolvimento e
particularmente nos países asiáticos de industrialização recente, como Taiwan e
Cingapura. Com os dados do quarto trimestre do ano passado, agora o Banco
Mundial acredita, evidentemente, que isso não será possível.
Os países em
desenvolvimento enfrentarão um déficit financeiro entre US$ 270 bilhões e US$
700 bilhões, dependendo da severidade da crise mundial. Inclusive na hipótese
mais otimista, “os recursos existentes das instituições financeiras
internacionais serão inadequadas para cobrir as necessidades de financiamento
deste ano. E, se o cenário mais pessimista se concretizar, “as necessidades
financeiras não cobertas serão enormes”, alerta a instituição. A queda do
comércio mundial e da produção industrial, segundo o estudo do Banco Mundial,
precipitaram os preços dos produtos básicos (68% no do petróleo e 38% no dos
bens não petrolíferos) no segundo semestre do ano passado.
Além disso, as
nações em desenvolvimento e suas pequenas e médias empresas foram expulsas dos
mercados de crédito porque os países de alta renda pediram muito dinheiro
emprestado para financiar seus pacotes de ajuda e para o resgate de suas
empresas. Muitos bancos que ajudavam países em desenvolvimento a captar
investimentos virtualmente desapareceram, segundo o estudo. De fato, o fluxo
líquido de capital privado para os mercados emergentes – os mais ricos entre os
países em desenvolvimento – cairá, provavelmente, para US$ 165 bilhões este ano,
um terço do correspondente a 2008 e, provavelmente, menos de um quinto de 2007,
segundo o Instituto de Finanças Internacionais.
A depreciação na maioria
dos países em desenvolvimento frente ao dólar encareceu ainda mais o crédito, e
as remessas de imigrantes no Norte para suas famílias no Sul cairá, ao que
parece, este ano devido às demissões e ao desemprego nas nações onde residem.
África subsaariana, Ásia central e Europa oriental já foram atingidas com dureza
por este fenômeno, e os países da Ásia central são “particularmente vulneráveis”
devido à queda nos ganhos com petróleo das nações do Golfo Pérsico ou
Arábico.
Todos estes fatores marcam graves retrocessos para o mundo em
desenvolvimento, especialmente para os países de baixa renda, apesar de não
terem nenhuma responsabilidade na crise econômica. A maioria dessas nações,
golpeadas pelo aumento nos preços do petróleo e dos alimentos em 2007 e 2008,
agora carece dos recursos orçamentários necessários para contornar a situação.
Noventa e quatro dos 116 países em desenvolvimento, dos quais 43 ficam na África
subsaariana, já sofreram uma lentidão no crescimento econômico e são os que têm
maiores índices de pobreza.
A crise atual reduzirá a renda de dezenas de
milhões de pessoas que já vivem abaixo da linha de pobreza, de dois dólares por
dia, o que dificultará ainda mais alcançar a meta de reduzir a proporção de
pobres até 2015, um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações
Unidas. (IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS)