Mulheres-Zimbábue: Outra maneira de fazer as coisas

Harare, 10/02/2009 – Enquanto se firmar um governo de unidade nacional no Zimbábue, as organizações femininas pressionam para que as mulheres tenham mais espaço na tomada de decisões. Os primeiros sinais são pouco auspiciosos. No dia 30 de janeiro foi formado o Comitê de Controle e Implementação Conjunta, que vigiará todos os partidos para que cumpram o acordo obtido pelo governo e a oposição. De seus 12 membros, apenas três são mulheres, uma para cada partido.

O Projeto de Educação Política Feminista comprometeu-se ativamente com líderes regionais e nacionais durante as disputadas eleições do ano passado e as negociações que se desenvolveram desde então. Também trabalha com mulheres dentro do Zimbábue, como parte do esforço para garantir que as vozes e os pontos de vista femininos se integrem para garantir a democracia nacional.

A IPS conversou com Theresa Mugadza, advogada, ativista pelos direitos humanos e uma das coordenadoras do Projeto de Educação Política Feminista.

IPS
- O governo designou apenas três mulheres para o Comitê de Controle e Implementação Conjunta. O que espera da futura representação feminina no próximo governo do Zimbábue?

Theresa Mugadza- A composição femionina do Comitê é de 25%, muito longe do Protocolo de Gênero da Comunidade de Desenvolvimento da África austral e das pautas da União Africana, que propõem 50% até 2010. assim, não creio que veremos uma representação maior no novo governo.

IPS
- Qual o objetivo? Haver mais mulheres em postos de tomada de decisões?

TM- Queremos mais mulheres em posições de autoridade, não para fazer número. Temos muitas mulheres competentes que podem atuar melhor do que os homens, que fracassaram. É hora de dar oportunidade às mulheres. Há muitos exemplos aqui e na região de mulheres que se distinguiram em empresas e que podem fazer o mesmo na política. A ministra das Relações Exteriores da África do Sul, Nkosazana Dlkamini-Zuma, se distingui em círculos diplomáticos ajudando a abordar muitas disputas políticas em todo continente.


No Zimbábue há muitas mulheres capazes de assumir qualquer posto no governo, como ficou evidente pelos papeis que muitas figuras femininas nacionais já desempenham no cenário internacional. Por exemplo, a legisladora do opositor Movimento para a Mudança Democrática (MDC) Paurina Mpariwa tem um papel destacada no Parlamento Pan-africano. Lucia Matibenga liderou o Conselho Coordenador de Sindicatos Sul-africanos e atuou no conselho de administração da Organização Internacional do Trabalho. Estas são apenas umas poucas entre muitas que possuem antecedentes comprovados, e não vejo porque não deveriam estar no governo.

IPS- Mas, que diferença espera com as mulheres no governo?

TM- Uma maneira diferente de fazer as coisas. As mulheres não são tão tímidas quanto os homens. A África do Sul reconhece seu valor mantendo a fé nelas. Aproximam-se dos problemas de um modo mais empresarial e na maioria dos casos concluem as tarefas que iniciaram.

IPS- Como as questões de gênero se refletem na crise do Zimbábue? Quais são os diferentes impactos nas mulheres do colapso econômico, dos problemas de saúde, da escassez de alimentos e da violência política?

TM
- A crise tornou mais complexos os problemas de gênero. É mais provável que cada vez mais homens vejam as mulheres como objetos sexuais, devido à violência política às quais estão submetidas, que as afeta física e emocionalmente, minando a confiança em si mesmas.

IPS- Como se deveria enfocar a reconstrução dopais na abordagem desses impactos específicos?

TM- Gostaríamos que as mulheres tivessem um papel ativo na administração do país. Esta é uma oportunidade perfeita para que o novo governo lide com assuntos de igualdade de gênero e justiça de gênero. O preâmbulo do Memorando de Entendimento entre a governante União Nacional Africana do Zimbábue/Frente Patriótica e os dois partidos denominados Movimento para a Mudança Democrática reconhece a necessidade de construir uma sociedade baseada na justiça e na igualdade. Isso deveria ser reconhecido em referencia ao gênero. Deveria haver um esforço deliberado e consciente para dar às mulheres uma voz política.

IPS- Quais são suas próprias expectativas sobre o novo governo?

TM- Esta é uma oportunidade de fazer as coisas de modo diferente. O mundo está nos olhando. Devemos preparar os estatutos legislativos, desde a Constituição até leis que consagram a igualdade de gênero. É tempo de pressionar por uma representação de 50-50. as mulheres capazes estão ali e podemos tê-las em todos os setores. Aos líderes políticos dizemos que não há nada vergonhoso em consultar as várias organizações que tratam com mulheres. Podem fornecer dados que ajudem o país a avançar. (IPS/Envolverde)


(Envolverde/IPS)
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