O Projeto de Educação Política Feminista comprometeu-se ativamente com líderes regionais e nacionais durante as disputadas eleições do ano passado e as negociações que se desenvolveram desde então. Também trabalha com mulheres dentro do Zimbábue, como parte do esforço para garantir que as vozes e os pontos de vista femininos se integrem para garantir a democracia nacional.
A IPS conversou com Theresa Mugadza, advogada, ativista pelos
direitos humanos e uma das coordenadoras do Projeto de Educação Política
Feminista.
IPS- O governo designou apenas três mulheres
para o Comitê de Controle e Implementação Conjunta. O que espera da futura
representação feminina no próximo governo do Zimbábue?
Theresa
Mugadza- A composição femionina do Comitê é de 25%, muito longe do
Protocolo de Gênero da Comunidade de Desenvolvimento da África austral e das
pautas da União Africana, que propõem 50% até 2010. assim, não creio que veremos
uma representação maior no novo governo.
IPS- Qual o
objetivo? Haver mais mulheres em postos de tomada de
decisões?
TM- Queremos mais mulheres em posições de
autoridade, não para fazer número. Temos muitas mulheres competentes que podem
atuar melhor do que os homens, que fracassaram. É hora de dar oportunidade às
mulheres. Há muitos exemplos aqui e na região de mulheres que se distinguiram em
empresas e que podem fazer o mesmo na política. A ministra das Relações
Exteriores da África do Sul, Nkosazana Dlkamini-Zuma, se distingui em círculos
diplomáticos ajudando a abordar muitas disputas políticas em todo
continente.
No Zimbábue há muitas mulheres capazes de assumir qualquer posto no governo,
como ficou evidente pelos papeis que muitas figuras femininas nacionais já
desempenham no cenário internacional. Por exemplo, a legisladora do opositor
Movimento para a Mudança Democrática (MDC) Paurina Mpariwa tem um papel
destacada no Parlamento Pan-africano. Lucia Matibenga liderou o Conselho
Coordenador de Sindicatos Sul-africanos e atuou no conselho de administração da
Organização Internacional do Trabalho. Estas são apenas umas poucas entre muitas
que possuem antecedentes comprovados, e não vejo porque não deveriam estar no
governo.
IPS- Mas, que diferença espera com as mulheres
no governo?
TM- Uma maneira diferente de fazer as
coisas. As mulheres não são tão tímidas quanto os homens. A África do Sul
reconhece seu valor mantendo a fé nelas. Aproximam-se dos problemas de um modo
mais empresarial e na maioria dos casos concluem as tarefas que
iniciaram.
IPS- Como as questões de gênero se refletem
na crise do Zimbábue? Quais são os diferentes impactos nas mulheres do colapso
econômico, dos problemas de saúde, da escassez de alimentos e da violência
política?
TM- A crise tornou mais complexos os problemas
de gênero. É mais provável que cada vez mais homens vejam as mulheres como
objetos sexuais, devido à violência política às quais estão submetidas, que as
afeta física e emocionalmente, minando a confiança em si
mesmas.
IPS- Como se deveria enfocar a reconstrução
dopais na abordagem desses impactos específicos?
TM-
Gostaríamos que as mulheres tivessem um papel ativo na administração do país.
Esta é uma oportunidade perfeita para que o novo governo lide com assuntos de
igualdade de gênero e justiça de gênero. O preâmbulo do Memorando de
Entendimento entre a governante União Nacional Africana do Zimbábue/Frente
Patriótica e os dois partidos denominados Movimento para a Mudança Democrática
reconhece a necessidade de construir uma sociedade baseada na justiça e na
igualdade. Isso deveria ser reconhecido em referencia ao gênero. Deveria haver
um esforço deliberado e consciente para dar às mulheres uma voz
política.
IPS- Quais são suas próprias expectativas
sobre o novo governo?
TM- Esta é uma oportunidade de
fazer as coisas de modo diferente. O mundo está nos olhando. Devemos preparar os
estatutos legislativos, desde a Constituição até leis que consagram a igualdade
de gênero. É tempo de pressionar por uma representação de 50-50. as mulheres
capazes estão ali e podemos tê-las em todos os setores. Aos líderes políticos
dizemos que não há nada vergonhoso em consultar as várias organizações que
tratam com mulheres. Podem fornecer dados que ajudem o país a avançar.
(IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS)