Fórum Social Mundial: Contra o crime organizado

Roma, 27/01/2009 – Grupos da sociedade civil aproveitarão o Fórum Social Mundial este ano para dar novo impulso à sua campanha contra o crime organizado. Cerca de 80 mil pessoas de 150 países são esperadas para o maior encontro da sociedade civil, que acontece em Belém do Pará de hoje a 1º de fevereiro. Os participantes deste nono FSM dizem que a cooperação é chave para construir ações concretas para um mundo mais justo.

Libera, o maior grupo italiano contra a máfia, disse que a luta mundial contra o crime organizado é necessária "porque os grupos filiados à máfia estão sempre mais interligados, não têm fronteiras e, portanto, é preciso uma ação coordenada e global para lutar contra eles". Libera participa de muitas atividades contra a máfia, como a aquisição de fazendas e propriedades confiscadas de grupos vinculados com o crime organizado. Esses lugares são transformados e usados com fins sociais, como escolas e centros de reabilitação de drogados. "As ações da máfia têm uma dimensão transnacional e essa organização agora pode contar com alianças em diversos setores", disse Tonio dell'Olio, chefe da seção internacional da Libera.

O tráfico de pessoas, o comércio de drogas e armas, as eco-máfias, a exploração trabalhista e a lavagem de dinheiro podem ser combatidas com sucesso com uma "rede social global comprometida na luta contra o crime". Libera organizará um painel em Belém para promover uma rede da sociedade civil latino-americana contra a máfia. "Começando no FSM, trabalharemos para construir uma rede com associações latino-americanas que possam unir-se à idéia de justiça social e respeito à lei com desenvolvimento econômico e social", disse dell'Olio à IPS. Libera quer compartilhar sua experiência em realizar pressão política com outras organizações no Fórum Social Mundial, acrescentou.

O grupo apresentará uma lei da União Européia como modelo para uso social de bens confiscados e para fortalecer a cooperação judicial e policial no bloco. O trafico de drogas como heroína, cocaína e maconha é a maior fonte de renda das máfias. O Informe Mundial de Drogas de 2007, divulgado pelo escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, diz que esse tráfico fornece drogas amais de 230 milhões de consumidores em todo o mundo. A Europa é o segundo maior mercado global de drogas depois da América do Norte, com um valor total de US$ 1,8 bilhão. Os maiores mercados no continente europeu são Espanha, Itália e Grã-Bretanha.

Na Itália o consumo de heroína, cocaína e drogas sintéticas aumentou rapidamente nos últimos 30 anos, e agora a policia fala de "consumo maciço" destas substâncias. O tráfico está nas mãos de poderosas e bem estruturadas organizações criminosas, que não além de capital e pessoas trabalhando dentro do território também possuem alianças com grupos no exterior, como os cartéis da Colômbia, informou Libera. Segundo dell'Olio, os ganhos e o poder das organizações criminosas italianas, comumente conhecidas com a "camorra" de Nápoles, a "andragheta" calabresa ou "Cosa Nostra" da Sicília, cresceu enormemente desde que tiveram acesso ao tráfico internacional de drogas.

O narcotráfico parece ter se fortalecido pela generalizada falta de justiça social e medidas para vencer a pobreza. "Estas são, com frequência, inadequadas. Se ressentem de realismo e, portanto, estão destinadas ao fracasso", disse o presidente da Libera, Luigi Ciotti. Este sacerdote católico criou o Gruppo Abele há 30 anos para ajudar vítimas das drogas em centros juvenis de detenção. "Um olhar para as políticas de conversão de colheitas em países que produzem cocaína se verá que um hectare de coca representa ganho 10 ou 15 vezes superior ao de uma terra cultivada com café", afirmou Ciotti.

A real dimensão do problema foi subestimada, prosseguiu o presidente da Libera. "O primeiro passo para lutar efetivamente contra o crime organizado é dar uma imagem exata e transparente dos volumes de negocio, deixando claro seu real tamanho e todas as possíveis interligações e implicações", disse Ciotti. A falta de transparência alimenta a máfia, e "é por isso que precisamos da verdade", acrescentou. Entre 1997 e 2006, 7.923 pessoas, em sua maioria homens jovens, morreram na Itália pelo consumo de drogas. Libera diz que todas foram vítimas da máfia.

(Envolverde/IPS)
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