Mais de
processadoras da região tiveram de fechar e as demais 25 trabalham abaixo de sua
capacidade, segundo a Organização de Pesca do Lago Victoria, com sede em Jinja
(Uganda). A OPLV foi criada por uma convenção subscrita por Quênia, Tanzânia e
Uganda em 1994 no contexto da Comunidade da África Oriental a fim de gerir os
recursos do lago. "A quantidade de barcos pesqueiros registrados no Lago
Victoria aumentou 16% desde dezembro de 2005", disse à IPS o
secretário-executivo da organização, Dickson Nyeko. "As embarcações navegam mais
e empregam aparatos de pesca ilegais na tentativa de cobrir as necessidades das
unidades processadoras que restam na região", acrescentou.
Os políticos
devem cuidar, e conservar, das reservas do lago em todos os âmbitos da
Comunidade da África Oriental porque estão em perigo, disse Nyeko. A perca do
Nilo acusa o golpe da pesca descontrolada, segundo o secretário-executivo da
OPLV. Esse peixe "é um produto muito vendido no mundo. Sua redução apresenta um
problema especial para a sobrevivência de milhões de pessoas do entorno do lago
e que vivem na região", ressaltou Nyeko.
O comissário do Departamento de
Pesca de Uganda, Wilson Mwanza, afirmou que ano após ano a renda com a pesca
diminui: caiu de US$ 19,4 milhões para 17,3 milhões em 2007. Essa redução pode
superar os US$ 60 milhões no ano fiscal 2008/09, em relação a 2005, segundo
estimativas oficiais. As unidades processadoras "trabalham com 30% a 50% de sua
capacidade quando o custo do frete e do combustível aumenta", disse Mwanza. Já
existe uma crise alimentar em razão da alta de preços, inacessíveis para muitas
pessoas.
Em Kampala, o quilo da perca do Nilo custava US$ 0,50 e agora
subiu para US$ 3,50. muitos optaram por comer cabeça de pescado, que conseguem
nas processadoras depois que os animais são filetados para exportação à Europa.
Mas agora até a pele, os ossos e a cabeça estão escassos porque os comerciantes
encontraram novos mercados na República Democrática do Congo, República
Centro-africana e Sudão do Sul. O porta-voz do mercado e zona de desembarque de
Gaba, Mugisha Kanywani, reconheceu que o mercado desses produtos floresce nos
países vizinhos e que a população local não tem acesso a eles por serem caros.
"Inclusive a pelo atende aos congolanos e pessoas do Chade. Agora temos
dinheiro. Não vê como desenvolvemos esta área?", disse.
O porta-voz da
unidade de gestão das praias de Gaba, Dirisa Walusimbi, disse à IPS que, "há 10
anos, um pescador com 50 redes podia capturar pelo menos cem quilos de perca do
Nilo por dia. Agora, com a mesma quantidade, consegue apenas entre 20 e 30
quilos". As mulheres sobrevivem da venda de pescado na área de desembarque de
Gaba. Mas a redução do recurso as afeta diretamente. Algumas tiveram de se
dedicar à venda de lenha, que cortam nas ilhas do Lago Victoria. Saúda Namwanje,
uma das vendedoras de lenha e carvão, disse à IPS que o dinheiro já não dá para
manter o negocio de venda de pescado e que precisou mudar de ramo. A escassez de
peixes atingiu uma dimensão regional que pode se converter em fonte de
conflito.
Os pescadores cruzam os limites fronteiriços em busca de maior
quantidade de pescado. Alguns quenianos foram detidos e mantidos presos neste
país. Estima-se que mais de 300 deles invadem todos os dias as águas
territoriais de Uganda, país ao qual cabem 43% do lago Victoria. À Tanzânia
correspondem 52%. Uganda enviou navios para patrulhar o lago após acusar o
Quênia e a Tanzânia de não cumprirem os acordos sobre compartilhamento do uso do
recurso. Um informe do Projeto de Pesquisa Pesqueira do Lago Victoria indicou
que várias leis e acordos relativos ao seu uso estavam sendo ignorados.
A
captura excessiva das águas territoriais do Quênia faz com que os pescadores
passem para as de seus vizinhos, segundo o documento, que acrescenta que,
"embora a esse país correspondam apenas 6% do lago, tem mais barcos e
pescadores" do que os outros. O assunto foi discutido pelo conselho de ministros
da OPLV em outubro, que pediu urgência aos Estados-membros na criação de
mecanismos para resolver os conflitos pesqueiros, lutar contra as práticas
ilegais e destinar recursos econômicos adequados para as atividades pesqueiras.
Também pediram que certas zonas do lago fossem designadas como áreas protegidas
onde não se possa pescar, a fim de permitir a correta reprodução de peixes.
(IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS)