Costa do Sauípe, Bahia, 16/12/2008 – Os governos locais estão promovendo uma "integração na prática" que vai além do comércio dentro do Mercosul, segundo anfitriões da IV Reunião Plenária do Fórum Consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e Departamentos (FCCR) do bloco sul-americano. Uma Rede de Pesquisa Agropecuária, que permitirá o intercâmbio de tecnologias entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) com províncias e municípios do Mercosul, foi criada na reunião de ontem na Costa do Sauípe, na Bahia. O Mercosul é formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, com Venezuela em processo de integração como membro pleno. O Fórum formalizou também sua adesão à Estratégia de Trabalho Decente no âmbito dos governos provinciais e municipais, além de inaugurar uma Rede de Dirigentes Culturais locais, em busca de maior cooperação a Bahia é um dos primeiros Estados a promover a agenda do trabalho decente, um conceito desenvolvido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em defesa de empregos dignos, formais e contrários às condições de trabalho desumanas, destacou o governador Jacques Wagner em entrevista coletiva.
Perguntado pela IPS sobre o que podem
fazer Estados e Municípios para evitar que trabalhadores emigrantes dentro do
bloco continuem submetidos a trabalhos degradantes, inclusive em condições de
escravidão, Wagner disse que a área depende diretamente da administração
central, embora os governos locais possam cuidar da fiscalização. A agenda –
explicou – não depende apenas de agentes estatais, mas busca promover um diálogo
entre governos, empresários e trabalhadores para difundir "uma cultura do
trabalho decente", sobretudo agora que a crise econômica mundial pode levar a
uma maior precariedade do emprego.
No Brasil já há empresários que pedem
flexibilização das leis trabalhistas como forma de enfrentar a crise, recordou o
governador. Mas os governos locais podem executar "ações preventivas", além de
fiscalizar, disse as IPS o secretário de Relações Internacionais da prefeitura
de Belo Horizonte, Rodrigo Perpétuo. Na capital mineira foi criado um selo de
responsabilidade social para empresas que mantêm relações adequadas com seus
empregados, explicou.
Além da cooperação cultural e da Estratégia de
Trabalho Decente, a integração produtiva foi outro tema central do FCCR, cuja
reunião antecedeu as cúpulas do Mercosul, da União de Nações Sul-americanas
(Unasul), do Grupo do Rio e da América Latina e do Caribe (Calc), que acontecem
hoje e amanhã. A integração produtiva de províncias e municípios compreende o
intercambio de tecnologias agrícolas, voltadas especialmente para a agricultura
familiar. Oito convênios a respeito foram assinados ontem, além de ações nas
áreas de turismo, comércio e indústria, informou Alexandre Padilha, subchefe de
Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência do
Brasil.
Em matéria de turismo, será criado um sistema de informações
unificadas, se buscará reformar leis nacionais que restringem a livre circulação
no Mercosul e capacitar os órgãos locais encarregados do setor. O Brasil propôs
a promoção de encontros anuais de comércio exterior do Mercosul, para aproximar
produtores e compradores de todos os países do bloco. O objetivo é ampliar o
comércio dentro do Mercosul e estimular as potencialidades de seus membros, pois
se comprovou que a diversificação do intercambio realizada pelo governo
brasileiro, por exemplo, reduzindo a dependência dos Estados Unidos, é correta
diante da atual crise, explicou Padilha.
A cooperação entre províncias ou
Estados também é importante na área de saúde animal, afirmou André Puccinelli,
governador do Mato Grosso do Sul, onde foram registrados recentes focos de febre
aftosa que afetaram a pecuária e as exportações de carne, recordou. A doação de
um milhão de vacinas brasileiras contra a aftosa ao Paraguai ajudou a solucionar
o problema em seu Estado, que tem extensas fronteiras com esse país, acrescentou
Puccinelli. O FCCR está "fazendo integração na prática", afirmou o governador.
Este fórum foi criado em 2004, quando o Brasil exercia a presidência rotativa do
Mercosul, como ocorre neste semestre.
Com o FCCR, governos provinciais e
municipais se converteram em "atores políticos" com possibilidade de propor
pautas ao bloco, afirmou Padilha. "A diplomacia tem limites" na integração,
justificou. Essa participação de âmbitos subnacionais incorpora "temas
territoriais" que costumam ser esquecidos pelos governos nacionais, como o
desenvolvimento fronteiriço, as questões urbanas e as especificidades regionais,
ressaltou.
A mobilização de governantes do Norte e Nordeste do Brasil,
por exemplo, foi importante para a incorporação da Venezuela ao bloco, lembrou
Padilha. "O Mercosul era para nós algo distante", um processo que envolvia
apenas o sul do País, recordou Ana Julia Carepa, governadora do Pará. Com a
Venezuela, abriu-se outro eixo do bloco e as relações do Pará com esse país "já
dão os primeiros frutos", afirmou. Carepa coordenou ate agora o Comitê de
Governadores do FCCR, que tem a representação de 10 governadores e 10 prefeitos
de cada país-membro. Agora será sucedida por um colega argentino.
A
integração entre as grandes cidades do Mercosul avançou muito inclusive antes da
criação do FCCR, pela atuação da rede de Mercocidades e mecanismos bilaterais de
cooperação entre cidades irmãs, também de outras regiões, destacou Fernando
Pimentel, prefeito de Belo Horizonte, que coordenou o Comitê de Prefeitos. Os
serviços públicos, como coleta de lixo, transporte urbano e educação são
responsabilidades das prefeituras em todo o mundo, acrescentou.
(IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS)