Europa: Sem rumo à vista

Lisboa, dezembro/2008 – A grande crise econômica se estende e se aprofunda em todos os rincões do planeta, sem que ninguém possa dizer, com certeza, para onde está nos levando e como e quando será possível dominá-la. Como outras crises, esta se apresenta com variantes e contornos diferentes de região para região. E mesmo no contexto do Ocidente se nota diferenças notáveis entre os Estados Unidos, epicentro da crise, e os países da União Européia. Enquanto os Estados Unidos se converteram, depois da vitória presidencial de Barack Obama e do Partido Democrata, na "terra onde tudo pode voltar a acontecer", o Velho Continente continua paralisado e sem rumo à vista. Quando falta menos de um mês para o fim do atual semestre na presidência de Nicolas Sarkozy na União Européia, não é exagerado dizer que produziu muito barulho e poucas nozes, e às vésperas da passagem da presidência comunitária à República Checa, que nutre dúvidas e preconceitos sobre o futuro da UE, não parece provável que o Tratado de Lisboa será ratificado por seus 27 Estados-membros, tal como estava previsto há alguns meses. Lástima, porque a chamada estratégia de Lisboa, aprovada em março de 2000, postula um modelo social e ambiental e afirma, portanto, que é possível compatibilizar políticas sociais avançadas e de defesa dos trabalhadores com políticas ambientais rígidas, com competitividade econômica, com rigor financeiro e com inovação científica e tecnológica.

Mas, sem duvida, o Tratado de Lisboa perdeu importância e significado devido ao desastre causado pelo neo-liberalismo e pela iniciação de um novo ciclo político-econômico. Tudo está mudando aceleradamente. Agora, as soluções para enfrentar a grande crise passam, obviamente, por novos caminhos. Mas as medidas tomadas até agora na Europa não foram melhores do que as dos Estados Unidos, com o agravante de serem menos transparentes. É preocupante que muitos dirigentes europeus pareçam não ter notado ainda a dimensão dos desafios que estão se apresentando e da necessidade de unir forças para enfrentá-los.

É certo que alguns países que fizeram parte do bloco comunista da Europa Oriental e que se incorporaram à União Européia durante as últimas entradas (precipitadas) nunca se manifestaram – salvo honrosa exceção – muito europeístas. Estiveram principalmente interessados no plano da segurança (bastante teórica) que lhes dá o fato de pertencer à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), já que concebem prevalentemente a comunidade européia como uma organização de livre comércio que aboliu as barreiras aduaneiras, esquecendo que não é esse seu objetivo primário, mas o de instituir uma paz durável neste continente e dirigi-lo para uma união política.

Hoje em dia alguns desses países, devido às contingências econômicas, advertem que a pertinência à eurozona lhes pode garantir proteção diante da crise... Mas, não vêem a União Européia como uma verdadeira comunidade política. Por seu lado, os partidos de extrema esquerda, que sempre desconfiaram da que consideravam a "Europa dos trustes", nunca compreenderam a importância da integração européia para a realização das grandes transformações políticas.

Por sua vez, os partidos socialistas e social-democratas se deixaram influenciar (diria quase colonizar) pela moda neoliberal propalada pela administração de George W. Bush e a chamada Terceira Via do trabalhismo britânico. Agora, depois do fracasso de Bush e do Partido Republicano e diante da expectativa da virada que imporá o presidente eleito Barack Obama, a ideologia neoliberal e do mercado livre sem regras parecem sinais de um passado remoto. Mas, para que a esquerda européia possa oferecer uma alternativa válida ao ocaso neoliberal todos seus componentes – social-democratas, trabalhistas verdes e as de esquerda radical emancipadas das velhas utopias totalitárias – devem se mostrar responsáveis e capazes de um novo dinamismo para superar a crise econômica.

Nesse sentido, o Partido Socialista francês (de Leon Blum e François Miterrand) durante seu recente congresso em Reims, onde os líderes travaram lutas pessoais, incapazes de debaterem sobre idéias e estratégias, fazendo-se de surdos às demandas dos militantes. Isto não é bom par à Europa e menos ainda para a esquerda. Reconhecer os erros deve ser o primeiro passo para poder empreender as mudanças necessárias. (IPS/Envolverde)

* Mário Soares, ex-presidente e ex-primeiro-ministro de Portugal.


Crédito de imagem: David Simonds/ Economist.com


(Envolverde/IPS)
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