Mas, sem
duvida, o Tratado de Lisboa perdeu importância e significado devido ao desastre
causado pelo neo-liberalismo e pela iniciação de um novo ciclo
político-econômico. Tudo está mudando aceleradamente. Agora, as soluções para
enfrentar a grande crise passam, obviamente, por novos caminhos. Mas as medidas
tomadas até agora na Europa não foram melhores do que as dos Estados Unidos, com
o agravante de serem menos transparentes. É preocupante que muitos dirigentes
europeus pareçam não ter notado ainda a dimensão dos desafios que estão se
apresentando e da necessidade de unir forças para enfrentá-los.
É certo
que alguns países que fizeram parte do bloco comunista da Europa Oriental e que
se incorporaram à União Européia durante as últimas entradas (precipitadas)
nunca se manifestaram – salvo honrosa exceção – muito europeístas. Estiveram
principalmente interessados no plano da segurança (bastante teórica) que lhes dá
o fato de pertencer à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), já que
concebem prevalentemente a comunidade européia como uma organização de livre
comércio que aboliu as barreiras aduaneiras, esquecendo que não é esse seu
objetivo primário, mas o de instituir uma paz durável neste continente e
dirigi-lo para uma união política.
Hoje em dia alguns desses países,
devido às contingências econômicas, advertem que a pertinência à eurozona lhes
pode garantir proteção diante da crise... Mas, não vêem a União Européia como
uma verdadeira comunidade política. Por seu lado, os partidos de extrema
esquerda, que sempre desconfiaram da que consideravam a "Europa dos trustes",
nunca compreenderam a importância da integração européia para a realização das
grandes transformações políticas.
Por sua vez, os partidos socialistas e
social-democratas se deixaram influenciar (diria quase colonizar) pela moda
neoliberal propalada pela administração de George W. Bush e a chamada Terceira
Via do trabalhismo britânico. Agora, depois do fracasso de Bush e do Partido
Republicano e diante da expectativa da virada que imporá o presidente eleito
Barack Obama, a ideologia neoliberal e do mercado livre sem regras parecem
sinais de um passado remoto. Mas, para que a esquerda européia possa oferecer
uma alternativa válida ao ocaso neoliberal todos seus componentes –
social-democratas, trabalhistas verdes e as de esquerda radical emancipadas das
velhas utopias totalitárias – devem se mostrar responsáveis e capazes de um novo
dinamismo para superar a crise econômica.
Nesse sentido, o Partido
Socialista francês (de Leon Blum e François Miterrand) durante seu recente
congresso em Reims, onde os líderes travaram lutas pessoais, incapazes de
debaterem sobre idéias e estratégias, fazendo-se de surdos às demandas dos
militantes. Isto não é bom par à Europa e menos ainda para a esquerda.
Reconhecer os erros deve ser o primeiro passo para poder empreender as mudanças
necessárias. (IPS/Envolverde)
* Mário Soares,
ex-presidente e ex-primeiro-ministro de Portugal.
Crédito de imagem: David Simonds/
Economist.com
(Envolverde/IPS)