Presidente, o senhor deve saber que eu lhe odiei por um longo tempo. Eu sempre odiava todas as pessoas cujo último nome fosse Mao. A razão disso era que eu sempre escutava uma voz muito triste na minha cabeça dizendo-me que meu avô (o pai de minha mãe) havia sido tratado injustamente durante seu tempo. Essa voz me dizia que, por causa de meu avô, toda nossa família fugiu amedrontada de uma bela cidade para uma longínqua aldeia montanhosa. Dentro do meu coração eu concordava com aqueles que o acusavam.
Eu era feliz por não ter vivido naquela era trágica. Eu expressava meu ódio por você escrevendo na internet. Quando eu estava no colégio, rasguei em pedaços o pedido de inscrição para o Partido Comunista que alguém preencheu para mim porque eu odiava muito você. Um dia meu pai e eu estávamos conversando sobre o passado e eu amargamente lhe acusei. Meu pai olhou em meus olhos e disse:
— Eu não sei porque minha filha odeia tanto o Presidente Mao. Também
não sei porque a minha filha não consegue distinguir o bom do mal como
muitos outros. Como seus professores educaram você? Que adiantou sua
educação?
Olhei para meu pai com surpresa e fiquei zangada com ele por defender você. Meu pai olhou-me e disse:
— Quando você ficar mais velha e tiver consciência para conhecer o
sofrimento do pobre, se você entender que "como humanos nós devemos
também ter aspirações" e se você aprender mais sobre a história moderna
da China, você mudará sua mente. Minha filha, você é ainda muito
jovem!
Mais tarde, me tomei professora secundária e preferi ir para uma
distante região montanhosa para ensinar por dois anos. Eu gostava
imensamente daqueles estudantes que eram pobres, mas muito inocentes e
dóceis. Contudo, (durante os dois anos que permaneci lá), eu me parecia
muito como uma pequena pétala flutuando nas vastas e profundas
montanhas.
Quando eu usava meu magro salário para ajudar alguns estudantes que não
podiam pagar a escola, feriam-me profundamente meus sentimentos de
impotência e desespero. Eu não podia entender o porque da cena de
"tanta carne e vinho apodrecendo dentro daquelas portas vermelhas e no
mesmo instante pessoas estavam geladas até a morte nas ruas"1
que aparecia diante de meus olhos. Naqueles dias eu sempre caminhava na
estrada da montanha visitando uma ou outra casa pobre, tentando
persuadir meus estudantes a voltar para a escola. Um dia o pai de meu
aluno Liu Shug-song, que era um carteiro rural, caiu de exaustão
enquanto entregava as cartas. Depois a mãe de meu aluno foi raptada e
vendida em Jiangsu. Com meus olhos lacrimosos eu via as luzes de neon
piscando nas cidades e os grandes edifícios das cidades com os
funcionários entrando e saindo...
Após dois anos retornei à cidade e voltei para minha querida escola, em
2004. Quando me formei, um determinado jornal assustou-me. Um estudante
recordava a história de seu primo de 15 anos que havia sido sequestrado
aos 14 anos para trabalhar numa fábrica de tijolos. Seu depoimento no
jornal dizia: "Meu
primo e outros eram forçados a carregar tijolos quentes em suas costas
tão logo os tijolos saiam do forno. As costas do meu primo estavam
queimadas e cheias de cicatrizes... Meu primo e os outros não comiam o
necessário e eles raramente, por dias, sequer se alimentavam com comida
cozida... Eles começavam a trabalhar na madrugada e continuavam até 11
horas da noite... Meu primo era espancado e tinha marcas por todo seu
corpo... Finalmente ele fugiu escondendo-se num granel de cereais...
Ele mudou totalmente. Não se atrevia sair de casa e agia como se fosse
um retardado."
Depois que li o jornal eu pensei que meu estudante tivesse tido um pesadelo depois de ter assistido um drama chamado O Servente Aprendiz. Eu estava tanto alegre como zangada. No dia seguinte eu perguntei ao estudante com um sorriso na face:
— Conte para a sua professora, sua história veio de um pesadelo?
Meu estudante respondeu firmemente:
— Professora, é uma história real. Se a senhora não acredita em mim, eu
levarei a senhora à casa da minha tia para ver meu primo.
Vendo seus olhos zangados eu fiquei completamente abalada. Depois das aulas eu fui com ele até a casa da sua tia.
Quando entramos naquela casa amiga vimos um rapaz praticando jogos no
computador e eu notei diversas cicatrizes em uma de suas mãos.
Obviamente ele havia sido brutalmente torturado. Um senhor idoso,
aparentemente o avô do rapaz, aconselhou-me a não mencionar nada sobre
a fábrica de tijolos com o rapaz.
Eu notei uma estatueta de Mao colocada em cima da televisão deles e um
retrato de Mao colocado na parede. O velho começou falando comigo como
Mao Tsetung combateu e venceu a revolução para os pobres e como sua
geração fora voluntariamente tão devotada na construção de
reservatórios, fábricas e pontes. Ele disse que durante os tempos de
Mao uma tragédia como a que um de seus netos sofreu jamais poderia
acontecer.
— Sim, éramos pobres durante o tempo de Mao, porém sentíamos que
tínhamos uma base sólida e estávamos cheios de esperança no futuro. Não
comíamos muita carne, mas cada garfada era muito deliciosa. Os altos
funcionários no tempo de Mao eram honrados e trabalhavam para servir ao
povo. Depois dele você só encontra pornografia, drogas ou jogatinas...
O velho senhor olhou-me e disse:
— O Presidente Mao morreu e o quanto ele lutou tão arduamente para nós está tudo perdido agora.
Eu murmurei:
— Mas nós éramos muito pobres durante o tempo de Mao.
Ele olhou-me e ternamente disse:
— Professorinha, você sabe o que tínhamos em 1949? O nosso grande
Presidente Mao liderou a nós, chineses, para furtar e enganar os
outros? Não é verdade que o único caminho para progredirmos era
trabalhar extremamente duro?
Eu via o desespero nos olhos daquele senhor idoso e não pude proferir
uma única palavra. Esta foi a primeira vez que eu ouvi um velho homem
falar sobre a grandeza de Mao Tsetung. Também esta foi a primeira vez
que eu nada podia responder àquele senhor que dizia para mim o que
representou o grande líder Mao para o povo chinês em sua própria
experiência de vida. Então eu disse para ele:
— Meu pai disse a mesma coisa para mim.
O velho senhor continuou:
— Professorinha, as pessoas que têm raiva de nosso Presidente são pessoas más!
Subitamente senti tamanha vergonha como se ele tivesse esbofeteado
minhas faces. Eu me perguntei: "Também sou uma má pessoa? Teria eu me
tornado uma cúmplice das forças do mal?" Caminhei para fora da casa e
súbito senti toda minha face cheia de lágrimas...
Eu estava sem fala. Eu, que tenho a habilidade de falar e argumentar, sem fala...
Pela primeira vez eu comecei examinar minha própria consciência. Era ou
não verdade que meu ódio por Mao Tsetung estava baseado no próprio
interesse estreito de uma simples família? Não era verdade que eu
odiava Mao Tsetung simplesmente porque ele fez meu avô capitalista
sofrer? Não era verdade que eu odiava Mao Tsetung porque eu poderia ser
uma rica princesa nascida com incomensurável riqueza? Não era verdade
que eu odiava Mao Tsetung, pois respondia a "literatura de protesto"2
e todos os seus anos de denúncia contra Mao? Não era isto por causa da
minha ignorância? Compreendi, pela primeira vez, porque meu pai nunca
falou negativamente qualquer coisa sobre Mao. Também compreendi porque
meu pai falou tão cordialmente sobre como alguém tinha de pagar um
preço alto quando atacasse uma pessoa literalmente3.
Comecei assim a entrar no mundo de Mao Tsetung. Eu iniciei lendo o que
era colocado em vários sítios na internet — os mesmos que eu desprezava
por seus louvores a Mao. Eu li Em defesa de Mao Tsetung. Li também Lavar os pratos ou estudar,
escrito por um estúpido porcalhão. Eu estava ávida por estudar
intensamente a moderna história da China. Também estudei como os
comunistas combateram os japoneses (no passado eu somente soube como o
Kuomintang lutou contra os japoneses e conhecia muitos de seus heróis
de guerra).
Fui à Livraria Xin-hua e comprei livros de Mao Tsetung. Até fui ao New Knowledge Book Mall comprar os quatro volumes das Obras Escolhidas
de Mao Tsetung e comecei a estudar seu trabalho... Tão logo entrei no
mundo de Mao Tsetung, fui sacudida pelo poder de sua grande
personalidade. Agora eu sei que as palavras que meu pai sempre falava: "como humanos nós também devemos ter aspirações"
eram palavras de Mao. Agora eu entendo porque meu pai, um antigo
kuomintanguista, tinha tão grande respeito por Mao Tsetung. Também
agora entendo porque depois de trinta anos da morte de Mao Tsetung
existem tantas pessoas que inexoravelmente ainda o amam e o seguem.
Neste verão eu fui a Shaoshan4
sob um calor de 38°; eu estava com um buquê de flores nas mãos entre
muitas outras pessoas numa praça onde havia erguida uma estátua de
bronze de Mao. Eu escutava muitas vezes repetido grito: "Viva o
Presidente Mao!". Olhando ao redor eu via as vagas de pessoas que, como
eu, permaneciam ali, respeitosamente me verguei três vezes para o nosso
Presidente. Meus olhos estavam cheios de lágrimas. Presidente, você
olha para mim com tanta bondade e eu não posso mais me conter de
soluçar e peço-lhe desculpas...
Tempos depois, num lugar da Ilha Laranja5 eu calmamente recitei estas palavras: "Pergunto ao céu quem guiará o destino da humanidade"6.
Caminhei e me sentei em frente ao alto edifício da Primeira Escola de
Professores de Changsha, onde Mao estudou. Eu vi a impressionante
inscrição com suas palavras que dizia: "Para ser um professor do povo é preciso primeiro ser um estudante do povo". Eu meditei sobre as palavras do poema de Yang Chang-ji7,
expressando sua determinação de educar líderes para o futuro da China.
Eu me recordei do que você falou sobre como alguém pode treinar seu
corpo como uma forma de desenvolver sua mente e espírito8.
Eu toquei a mesa e a cadeira que você certa vez usou e vi o poço em que
você se banhava. Eu também me recordei do que você escreveu quando
jovem: "A primavera chegou, só quando eu falo os insetos começam a
pipilar".9
Presidente, quando ao mesmo tempo eu vi o pobre ficar mais pobre, o
rico mais rico e continuarem falando em desenvolvimento, eu comecei a
entender porque algumas pessoas têm verdadeiro ódio de você (aqueles
elitistas que mais lhe odeiam são os mesmos que se degradaram até o
ponto de não ter mais retorno). Eu estou envergonhada porque eu era um
lixo humano como eles. Compreendi isso quando a polarização alcançou
tal extremo que falar em desenvolvimento é simplesmente uma hipocrisia
inútil! O que esta elite está fazendo é trapacear o povo no sentido de
manter para sempre seu status elitista e condenar os pobres para sempre
serem seus escravos. O que eles estão fazendo é concretizar o que os
reformadores desavergonhadamente propagam: "Como alguém pode gozar a
vida sem que o povo sofra?".
Presidente, hoje quando nós vemos a verdade, a bondade e a beleza serem
esquecidas e, ao mesmo tempo, a vergonhosa indignidade e a maldade
sendo louvadas, quando nós vemos a cultura dos traidores sendo
promovida, quando as pessoas patriotas, que são genuinamente pelo povo,
não poderem levantar suas cabeças, quando nós vemos a arrogância dos
funcionários corruptos e sem vergonha do governo e os magnatas, lá do
alto, olhando-nos com grande desprezo, enquanto o povo, lá embaixo,
está sofrendo terríveis maltratos, hoje, quando vemos nosso país e povo
enfrentando o perigo e a crise, quando toda a nação está obcecada pelo
dinheiro, quando a justiça e a probidade foram para o esgoto, quando
nosso desenvolvimento está seriamente ameaçado e nossos recursos
energéticos estão indo água abaixo, eu calmamente digo para você:
Presidente Mao, eu devotarei o resto de minha vida para promover seu
pensamento, porque eu entendo que espalhando seus ensinamentos é a
maneira de resguardar nossa dignidade humana e a qualidade de nossas
vidas — "como humanos nós devemos ter aspirações"! Difundir seu
ensinamento significa também guardar e defender o futuro de nossa
nação e de nosso povo.
Presidente, eu desejo lhe falar calmamente: se eu tiver que ter outra
vida depois desta, mesmo sabendo que eu sou uma mulher, eu quero montar
no lombo de um cavalo e continuar lutando suas batalhas.
Da Net do povo: http://bbs1.people.com.cn
2 de maio de 2008
*Trechos do texto Como uma jovem professora conseguiu compreender Mao e os ensinamentos de Mao, publicado no sítio oficial do Diário do Povo, da China, e traduzido para o inglês por Pao-yu Ching.
1.
Esta é uma velha frase comumente usada para descrever a polarização de
uma sociedade. Enquanto o rico tem muita carne e vinho e o pobre não
tem casa e congela na rua.
2. A
chamada "literatura de protesto" era muito popular quando a Reforma
começou. O governo escancarou as portas para as pessoas escreverem
sobre suas histórias de sofrimento durante a Revolução Cultural.
3.
A tradução direta é "nunca atacar um literato". Isto significa que o
pai estava dizendo que Mao Tsetung foi denunciado porque ele atacava os
literatos.
4. Lugar onde nasceu Mao.
5. Pequena ilha no Rio Xiang onde o jovem Mao costumava nadar.
6. Este é um verso do poema de Mao "Primavera em Xin Yuan"
7.
Yang Chang-ji foi professor de Mao Tsetung na Primeira Escola de
Professores de Chang-sha. Mao tinha grande consideração com Yang.
Posteriormente Mao se casou com a filha de Yang — Yang Kai-hui — que
foi assassinada pelo Kuomintang
8. Mao era reconhecido por usar a experiência da exaustão física como uma maneira de fortalecer sua determinação.
9. Pertence ao poema que Mao escreveu quando tinha 16 anos de idade.