A LEMBRANÇA de declarações otimistas e presunçosas de governantes que acabam por se meter em apuros parece atitude de abutre, de urubu que bica o cachorro morto. Além do mais, governantes, em especial autoridades econômicas, têm mesmo o dever de atenuar pânicos, manias e crashes.
Mas, depois dessas frases edificantes, é bom lembrar o óbvio, que a parolagem dos governantes é sempre política, quando não politicalha. Recordar, pois, é viver, e é política. Assim como era política o fraseado de Henry Paulson contra críticos do descalabro econômico americano. Paulson é o secretário do Tesouro dos EUA, responsável por administrar o estouro de duas décadas de bolhas e a irresponsabilidade econômica de George Bush. No setor privado, entre outras posições como presidente do Goldman Sachs, foi também adepto ou lobista de políticas regulatórias que foram a cereja do bolo da crise. Isto era Paulson:
"Não acho que [a crise imobiliária] vá causar um problema sério. Acho que [o efeito] vai ser muito limitado" (abril de 2007, para empresários).
"A [situação] da economia global é de longe a mais forte que já vi na minha vida" (julho de 2007).
"Houve um sinal de alerta. Agora ocorre uma reavaliação do risco, mas a economia está muito saudável" (agosto de 2007).
"Quando há excessos, excessos que vimos no mercado imobiliário, uma correção é inevitável. Podemos proscrever as leis da gravidade? Quanto o governo pode fazer? Tenho grande confiança em nossas instituições financeiras. Nossos mercados são resistentes, flexíveis. Nossos bancos e bancos de investimento são fortes. Estou muito confiante de que, com a ajuda dos reguladores e dos participantes do mercado, vamos dar um jeito de sair disso" (março de 2008, em entrevista à Fox News, após subsidiar a venda do falido Bear Stearns ao JPMorgan).
"O pior provavelmente já passou. Não há dúvida de que as coisas vão muito melhor agora do que em março" (maio de 2008, em entrevista ao "Wall Street Journal").
"O estímulo fiscal vai dar apoio à economia enquanto enfrentamos a correção imobiliária, o tumulto nos mercados e a alta do preço da comida e do petróleo... Mas esperamos ver a economia crescer num ritmo mais forte antes do final do ano" (maio de 2008, em discurso para empresários, em Washington).
"Se você tem uma arma de brinquedo no bolso, talvez você tenha de sacá-la. Mas, se você tem uma bazuca -e se as pessoas sabem que você a tem-, provavelmente você não terá de usá-la" (julho de 2008, quando explicava a senadores republicanos uma possível ajuda federal a Fannie Mae e Freddy Mac).
"Não temos plano algum de injetar dinheiro nessas duas instituições" (agosto de 2008, à NBC).
"Jamais considerei apropriado colocar o dinheiro do contribuinte na mesa a fim de [resolver] os problemas do Lehman Brothers (14 de setembro, em entrevista na Casa Branca; o banco de investimento quebraria no dia seguinte).
"Estamos falando de centenas de bilhões de dólares -isso precisa ser grande o bastante para fazer diferença e ir ao coração do problema (19 de setembro de 2008, explicando a repórteres o pacotão pró-bancos).