Sempre me
surpreendeu como algo inusitado os profissionais de desenvolvimento, seja em
agências governamentais de desenvolvimento, instituições multilaterais, ONGs e
praticantes de fundações comunitárias viverem, ao que parece, em universos
paralelos. Em qualquer reunião de peritos em desenvolvimento aparece muita
discussão sobre quais instituições podem levar adiante e manter o processo de
desenvolvimento; no entanto as fundações comunitárias são raramente mencionadas.
Aqui defino desenvolvimento como o progresso de um conjunto de variações que,
como um todo, mede a qualidade de vida. Poderíamos discutir sobre a inclusão de
quais variáveis específicas, mas o objetivo é determinar o que torna a vida das
pessoas mais gratificante.
Enquanto os profissionais do desenvolvimento
raras vezes mencionam as fundações comunitárias, os profissionais das fundações
comunitárias dificilmente batem nas portas das reuniões de desenvolvimento. Ao
contrário, parecem envolvidos em disputas internas. Nos Estados Unidos, onde
está a metade das fundações comunitárias do mundo, os profissionais estão
finalmente aparecendo após uma longa, demorada e basicamente inútil discussão a
respeito se os detentores são os da comunidade onde trabalham, ou os doadores
que fornecem os recursos para servir essas comunidades. Por que é tão difícil
concordar que ambos são detentores e seguir em diante?
No exterior, onde
o número de fundações comunitárias em alguns países está estourando, o foco na
comunidade tem permanecido mais centralizado. O debate, então, tem sido se as
áreas locais pobres têm os recursos para dar início e, sobretudo, sustentar as
fundações comunitárias. Este debate tem polemizado as discussões sobre ajuda
estrangeira na sustentabilidade das fundações comunitárias. A resposta, da forma
como estamos aprendendo, parece ser a de que existem recursos não descobertos
nas mais miseráveis comunidades e que os recursos estrangeiros podem ter um
papel legítimo como catalisadores e sustentadores. Isto é, caso a liderança da
fundação for vista "como parte da comunidade".
Se as fundações
comunitárias e a comunidade em desenvolvimento são como "estranhos na noite",
então está na hora de juntarem-se, saírem e juntas darem um passeio. Qualquer
casamenteiro que se preze poderá ver que elas têm muitas coisas em comum. Em
primeiro lugar, as fundações comunitárias geralmente abrangem uma área
geográfica gerenciável. Junto com o conhecimento profundo delas é imprescindível
entendê-las a fim de se ter condições de desenvolvê-las de forma a fincar raízes
sólidas. Somando-se à estes três atributos das fundações comunitárias a
combinação adequada ao desenvolvimento parece ser boa demais para ser
verdadeira. As fundações comunitárias de certa forma são propriedades das
comunidades: a liderança delas vem da comunidade e suas prioridades são
definidas pela própria comunidade e não impostas por pessoas de fora.
No
entanto, há um quinto atributo irrefutável. Hoje em dia somos bombardeados por
filantropos de risco alegando que a grande diferença entre eles e o velho estilo
de filantropia tradicional é que eles entram nas suas iniciativas com uma
estratégia de saída embutida. Isto ajuda a reduzir a dependência e ficar atolado
na rotina de colocar recursos e fazer esforços contínuos não sustentáveis. Este
não é o lugar para debater os méritos da filantropia de risco direta, mas vale a
pena assinalar que as fundações comunitárias podem ser as intermediárias no
processo de desenvolvimento com este precioso atributo: uma estratégia de saída
embutida no processo de filantropia.
Todos nós, na filantropia
tradicional, filantropia de risco e desenvolvimento, temos medo de criar
dependência e ficarmos presos ao assistencialismo com esforços insustentáveis.
As fundações comunitárias quase que por definição têm como objetivo atingir
níveis de auto-suficiência gerados por meio de recursos vindos da comunidade.
Eles fazem isto para se assegurar que a fundação será orientada por líderes
comunitários, propriedade da comunidade e terá as próprias prioridades definidas
pela comunidade. Quanto mais e melhor os profissionais de desenvolvimento
entenderem a comunidade, um maior fluxo de recursos poderá ser canalizado para
elas. Isso é o que eu chamo de um encontro de grandes resultados!
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Barry D Gaberman é ex-vice Presidente da Fundação Ford. Pode ser contatado no Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
(Envolverde/Rede Gife)