O acontecimento é tanto simbólico quanto político: No domingo, 28 de setembro, o primeiro ministro chinês, Wen Jiabao, inaugurou a linha de montagem do A320, instalada pela Airbus em Tianjin, cidade portuária de 10 milhões de habitantes, a 100 quilômetros de Pequim. Assim se concretiza o acordo assinado em dezembro de 2005 que prevê esta implantação em troca de uma encomenda recorde de 150 aviões.
Apresentada pelo presidente da Airbus, Thomas Enders, "como uma etapa e um trampolim para o desenvolvimento futuro na China e na região", esta primeira fábrica fora da Europa - as outras são em Toulouse e em Hamburgo (Alemanha) - ilustra a estratégia do grupo: implantar-se perto dos seus clientes, em países com baixos custos e fora da zona do euro.
Será necessário esperar até junho de 2009 para que o primeiro exemplar seja entregue, quando o ritmo se acelerará progressivamente até atingir quatro aviões por mês em 2011. A prioridade é demonstrar que estes aviões "made in China", destinados ao mercado interno, atendem às exigências dos fabricantes de aviões. "O A320 montado na China será idêntico aos montados na França e na a Alemanha. Não produzimos um avião low cost", insiste Marco Bertiaux, vice-presidente da Airbus responsável pela cooperação com a China. A fábrica de Tian Jin é uma cópia da fábrica de Hamburgo.
Todas as partes destinadas à montagem são enviados a Hamburgo antes de chegar por mar à nova fábrica, onde chegam após um ou dois meses de mar. Serão os chineses - a cidade de Tianjin e o grupo aeronáutico AVIC - os acionistas que controlam 49% da fábrica ao lado da Airbus (51%), que financiarão o transporte e a construção das instalações. Contudo, o fabricante de aviões europeu conservará a propriedade exclusiva do centro de entrega, onde os aviões serão entregues aos clientes. Esta será uma maneira de garantir a qualidade dos aparelhos e de conservar a confidencialidade dos pedidos. A formação de 250 chineses contratados para esta fábrica, ao lado de uma centena de estrangeiros é muito rigorosa. Compreende seis meses de treinamento em Hamburgo ou Toulouse após um período para o aprendizado de inglês.
A Airbus tem ainda a ambição de fabricar as asas deste avião no país, para assim racionalizar a produção. A cobertura das asas do A320 será fabricada em Xi An, antes de ser enviada à Grã-Bretanha para ser montada e retornar à Tianjin. A proposta é fazer a indústria chinesa participar com até 5% no programa do futuro A350 XWB.
Isto porque o desenvolvimento de parcerias é obrigatório para poder atender as encomendas de aviões. "Passaremos de 70 milhões de dólares (48,5 milhões d' euros) de suprimento na China em 2007 para 200 milhões em 2010", adianta o Sr. Bertiaux, o que deverá permitir ao fabricante de aviões europeu alcançar o nível da Boeing, muito mais presente. Todavia, o grupo americano ainda não instalou uma linha de montagem na China.
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA ARRISCADA?
Por trás cada parceria surge a questão do risco da transferência de tecnologia, visto que Pequim deixa claros seus planos de incomodar a dupla Airbus-Boeing lançando um modelo de longo curso para mais de 150 passageiros até 2020. Este risco de transferência é considerado inexistente para uma fábrica que vai apenas montar; as partes e sistemas já chegam inteiramente prontos para serem juntados uns aos outros.
"Não é porque você sabe montar um avião que você pode conceber um", afirma Stéphane Albernhe, consultor-sênior da Roland Berger. O principal para um construtor de aviões é guardar "o controle da arquitetura global do projeto".
A despeito de tudo, todos notam a chegada de um novo concorrente, tão motivado como a China, que vai tornar-se o segundo mercado aeronáutico do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e com pelo menos 3.000 novos aviões daqui vinte anos. A crise atual não parece alterar estas previsões.
Domínique Gallois | Tradução de Argemiro Pertence