Toda a evidência indica que o acesso a serviços de saúde
básica e educação foi assegurado na China antes do crescimento econômico que
começou nos anos 80 e, de fato, isso pode ter sido uma das razões desse impulso,
não o contrário, afirmou. As novas estimativas do Banco Mundial sobre pobreza
divulgadas no mês passado revelam que 1,4 bilhão de pessoas no Sul em
desenvolvimento (uma em cada quatro) viviam com menos de US$ 1,25 por dia,
contra 1,9 bilhões (um em cada dois) de 1981. a atual população mundial é de
aproximadamente seis bilhões de pessoas.
"Os novos números mostram que a
pobreza se propagou no mundo em desenvolvimento nos últimos 25 anos mais dos que
se estimava previamente, mas, também indicam que houve um forte progresso,
embora regionalmente desigual, para a redução da pobreza em geral", disse o
Banco Mundial. Segundo a ONU, concordando com o Banco, "a maior parte da queda
ocorreu na Ásia oriental, particularmente na China. Outras regiões tiveram
reduções muito menores na taxa de pobreza, e apenas diminuições modestas no
número de pobres", afirmou um novo estudo das Nações Unidas sobre os Objetivos
divulgados no início deste mês.
Na África subsaariana e na Comunidade
Britânica de Nações (Commonwealth), o número de pobres aumentou entre 1990 e
2005, indica o estudo da ONU. Em uma nova pesquisa divulgada ontem, às vésperas
da reunião de alto nível da ONU sobre os Objetivos do Milênio prevista para
quinta-feira, a Social Watch (Controle Cidadão) disse que, contrariando as
propaladas informações de que a pobreza diminui rapidamente, a deficiente
cobertura das necessidades básicas para sair desse flagelo persiste. "E mais,
está aumentando, apesar do significativo crescimento econômico da maioria dos
paises em desenvolvimento".
O Índice de Capacidades Básicas (ICB) de
2008, divulgado pela Social Watch, diz que a maior parte da população mundial
vive em paises com indicadores sociais paralisados ou de avanço muito lento – o
que não lhes permitirá atingir um nível aceitável na próxima década – ou em
países sobre os quais não há informação confiável. Os progressos em indicadores
sociais básicos diminuíram no ano passado em todo o mundo e, sob a atual
tendência, as metas acordadas internacionalmente de redução da pobreza ate 2015
não serão atingidas, a menos que ocorra uma mudança substancial, acrescenta o
ICB.
A África subsaariana, por exemplo, apesar de seu recente e notável
crescimento econômico, apresenta tão lento avanço nos indicadores sociais que,
neste passo, somente atingiria um nível aceitável do ICB no século XXIII,
acrescenta o estudo. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que as atuais
crises climática, do petróleo e dos alimentos ameaçam o êxito dos Objetivos. "O
benévolo ambiente para o desenvolvimento que prevaleceu desde os primeiros anos
desta década, e que contribuiu para o sucesso ate esta data, agora está
ameaçado", disse Ban no mês passado.
"A lentidão econômica diminuirá a
renda dos pobres, a crise alimentar aumentará o número de famintos no mundo e
empurrará milhões para a pobreza, enquanto a mudança climática terá um impacto
desproporcional nos pobres", alertou o secretário-geral. Ban afirmou que espera
para a próxima reunião de alto nível a apresentação de novas iniciativas para
atender os problemas nas áreas da saúde, pobreza, crise alimentar e mudança
climática.
Consultado se as últimas estimativas sobre a redução da
pobreza na China estavam erradas, Bissio disse à IPS que "a atual tendência da
pobreza é difícil de determinar" nesse país. "Agora temos, como resultado de um
estudo mundial crível, as cifras da pobreza para 2005, mas todos os valores
anteriores eram meras estimativas", acrescentou. Alem disso, disse que na
transição para uma economia de mercados a renda pode crescer sem mudar
efetivamente a vida das pessoas.
No sistema de comunidades rurais
chinesas, milhões de camponeses eram auto-suficientes. Agora, recebem um
salário, mas, também precisam pagar a comida que antes tinham gratuitamente,
explicou Bissio. "Em termos de entrada de alimentos, nada mudou, mas em termos
da economia formal a renda total registrou aumento tanto no dinheiro que recebem
quanto no que pagam", acrescentou. A Social Watch não diz que a pobreza não
diminuiu na China. "Apenas afirma que a situação é complexa e não há dados
suficientes para analisá-la", ressaltou. O Banco Mundial considerou as economias
da China e da Índia muito maiores do que mostram novas estimativas, acrescentou.
Shaida Badiee,diretora do Grupo de Informação sobre Desenvolvimento do Banco,
afirmou que "os dados nunca são perfeitos, embora melhorem com o tempo. O Banco
Mundial trabalha constantemente com sócios nos paises em desenvolvimento para
melhorar a qualidade da informação e o acesso a dados", acrescentou.
(IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS)